Na semana em que se soube que vai suceder a João Loureiro na presidência do Boavista, Vítor Murta recebeu O JOGO para se apresentar e expor as ideias para os próximos três anos.
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Vítor Murta, advogado, 43 anos, ajudou o Boavista nos tribunais antes de, em 2013, incorporar a estrutura e passar a ser o braço-direito de João Loureiro. Este continuará no clube, sem funções executivas, mas o candidato único à presidência garante: "É tempo de mudança e de regresso aos títulos."
A decisão de suceder a João Loureiro apanhou todos de surpresa. Quando é que tomou essa decisão?
-Não foi uma decisão tomada de ânimo leve, já vínhamos a pensar há algum tempo. O presidente teve algumas conversas comigo sobre a necessidade de injetar sangue novo. Não quer dizer que tenha de ser gente jovem, quer dizer é que é necessário trazer para os corpos gerentes pessoas com um contributo positivo. Decidimos que este era o momento ideal para que eu pudesse entrar como presidente.
Para quem ainda possa não o conhecer tão bem, como se apresenta?
-Comecei como diretor adjunto do presidente em 2013, mas a minha ligação com o Boavista não é de agora, é desde miúdo, herdei do meu pai. Sou sócio de bancada. Antes de ter entrado na estrutura, já tinha trabalhado a favor do Boavista. O clube atravessava dificuldades económicas e decidi assumir a causa do Boavista "pro bono". Depois fui um pouco mais longe e aceitei o desafio que me foi proposto pelo Dr. João Loureiro.
Será um presidente adepto, portanto.
-Sim, mas um dirigente não pode tomar decisões apenas com o coração. A maior parte das vezes é com a razão.
João Loureiro vai continuar no clube, mas em funções não executivas. É uma vantagem?
-Só quem respeita o seu passado terá um futuro promissor. Mas é importante que fique na cabeça de todos que este é o virar de uma página. Será uma presidência com o meu cunho e com as minhas decisões. Tudo é continuação, mas teremos mudança.
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O que promete aos sócios?
-É importante voltarmos às conquistas. Sem sucesso desportivo, torna-se muito mais difícil conseguir trazer mais pessoas ao estádio e um dos meus grandes objetivos é fazer do Bessa a nossa verdadeira fortaleza. Temos de ser aquele Boavista com uma identidade forte. Não há clube que tenha passado o suplício pelo qual o Boavista passou e que consiga ter uma massa adepta tão fantástica. Agora temos de criar condições para que as pessoas possam vir ao estádio. Talvez baixando os preços dos bilhetes ou acertando o valor das quotas. As famílias passam por dificuldades económicas e os clubes têm de se adaptar a isso.
Daqui a quantos anos o Boavista lutará por outro tipo de objetivos?
-Se tivéssemos um investidor forte e credível que nos catapultasse para outros patamares, seria mais rápido.
Mas seria possível alguém comprar o clube?
-Isso não. Nunca.
Hoje o Braga já é candidato ao título. O Boavista poderá voltar a essa luta?
-O Braga é candidato há muitos anos. Nós somos campeões. Se já fomos uma vez, no futuro podemos voltar a sê-lo.
"TEMOS MUITOS CARDOSO NA FORMAÇÃO"
Vítor Murta deposita grande esperança na formação. "Tenho a plena convicção de que a solução para os nossos problemas também pode estar cá dentro. Temos um exemplo claro de uma aposta muito recente, o Gonçalo Cardoso (na foto) que, com 17 anos, começou a jogar pela equipa principal e que será um ativo positivo para o Boavista", afirmou o dirigente, convicto de que "há muitos "Cardosos" na formação". "Com um pouco de sorte, creio que num curto espaço de tempo conseguiremos lutar por um pouco mais do que aquilo que temos vindo a fazer", frisou.
"NÃO PODEMOS VIVER DAS QUEIXINHAS E DO COITADINHO"
De uma relação com a autarquia, que deve ser recíproca, à recusa de receber emprestados, Vítor Murta explica como se pode saltar um fosso cada vez maior.
Há 20 anos, seria mais fácil recolocar o Boavista nos lugares cimeiros?
-O futebol mudou muito. O fosso está maior. Mas chegou a altura de deixarmos de estar sempre a procurar o porquê de não se conseguir fazer algo. Quando jogarmos com uma equipa com um orçamento maior temos é que fazer os possíveis para nos aproximar.
Sente que falta apoio dos órgãos de soberania locais?
-É importante que estejam com o Boavista, só que não podemos exigir sem contribuir. Tem havido uma ligação mais próxima. Não podemos viver das queixinhas e do coitadinho, o futebol tem muito disso. Temos de ser nós a procurar algo melhor e a deixarmos de nos queixar de tudo e de nada, ou que esta ou aquela entidade não ajuda.
"Sempre fomos um clube vendedor. Se tivermos emprestados, depois não temos as mais-valias que pretendemos"
Desta vez, o clube não recebeu jogadores emprestados. Foi estratégico?
- Sim. O Boavista sempre foi um clube vendedor e queremos voltar a ser. Se tivermos jogadores apenas emprestados, depois não temos as mais-valias que pretendemos.
É certo que o Boavista tem um dos orçamentos mais baixos da I Liga?
-É verdade, mas o que identifica o Boavista é a nossa identidade, a nossa forma de jogar, os nossos adeptos. Essa, sim, é a mais-valia para chegarmos no futuro a outro patamar. As pessoas têm de ter noção da nossa realidade.
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"EQUIPA ESTÁ NO CAMINHO CERTO"
Os axadrezados ocupam a antepenúltima posição, mas o dirigente deixou um voto de confiança ao plantel e aos jogadores. "Estamos claramente no caminho certo. Temos um plantel fantástico, composto por uma série de jogadores que entendemos que levarão o Boavista à classificação que nós pretendemos. A equipa técnica transmite-nos a mesma convicção", frisou Vítor Murta, que adianta que o mercado de inverno dificilmente trará novidades para os lados do Bessa: "Não temos necessidade de ir ao mercado. Mas também não podemos recusar uma proposta milionária, desde que isso defenda os interesses do Boavista. Não vamos vencer jogadores em saldo."
Com o clube nos "oitavos" da Taça de Portugal e com o processo de licenciamento a começar este mês, Murta garantiu que o clube "cumprirá todas as etapas" para que uma possível chegada à UEFA não seja negada por motivos burocráticos. Por outro lado, o ainda presidente adjunto assegura que a exposição submetida em setembro ao Conselho de Arbitragem foi "compreendida" pelos responsáveis.
ÁGUA FRIA NUM DÉRBI ESCALDANTE
Em semana de rescaldo de um dérbi escaldante, Vítor Murta passou ao lado das polémicas, como as queixas do FC Porto de excesso de agressividade. "Isso é o entendimento que eles têm. Nós temos o nosso. É um jogo de futebol, tem a emoção do momento, nada mais do que isso", frisou, com uma certeza: "O balneário está bem, fantástico. Temos a certeza de que fizemos um bom jogo de futebol. Os jogadores estão bem e unidos, como sempre, sabem perfeitamente aquilo que têm de fazer."
"Agressividade? Isso é o entendimento que eles [FC Porto] têm. Nós temos o nosso. O futebol tem a emoção do momento, nada mais"
"PAVILHÃO É UM SONHO"
Nem só de futebol vive um clube, em especial o Boavista, que contempla 18 modalidades e ainda recentemente se sagrou campeão nacional de boxe em seniores consagrados. "É o clube mais eclético do Norte. É importante olharmos um pouco mais para as modalidades", frisou Vítor Murta, que partilha "um grande anseio" com sócios e adeptos: "Um pavilhão. Há muito que gostaríamos de ter um, é um sonho. Quem sabe um dia... está na lista de desejos..."