Nani: "Alex Ferguson metia-me medo. Cristiano dizia-me: 'Nem queiras saber'"
Declarações de Nani, antigo internacional português, à margem do Portugal Football Summit, na Cidade do Futebol
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Qual foi o treinador que teve mais impacto na sua carreira? "O Paulo Bento foi marcante porque temos muitas histórias, não só na minha formação, mas também na continuação, no futebol profissional, foi muito importante. O Paulo Bento acreditou sempre em mim, quando eu não era ninguém, era apenas uma aposta da academia do Sporting. Na altura, eu fazia muitas coisas menos boas, de rebeldia jovem, coisas que somos alertados a não fazer. Mesmo dando-me duras e chamando-me à atenção, Paulo Bento dizia que acreditava em mim a 200%, que eu ia chegar ao futebol profissional, mas que tinha de mudar muita coisa. Percebi que tinha ali um amigo, e um treinador que gostava de mim de verdade. Foi muito importante, ajudou-me taticamente, foi dos treinadores com quem mais aprendi dentro do campo. Joguei em várias posições com ele, no losango do meio-campo [4-4-2] e a extremo. O míster [José] Peseiro lançou-me na equipa principal, e acreditou em mim, não só uma vez, porque voltou a chamar-me para o Sporting. Ajustou-me muito dentro do campo, a primeira oportunidade, na Liga dos Campeões, foi com o míster Peseiro, foram 15 minutos marcantes, a partir daí, tudo mudou. Tive uma prestação excelente, e comecei a ter mais oportunidades. Quando voei para Manchester, tive contacto com Carlos Queiroz e Alex Ferguson. Era uma realidade completamente diferente, ali só se falava inglês. Quando Ferguson falava, eu não entendia nada, olhava para as expressões faciais dele, e metia-me medo. Tentava perguntar ao Cristiano [Ronaldo] o que ele dizia, e ele respondia-me: 'Nem queiras saber'. Ficava nervoso, tinha de saber o que ele tinha dito. Quando comecei a aprender inglês, ele estava sempre a dar-me duras. O Nani não era fácil, sei reconhecer que sempre tive uma personalidade muito forte. Pelo meu feitio, sempre que um colega me confrontava, não conseguia ficar quieto, havia sempre fricção com um ou outro colega por causa da minha personalidade, de não me rebaixar para nada. Ferguson vinha com os seus chinelos, a fazer barulho, e já metia medo. Dizia-me: 'Nani, se voltas a fazer isto, não jogas mais, nem pela equipa B, voltas para Portugal, ponho-te num avião, e nunca mais jogas'. Ficava tenso a pensar naquilo durante uns três dias, depois lá recuperava, na brincadeira com o Cristiano e o Anderson [ex-FC Porto]. Depois, percebi por que razão estava sempre a ser chamado à atenção. Comecei a ter mais conversas cara a cara com Ferguson, e ele dizia-me: "Filho, vá lá, sabes das expectativas que deposito em ti, tinhas de resolver o jogo no sábado'. O Evra disse-me: 'Sabes que, para Ferguson, a equipa és tu e mais dez, ele acredita muito em ti'. Se ele me chamava à atenção, era porque esperava algo de mim. Ganhei mais confiança, e tudo começou a fluir da melhor forma, fiz a minha melhor época, com muitos golos e assistências. Ferguson já veio a Portugal, sentámo-nos à beira rio e ele contou-me as histórias todas dele, fui ao gabinete dele em Manchester. É bom ver os treinadores que marcaram a minha carreira."