Antigo internacional português marcou esta quinta-feira presença no Portugal Football Summit, que decorre até sábado na Cidade do Futebol
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Como está a correr a vida como ex-jogador? "A minha vida tem sido fantástica. Depois de muitos anos dedicado a um profissionalismo do mais alto nível, não estava à espera de conseguir ter um final de carreira tão tranquilo e emocionante, porque consegui encontrar algo interessante para me ocupar. O facto de me chamarem para muitos eventos, em Portugal e lá fora, para promover o futebol português e não só, enche-me de orgulho. É bom saber que as pessoas se lembram e reconhecem tudo o que foi feito ao longo da minha carreira. Tenho tido uma reforma preenchida, a minha cabeça está a mil, mais do que quando jogava. Abri uma academia de futebol, dedico todo o meu tempo a ela quando estou em Portugal. Adoro ajudar as crianças a desenvolverem as suas capacidades. Estou com muita motivação para este ano, a minha academia é de competição, os miúdos estão motivados, e eu também, está a ser fantástico."
A academia faz parte desta ligação à comunidade? "Sempre foi o meu objetivo, mesmo quando ainda jogava. Adorava gastar um pouco do meu tempo com as crianças, aproveitar para reunir grupos de jovens e fazer jogos entre eles, e inspirá-los para o futuro. Já tinha esse dom, sempre quis abrir uma academia. Quando tive essa possibilidade, não hesitei. É honrar a história de onde vim, honrar os jovens que me seguem, que se inspiram naquilo que eu fiz. Se não fizesse isso, era uma desilusão para eles. Vou buscar muitos deles ao meu bairro, em carrinhas, para lhes dar a oportunidade de desfrutarem do futebol. Muitos deles estão cá por minha causa. Depois de tudo o que fiz no futebol profissional, fora dele, tinha de fazer algo pelos jovens que me acompanham. Sempre estive com eles ao longo da minha carreira, nunca os abandonei, estive sempre a aconselhá-los."
Qual é o aspeto da sua carreira de que mais se orgulha? "Aquilo de que tenho orgulho, e o que tento transmitir aos jovens, é o modo como eu competia. Em todos os jogos, não havia ninguém melhor do que eu no campo, ninguém mais forte. Na verdade, havia, e houve, muitas vezes, mas, na minha cabeça, não havia. Se um defesa não me deixasse passar uma vez, estava lixado, era guerra logo a seguir. Isto inspirava-me, mesmo quando as coisas não corriam bem. As pessoas diziam-me: "Nani, o teu espírito de combate no campo é tão bom, a tua energia". Tinha habilidade para fazer bons dribles e bons remates, mas, sem aquela atitude, não poderia estar lá nos grandes jogos. Antes de querermos ser habilidosos, fazer golos e aparecer, temos de ter uma boa atitude e confiança, para as coisas aparecerem. Os jovens, por vezes, querem as coisas, mas não têm a vontade ou o espírito de sacrifício para as alcançarem. Houve momentos fantásticos na carreira que jamais esquecerei. Um dos títulos mais importantes foi vencer o Euro'2016, nunca mais vai sair da minha cabeça. Qualquer jogador profissional tem como sonho ganhar um título pelo país, não existe um sentimento melhor. Quando chegas e vês todos os teus amigos, e até pessoas que apoiam um clube rival, torcer por ti e agradecer-te, é fantástico. No Manchester United, ganhei muitos títulos marcantes, foi o clube que me marcou mais, pelos títulos e pelos grandes jogadores que tive ao meu lado."
Jogou em vários países, em qual deles gostou mais de jogar? "Confesso que joguei três anos em Orlando e gostei muito, já estava bem maduro, experiente. É um sítio bonito, familiar, com um ambiente muito agradável. Encontrei um espaço onde podia trabalhar tranquilo, focado. Tinha uma responsabilidade enorme, era capitão. Consegui fazer três épocas muito boas, e deixar uma boa imagem naquele país [Estados Unidos]. Quando vou lá, sou muito reconhecido e apreciado pelo que fiz. Isso enche-me de orgulho. Mesmo não tendo tido sempre um grande resultado a nível estatístico, de golos e assistências, hoje vou a qualquer parte do mundo e sinto-me à vontade. Tenho mil e um amigos e contactos. Sinto que sou do mundo, devido ao que fiz dentro do campo."
Qual foi a lição mais importante que o futebol lhe ensinou? Tenho um lema: honestidade. Sempre fui honesto, no desporto e como pessoa, a lidar com companheiros e outros profissionais. A minha transparência é o que me faz ser quem sou. Isso não tem preço, foi o futebol que me ensinou isso, aprendi e vi muita coisa. Escolhi ser assim, e, por ser assim, faço confusão a muita gente. O futebol é um desporto que implica muitas coisas, mexe com o ego, com a cabeça, com muitas vontades. Ser honesto, transparente, e ter força para perseguir o caminho não é fácil, é o que tento transmitir aos meus filhos, e aos meus jovens. Se forem assim, nunca se vão perder."