ENTREVISTA PARTE III - O campeonato e a qualidade do jogo do Paços de Ferreira provam que Pepa é mais do que um especialista a lutar com a angústia do fundo da tabela e vencer, e ele não esconde que queria mostrar mais ainda
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Em fim de contrato, Pepa mantém o futuro em aberto. Diverte-se com o namoro crónico do Vitória de Guimarães aos treinadores lançados no escalão principal na Mata Real, como Paulo Sérgio, Rui Vitória ou o atual, João Henriques. Quando decidir, "as pessoas do Paços de Ferreira serão as primeiras a saber".
Aos 40 anos, o antigo avançado que começou a treinar as escolinhas do Sacavenense sente-se preparado para "lutar por títulos" e feliz por mostrar que não é apenas especialista em evitar descidas, apesar dessa ter sido a tarefa em três das cinco épocas na Liga NOS, com destaque para a salvação épica do Tondela, em 2016/17.
Na época passada, quando se viu em Paços de Ferreira, pensou: outra vez um aflito? Não estava farto, depois de Tondela?
- Sem fugir à questão, é assim: é verdade. Houve ali uma situação gira. Quando fui despedido do Moreirense, vinha de subidas na Sanjoanense, no Feirense, ou seja, da distrital para a II B; depois passei para as ligas profissionais e subimos à I Liga e no ano em que saio de Moreira para Tondela, na última jornada, as duas equipas podiam ter descido. Imagine: um treinador a começar carreira fica ligado a duas descidas! Isto é um carimbo, logo. Só que aceito o desafio do Tondela, em último lugar.
Porquê?
- Porque sou assim, gosto de desafios, não tenho receio. Era uma oportunidade de dar continuidade ao meu percurso. Admito que pensei: por favor, não vão descer as duas equipas onde estou, não pode! E o Moreirense ganhou ao FC Porto, em casa, e o Tondela não desceu por um golo. Isto dava um filme! Depois do último ano, houve uma altura em que senti... Será que não tenho mercado, que não vou ter um projeto cujo objetivo não seja a permanência? Porque é muito desgastante, é verdade. Além disso, há aquele estigma: esse treinador luta para não descer. Ah, pois luta! Vai começar por onde? Eu já lidei com muitas derrotas, com cinco, seis derrotas seguidas. Fez bem ao meu crescimento. Para não abanar, não andar ao sabor do vento. Ou seja, estou a explicar tudo para dizer que sim, gostava de ter um desafio para ganhar títulos. Gostava muito.
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Onde se vê, na próxima época?
- Acima de tudo, num sítio onde me desejem muito e, se possível, lutar por títulos. No entanto, reforço isto: eu nunca atropelei ninguém na vida. Andar a oferecer-me a clubes, isso não existe. Em Portugal os cinco que todos querem são Benfica, FC Porto, Sporting, Braga, Vitória de Guimarães. Mas, e só existe Portugal? Não há todo um mundo lá fora de competitividade, de condições e jogadores de excelência? Nós é que estamos aqui no conforto da nossa comida, o nosso clima, a nossa língua. Outra prioridade, acima de todas: a família. Sinto-me preparado? Sinto. Gostava que acontecesse? Gostava. Se não, é como lhe digo: onde me sentir bem.
Nesse mundo lá fora, o que o seduz?
- Não escondo que já tive abordagens para fora, é normal. Para mim, Inglaterra e Espanha têm as melhores ligas do mundo.
Já teve acenos de lá?
- (ri) Já houve algumas conversas, mas não me tiram o sono. Em termos concretos, zero. O que me enche de orgulho é que as coisas estão a ser bem feitas. Não caí aqui de paraquedas. Tenho muito orgulho do que está para trás. Às vezes, é preciso relembrar: comecei onde? Mais baixo era impossível: era uma equipa que nem competia. Eram gordinhos, gordinhas, meninos, meninas, treinávamos duas vezes por semana. E a minha paixão para ir para o treino era a mesma que tenho agora.
Há um clube que está mesmo atrás do Paços de Ferreira e já tem vindo cá buscar treinadores para projetos europeus.
- Tem história, é verdade. (sorri) Pelo menos, dois. Olho com naturalidade e com orgulho. É sinal de que estão a valorizar o trabalho feito.
Vê-se aqui a experimentar a Conference League?
- Sim, mas antes temos de a conquistar e vamos atrás disso com tudo.
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