O Portimonense emprestou Bruno Costa; o Braga cedeu Luther Singh, cúmulos de generosidade para o sucesso de um Paços de Ferreira que começou a ganhar corpo no fundo da tabela, na época passada
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Pepa assume o papel que teve no namoro a jogadores-chave como Stephen Eustáquio, Bruno Costa ou Luther Singh, mas faz questão de sublinhar que a construção deste Paços de Ferreira não se esgota nas ideias dele. Há um processo de recrutamento que o precede, um "trabalho fantástico" de definição de alvos que permitiu reformular o plantel, a meio da época passada, quando a urgência era evitar a descida.
Começou aí este fenómeno candidato a levar à recém-criada Conference League o emblema que também esteve na primeira edição da Liga Europa.
Deu muito trabalho construir isto?
- A Direção teve um trabalho fantástico em janeiro do ano passado. Fizemos aqui ajustes que foram fundamentais. Entraram cinco jogadores que nos vieram acrescentar qualidade de treino/jogo, mais opções, competitividade interna, e depois houve um compromisso de tentar "agradar" ao treinador, mantendo-os e reforçando com outros que iam ao encontro da forma como gosto de trabalhar, sem cometer loucuras. Não é pede, toma lá. Trata-se de encontrar um equilíbrio, não queimar fichas. O Paços não se pode dar ao luxo de errar. Acontece, estamos cá todos para assumir o erro. Temos é de trabalhar muito para errar o menos possível, espremer ao máximo o que temos é o nosso trabalho.
Tem jogadores que não são do Paços de Ferreira, como Bruno Costa e Luther Singh. O campeonato tem clubes assim tão generosos para emprestarem tanto talento?
- Sou da terra das melancias, melões, meloas, lá perto de Almeirim. Se eu tiver uma estufa e lhe for dar uma melancia, vou dizer que é boa e depois de abrir você rapidamente vê se tem sumo, se não tem, só pelo olho. Eu, pelo menos. Os jogadores é igual. Com o devido respeito, não estou aqui a criticá-lo, mas, o que é que o Bruno [Costa] fez na I Liga, ao ponto de ser assim tão... fez pouco. Com muitos ou poucos minutos, fez pouco.
Teve olho para aquele melão, cedido pelo Portimonense...
- Insisti muito, pedi muito. Entrei na negociação, não de dinheiros, não me meto nisso, mas na parte desportiva de ajudar a convencer o jogador, explicar o que pretendia dele, como poderíamos encaixá-lo na nossa ideia de jogo. Houve ali um namoro, algum tempo antes do casamento.
Foi difícil namorá-lo? Ele parece muito feliz, aqui.
- Não. Foi das coisas mais importantes na nossa conversa, ele voltar a ter alegria a treinar e a jogar. E está a fazer uma época... ele e não só, porque o coletivo realça as individualidades, como o Luther, que referiu. Acima de tudo está o grupo de trabalho. E são jogadores emprestados. O próprio Luther nunca fez uma época assim muito regular e está a ser dos alas mais desequilibradores do campeonato. Entre outros.
Stephen Eustáquio foi o primeiro pilar deste Paços de Ferreira europeu, já na época passada? E há também Luiz Carlos. Para um treinador, deve ser um encanto ver um médio de 35 anos render tanto.
- É, mas leva duras, como os outros (ri). O Stephen, é verdade, foi a primeira contratação da época passada, um pedido muito específico para jogar de determinada maneira e é uma posição nuclear na nossa equipa. Tal como o Bruno [Costa], também houve a explicação do que pretendia dele. Havia ali situações em que poderia melhorar o jogo individual para nos ajudar coletivamente e ia valorizar-te também. Ele percebeu isso, tem inteligência e capacidade. E há aqui um pormenor: aceitou vir com a equipa ali na linha d"água, na luta. É desgastante estar em último ou penúltimo e ele disse que sim, sem receio. Foi o primeiro a dizer que sim, independentemente da classificação, porque acreditava e sabia que, juntos, íamos conseguir. O Marcelo, logo de seguida; depois conseguimos também o [João] Amaral, o Adriano [Castanheira] e o Denilson. Foram os cinco que nos vieram ajudar muito, na época passada, e desses só o último saiu.
Já sente pena ao pensar que, no final da época, será difícil esta gente continuar aqui? Não apenas os que estão cedidos.
- É a nossa vida e é gratificante. São as medalhas que ficam. Fico satisfeito com isso, é ajudar jogadores a irem para melhor, com o devido respeito pelo Paços, que é... enorme! Isto é uma família. Depois, cabe-nos alimentar isso. As condições de trabalho são de excelência, as pessoas nem têm noção do que temos aqui. Às vezes, pensam que o Paços é um clube pequenininho, dos móveis... Dos móveis, mas com orgulho! O que aqui está é uma obra incrível e - os adeptos dizem-no com muito orgulho - não é um investimento de SAD nenhuma, é deles. É dos sócios.