"Não me vou arrepender de jogar desta forma, os meus jogadores têm de pensar em grande"
Álvaro Pacheco admite que o futebol do Vizela até pode ser poesia, mas é para valer até ao fim. Os olhos da equipa hão de estar sempre na vitória, mesmo que isso provoque alguns amargos de boca
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Apaixonou-se por Vizela e Vizela (a cidade, o clube) está apaixonada por ele. Aos 50 anos, assume pela primeira vez uma equipa na Liga Bwin como treinador principal. E foi uma lufada de ar fresco no futebol português. Eis o resultado de uma agradável conversa com Álvaro Pacheco. E foi um prazer conhecê-lo melhor, mister.
É a primeira experiência na I Liga como treinador principal. Para si também está ser uma aprendizagem?
-Claro. É tudo novo. Uma coisa é ter passado por aqui como adjunto e outra é ser treinador principal nesta divisão. Aprendo todos os dias, crescemos para estarmos mais fortes, não só eu como os meus jogadores.
Como é que se combate as diferenças entre a I e a II Ligas? Teve que estudar muito?
- Muitos dos meus jogadores já vinham da época passada e isso facilitou o trabalho, porque já conhecem a base do nosso jogo. Já conheciam a filosofia, que não mudou de um ano para o outro. Fui desafiado a trazer coisas novas, olhando às exigência de um campeonato como este. Trabalhámos para refinar a nossa ideia de jogo, de modo a torná-la capaz de vencer nesta divisão, que não é mais difícil, mas é exigente e pede outras coisas em comparação com uma II Liga.
A falta de experiência está diretamente ligada aos pontos perdidos no final dos jogos e já nos períodos de compensação?
- Não podemos dissociá-la desse facto, mas encaro isso como normal. Claro que gostava de não ter perdido esses pontos. Também já ganhámos pontos a acabar os jogos. Há um fator que eu acho que é determinante: é o pormenor, a concentração, o foco. A jogar com adversários deste calibre, um erro de pormenor pode atirar um resultado pelo cano abaixo. Acho que a equipa já percebeu que tem de controlar isso, tem de saber fazê-lo. Mas esses erros também têm sido importantes para o nosso crescimento, tornam-nos mais fortes. A equipa já cresceu muito.
Posso concluir que o Vizela não vai voltar a perder tantos pontos nessas circunstâncias?
-Sim, pode tirar essa conclusão. Não quer dizer que não venha acontecer, porque o futebol é mesmo assim. É muito normal isso acontecer, os adversários lutam até ao fim pelas vitórias, portanto, não é estranho isso acontecer, mas julgo que irá acontecer mais com o Vizela para o lado positivo.
O Vizela é das equipas que melhor futebol pratica. Num campeonato em que a partir do décimo lugar se luta pela permanência, jogar bonito não será poesia? Não se vai arrepender disso?
-Não, não me vou arrepender. A minha missão enquanto treinador é ter a equipa sempre a lutar pelos três pontos Treino os meus jogadores para eles terem sucesso aqui no Vizela, mas também para, quando saírem para clubes de maiores desafios, e há aqui jogadores com muita qualidade, estarem preparados para eles. Por isso, tenho que os ter sempre a pensar em grande, para sermos capazes de alcançar os três pontos. Essa coragem de olhar para a frente nunca vou permitir que os meus jogadores a percam.
Isso também tem a ver com o seus passado. Era avançado, mas era fraquinho...
-Não, por acaso até tinha algum jeito (risos). E porque é que nunca cheguei a um patamar mais alto? Porque para chegar a um nível alto não basta ter jeito, é preciso ter mentalidade, compromisso, determinação. Enquanto jogador, isso passava-me um bocado ao lado; enquanto treinador, senti que isso era fundamental, a questão mental, e é isso que tento passar aos jogadores, todos os dias. O sucesso vem com o trabalho.
O que será um objetivo conseguido, a permanência?
Fazer crescer a nossa família vizelense e que os adeptos do futebol olhem para nós com admiração. É arriscado, mas é desafiante. E a permanência, claro.
Vizela, paixão e orgulho
Não pode haver felicidade maior do que estarmos onde nos querem bem. "A cidade é fantástica, o clube é excecional, os adeptos são uma maravilha, um orgulho". São ideias de Álvaro Pacheco sobre o clube ao qual chegou há três anos, que estimou colocar na Liga Bwin em cinco anos.
Chegou mais cedo à meta. "A cidade é uma cidade guerreira, os vizelenses gostam do clube e o apoio que temos aqui em cada jogo é uma coisa admirável e que nos deixa orgulhosos", regozija-se Álvaro Pacheco, que encara como maior objetivo o de manter o clube na Liga Bwin. "Tem estruturas para isso, é muito bem dirigido. Estou eternamente grato ao clube pelo muito que me tem dado, porque se sou o que sou hoje é graças ao clube, à cidade, aos adeptos".