ENTREVISTA - João Pedro e Suahele foram apanhados numa festa ilegal em altura de confinamento.
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Paços de Ferreira foi uma das cidades portuguesas mais atingidas pela covid-19 e o próprio Pepa não escapou à doença que, um ano depois, mantém o país em estado de emergência. O campeonato chegou a ser suspenso, como tantas outras atividades, e o Estádio Capital do Móvel acolheu um centro de diagnóstico. A placa a indicar o local ainda lá está, a apontar o caminho de uma bancada que permanece interdita aos adeptos. Por tudo isto, o treinador não entende como puderam dois jogadores violar as regras do estado de emergência, após a última jornada, numa festa a que as autoridades puseram fim.
Vamos falar de covid-19. Como se sente? Já a cem por cento?
-A cem por cento tenho a certeza que não. Estou bem, mas passei mal, mal.
Deu um grande sermão a João Pedro e a Sualehe?
- Isso foi uma desilusão para mim. Ainda não estive com eles, mas é uma desilusão enorme, para mim e para todos nós. Zelamos tanto, gasta-se tanto dinheiro, somos tão cuidadosos... é inadmissível, o que foi feito. É inadmissível, independentemente da idade. Todos nós cometemos erros, é verdade, mas há coisas que não se admite. Eu fiz algumas loucuras com 18, 19 anos e vintes, e paguei por elas. Eles é que sabem da vida deles. Se calhar, daqui a um ano ou dois, não estão na I Liga nem na segunda, mas isso... cada um segue o seu caminho. Vamos pagar pelas coisas, mais tarde. Uma coisa é falhar um golo; é... olha, cheguei tarde à bola, dei uma porrada num jogador, fui expulso; num treino, vim mal disposto, perdi uma bola, duas bolas, dei uma porrada num colega e vou pedir desculpa no final do treino, quando estiver a frio; ou mando a bola para fora no treino, o treinador manda-me tomar banho... são coisas que acontecem no dia-a-dia, temos de saber geri-las, faz parte. Agora, esse tipo de situações, no momento em que o país está, para mim isso é inconcebível, é inadmissível.
Deve ser estranho vir para o treino e ver no próprio estádio a placa a indicar o centro de testes covid-19.
- É tudo estranho. Para mim, para si, para todos nós. Ao longo da história, o ser humano adaptou-se a muita coisa. Este foi mais um desafio que nos calhou e o futebol, a comparar com o resto não é nada: eu sou um felizardo, faço o que gosto, continuo a receber o que está contratualizado e consigo trabalhar. Penso muito é como será num restaurante, num hotel... vão viver de quê? Com ajudas de 200 euros? Termos de nos adaptar a máscaras, mais gel menos gel... mas dificuldades financeiras para comer, isso é terrível. Tenho alguma apreensão quanto ao fim das moratórias; isso não será para sempre... algumas pessoas vão perder as casas.
A realidade em redor atenua a frustração de estar a fazer este trabalho tão bom e não haver ninguém a ver, na bancada?
- Custa muito. Estamos a falar, se calhar, de uma das épocas que vai ficar - e vamos fazer tudo por isso, para que fique - nas páginas douradas do clube. Independentemente de ficarmos depois em quinto, sexto, sétimo, vão-se lembrar desta equipa. Olhar para trás, com nostalgia, e não ter ninguém nas bancadas é arrepiante pela negativa. De resto, é tudo marcante pela negativa.
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