Adeptos do Sporting e figuras do futebol português despedem-se em Alvalade de Manuel Fernandes, falecido na quinta-feira, aos 73 anos, vítima de doença prolongada
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Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se este sábado a Alvalade, onde marcou presença nas cerimónias fúnebres de Manuel Fernandes, antigo craque do Sporting e da seleção portuguesa falecido na quinta-feira, vítima de doença prolongada.
"Não era preciso ser sportinguista para gostar dele. Era uma pessoa de quem era fácil de se gostar e respeitar, porque ele respeitava os outros e gostava dos outros, adversários ou não, no campo ou fora, nos debates televisivos. Em todas as posições em que o conheci, e conheci-o muito novo. Há pouco estava a recordar, eu era dirigente com 20 e poucos anos da Federação Portuguesa de Futebol de 1974 a 1976 e ele já jogava, jogava bem e era conhecido. Era um bom carácter, tinha um magnífico carácter. Tinha uma personalidade forte, mas doce no coração", afirmou o Presidente da República.
"No coração, na abertura ao diálogo, na luta pelo seu clube, claro, era uma paixão que ele tinha, mas não era fanático. Depois, além de servir o Sporting, serviu Portugal, em 30 jogos pela seleção portuguesa. E nessa altura era muito, não se compara com o que é hoje, os meios, os recursos, a preparação física, como que era difícil ser jogador. E Portugal não tinha um peso internacional. Tinha muito mérito lutar por Portugal num período que não foi dos mais fáceis para a Seleção Nacional. E o país deve-lhe tudo isso, também pelo que fez como dirigente e como pedagogo. Porque ele explicava o futebol aos portugueses sem rancores, fanatismos, sem facciosismos", prosseguiu.
Marcelo Rebelo de Sousa realçou que Manuel Fernandes "lutava pela vida mesmo na aproximação da morte". "Portanto, eu venho cá como Presidente da República, mas a título, depois pessoal. Neste último período pude conhecê-lo numa fase muito difícil da vida, porque era a fase mais próxima da morte. E ele lutava pela vida mesmo na aproximação da morte. Lutava sem forças já, mas como se tivesse forças. Era o mesmo lutador a querer prolongar a vida e prolongou para além de todos os limites médicos. Isso só se deve à sua capacidade de luta porque de cada vez que se entendia que era o último encontro que era a despedida, depois descobria-se que não era o último e que ainda haveria outro. Quando estive com ele, cheguei um bocadinho atrasado no aniversário e portanto foram-lhe cantados várias vezes os parabéns e tinha a felicidade de uma criança por ter celebrado mais um ano e ter resistido à doença", enalteceu, falando depois de um legado. "Sim a começar pelo meu filho, mas nos muitos discípulos, nos mais jovens, percebem que o desporto é exatamente o que foi a vida dele. No futebol e no desporto em geral pode e deve-se ser o senhor que ele era. Tem-se as suas convicções clubísticas, bata-se furiosamente pelo seu clube, mas não se deixa de ser um senhor no carácter, na personalidade e no tratamento com os outros. Dentro das quatro linhas, fora das quatro linhas, no universo mediático, ele foi assim. Foi um senhor ao longo da sua vida e até aos últimos momentos", rematou.
Homenagem: “Homenagear o Manel é homenagear alguém que marca o futebol português e o futebol do Sporting. O Manel tem uma particularidade que é ser do Sporting mas ser transversal a isso, no sentido em que o Portugal desportivo nutre por ele um respeito e uma admiração ao longo da sua história, por isso é alguém que parte, que deixa uma saudade imensa a todos nós e não podem ser só os sportinguistas a chorar por ele. Quem gosta do futebol gosta do que o Manel Fernandes fez ao longo dos anos enquanto futebolista e enquanto homem é um homem bom que parte. Esgotam os adjetivos nesta altura, mas é um homem bom, solidário que parte e que nos deixa muita saudade”.
Vocês sentavam-se à mesa: “Em Sarilhos, o melhor pargo cozido que comi foi em casa do Manel. Ele tinha ao pé da igreja um sítio onde fazia petiscos e esse pargo cozido é algo que nunca mais comi na vida. A nossa relação era estabelecida para além do jogo, existiu e já existia ainda antes de eu chegar ao Benfica e de ele chegar ao Sporting. Esse tempo prolongou o que já vinha de trás, mas o mundo mudou e aquilo que era antes já não é igual. Isto transformou-se, penso que para pior nalgumas coisas, outras para melhor, mas é assim”.
André Villas-Boas marca presença nas cerimónias fúnebres de Manuel Fernandes, que decorre em Alvalade. Presidente do FC Porto deixa coroa de flores
Joaquim Melo, ex-jogador
“Foi um companheiro de muitas jornadas, tivemos alegrias e tristezas, mas pelo tempo em que aqui passei foram mais as alegrias. Conseguimos ser campeões em 81/82 com um grande grupo de trabalho, com ele a capitão que não precisava de alterar a voz, não precisava de se zangar, era tudo através do diálogo. Nunca discutia, tentava chegar a acordo. É uma figura do Sporting que parte e que vai perdurar, é com muita pena minha que vejo um elemento imprescindível do futebol nacional, e não só. Toda a gente conhece o Manuel e quem não conhece passa mal”
Imagens da despedida a Manuel Fernandes em Alvalade [fotos: Sporting]
José Couceiro, vice-presidente da FPF
“Em nome da FPF, do Presidente e em meu nome, é óbvio que é um momento duro. Importa realçar toda esta manifestação, que significa que o Manuel sempre respeitou os outros e os adversários. Estamos muito gratos por tudo o que fez pelo futebol. Acho que é um grande legado, não só como jogador, mas também o comportamento que teve com todos os nós. Não vamos esquecer isso, o capitão que ele representou com este tipo de atitudes para todos”
“Muito importante termos exemplos destes para os mais jovens. Muitos só o viram jogar em vídeo, mas todos temos o dever de passar esses valores. Para que o jogo seja um sítio onde temos adversários, mas não temos inimigos, temos apenas adversários. E quando o jogo acaba, acaba e reconhecemos o valor ao nosso adversário”
"Não somos do Sporting CP só quando ganha, quando perde ainda temos que apoiar mais". Sporting partilha declaração de Manuel Fernandes
João Palma, presidente da MAG
“Queria manifestar tristeza profunda que percorre os Órgãos sociais do Sporting e dar aos sportinguistas as minhas sinceras condolências, partilhamos todos dessa perda. É um sofrimento geral que trespassa os corações de todos os sportinguistas. Esta homenagem que o Sporting organizou é muito merecida, perdemos uma figura ímpar do nosso clube. A memória dele vai prevalecer sempre como exemplo de uma pessoa leal ao clube. A mensagem que ele nos deixa ainda deve empenhar-nos mais para sermos ainda mais fortes. Ele representa um amor inultrapassável ao Sporting, foi uma vedeta, mas sempre deixou uma grande humildade. Se o Manuel Fernandes era grande em campo, era maior no relacionamento humano"
Shéu, incontornável figura do Benfica, está em Alvalade
Os adeptos do Sporting vão poder despedir-se Manuel Fernandes em Alvalade, falecido na quinta-feira, aos 73 anos, vítima de doença prolongada. A urna está no hall vip desde as 9h00, tendo estado reservada à família até às 10h30
Rúben Amorim e Frederico Varandas junto de Tiago Fernandes, filho de Manuel Fernandes (fotos: Instagram)
Adeptos formam fila no exterior de Alvalade, aguardando para homenagear Manuel Fernandes
A equipa de futsal do Sporting marca presença na cerimónia fúnebre em Alvalade