Pinto da Costa em entrevista: "Naming vale 5 milhões de euros por ano 'à la longue'"
ENTREVISTA, PARTE 1 >> Na última entrevista antes de ir a votos, o presidente do FC Porto revela valores dos negócios que anunciou, detalha como vai ser a "Cidade do FC Porto" e até se debruça sobre a luta entre Liga e FPF
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O mais longevo presidente da história do futebol quer somar mais quatro anos aos 38 que já leva no FC Porto. Numa fase complicada e a meio de uma pandemia excecional, amanhã vai a sufrágio contra dois adversários a quem não reconhece capacidade para liderar o clube. Durante quase duas horas, O JOGO entrevistou-o para aprofundar as ideias que tem defendido nos últimos tempos e confrontou-o com as críticas que lhe fazem. Pelo meio, Pinto da Costa falou sobre a FPF, a Liga e os ataques que fazem a Pedro Proença, revelando até haver um novo patrocinador para a Liga.
"É possível discutir o campeonato. Mas é cada vez mais difícil, porque esses casos [e-mails, Mala Ciao] já têm três anos..."
Pareceu que havia alguma antipatia com as duas candidaturas concorrentes. Não acha admirável que dois sócios "normais" se candidatem contra si?
Eu acho que uma pessoa tem coragem numa atitude que toma quando tem alguma coisa a perder. Para isso é preciso coragem. Se eu me candidatar a diretor de O JOGO, não sendo jornalista, não tenho nada a perder. Qualquer sócio que não tenha passado algum tempo no clube além de ser sócio, que não seja conhecido, o que é que tem a perder?
Um dos candidatos [José Fernando Rio] perdeu o emprego...
-O emprego não era de jurista, como ouvi dizer, era na régie do Porto Canal. Pôr em perigo esse lugar... De certeza que aparecerá outro melhor. Se me disser que é uma pessoa que tem lugar de destaque no clube ou no mundo do desporto, que por se candidatar - e não significa que perca nada - pode criar alguma antipatia ou desconfiança, então tem alguma coisa a perder. Mas quem não tem absolutamente nada a perder e só tem a ganhar, não precisa de coragem. Nenhum dos candidatos apareceu em alguma AG, local em que se discute o clube, os dois têm 50 anos, vinham aos jogos como muitos sócios, mas não se interessavam pela vida do clube. Colaboraram com alguma secção, modalidade ou participaram em eventos? Nada. Não vejo que isto seja ter coragem.
"Quando se tem alguma coisa a perder é que é preciso coragem. Quem [candidatos rivais] não tem passado algum, além de ser sócio, o que é que tem a perder?"
Nas entrevistas que deu teve oportunidade de falar de eventuais candidatos...
-[interrompe] Eu não! Não fui eu que os fiz candidatos. Foi a comunicação social. Eu nunca disse que este ou aquele era candidato...
Mas Rui Moreira acabou por ter destaque na imprensa. Foi intenção ou acidental?
-Não, não. Falei dos que vocês colocam como candidatos. Falei do Rui Moreira, António Oliveira, Villas-Boas... Até porque houve outros que em tempos foram colocados como candidatos, como o Fernando Gomes, o Bibota. Mas ele falava comigo e dizia que nunca na vida o seria e tinha noção que estava a ser utilizado. Desse eu sabia que não. Há dias o Oliveira também disse que nunca o seria e, para mim, deixou de ser possível candidato. Não referi Rui Moreira nem em primeiro, nem em segundo ou terceiro lugar. Falei de quatro elementos apresentados como candidatos. Até referi que um deles, o Vítor Baía, neste momento seria mau candidato, porque não tem experiência como dirigente. Não quer dizer que, com o que espero que vão ser os próximos quatro anos, não possa vir a ser. Reconheço-lhe grandes capacidades. Mas acho que seria um erro candidatar-se agora, pois acho que não tinha preparação.
Que qualidades considera necessárias para liderar o FC Porto?
-Essencialmente experiência de dirigismo. Rui Moreira nunca foi dirigente desportivo, mas esteve à frente de instituições como a Associação Comercial do Porto e a Câmara do Porto, onde todos reconhecem que teve sucesso, além das suas empresas. Para quem gosta de futebol, desporto e do FC Porto, isso é uma garantia. Oliveira conhece o clube, é empresário de sucesso, já teve responsabilidades com sucesso, tem todas as possibilidades de também o ter numa empresa como a SAD. O mesmo se passa com Villas-Boas, que tem conhecimento profundo de futebol, do FC Porto e conhece muita gente ligada ao futebol que viria com ele. O Jornal de Notícias colocou o Rui Moreira na primeira página, podia pôr qualquer um dos outros.
"Inverteu-se a tendência de domínio? Não devem ser de cá, senão já tinham ouvido falar dos emails e das toupeiras"
Nunca fala em programa eleitoral. Qual é o seu programa?
-Nunca falei. O meu programa é a restruturação, procurar o equilíbrio financeiro e a maior força possível das modalidades, designadamente no futebol.
Defende que o FC Porto é líder e a a mudança não é necessária. Mas há críticas objetivas, como o facto de, neste século, o FC Porto ter ganho qualquer coisa como mil milhões de euros, mas em termos de infraestruturas não ter crescido. Não é uma crítica justa?
-Tenho lido que, desportivamente, o FC Porto está no caos. Dizer isso quando estamos em primeiro lugar no campeonato e na final da Taça é fantasioso e estúpido. Tomara eu que daqui a um ano estejamos num caos desportivo assim.E acho piada quando se diz que não ganhámos campeonatos. Toda a gente sabe como se perdeu o ano passado e até os outros candidatos o dizem. Se não fosse a anormalidade de alguns jogos, nomeadamente três deles, o FC Porto agora não estava a disputar o campeonato, mas o tricampeonato. O andebol ia ser campeão e teve a performance que teve nas provas europeias, o basquetebol e o hóquei estavam a discutir o campeonato, foi campeão no bilhar, tem títulos nacionais no boxe, na natação . Abençoado caos.
Mas nos últimos 10 anos inverteu-se a tendência de domínio...
-Não devem ser de cá, senão já tinham ouvido falar dos emails e das toupeiras e compreendiam um bocado porque é que isso aconteceu.
Quando se falou do dinheiro que entrou, não respondeu. Entraram milhões e o FC Porto continua sem muitas infraestruturas novas nos últimos anos. Não é uma critica justa?
-Houve o Pavilhão, o Museu... O FC Porto não esta à mesma altura de outros a esse nível e por isso é que estamos a tratar de estar e a negociar essas estruturas em ponto bem adiantado. Apesar disso, parece que a formação do FC Porto é um caos e no plantel sénior temos quase uma dúzia de jogadores vindos da camadas jovens. E há um ano o FC Porto foi campeão europeu, título que mais nenhum clube português tem. A formação não esta a dar tão maus resultados como querem pintar.
Outro tema debatido nesta campanha. Anunciou que está a negociar o "naming" do Dragão, mas quanto vale isso, afinal?
-Neste momento, estamos a negociar num mínimo de cinco milhões por ano, mas não aceitámos um ano só, tem de ser "a la longue".
Tirando o Braga, com a AXA, nenhum clube conseguiu vender o "naming" em muitos anos de tentativas. Por que razão, de repente, essa possibilidade passou a ser viável?
-Porque sei das negociações que estão a decorrer. Estou envolvido nelas. Pessoalmente, gostava que o nome do Dragão se mantivesse e acho que é possível, como foi, em tempos, o Dragão Caixa. Manter o Dragão e juntar o nome respetivo.