Pinto da Costa saiu em defesa de Pedro Proença e contra o que considera ser uma manobra alargada e com vários eixos, que agora explica.
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"Guerra de poderes" incomoda e Pinto da Costa só espera que o homólogo da Liga não se farte. Carta de 15 ex-presidentes nunca terá chegado e também faz parte de uma estratégia com outros objetivos.
Disse recentemente que sentia estar em curso uma tentativa de enfraquecer Pedro Proença. Na próxima semana, há uma assembleia da Liga. Acredita que ele terá condições para continuar depois disso?
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-Mas porque não haveria de ter?
Porque aparentemente há um movimento para forçar a saída dele.
-Há coisas fantásticas. Li num jornal - não sei se foi no vosso, porque não leio muitos, só O JOGO e JN, até por me chamar Jorge Nuno - que um grupo de 15 ex-presidentes escreveu uma carta a contestar o Pedro Proença. Por outra questão, que tem a ver com sponsorização da prova, uma vez que a NOS comunicou que não quer continuar, ontem tive de marcar um encontro entre o Pedro Proença e uma das entidades interessadas em sponsorizar a Liga que entretanto apareceram. E perguntei-lhe: então aquela carta, quem é que a assinou? E ele disse-me que não tinha recebido carta nenhuma. Eu disse-lhe que tinha lido a notícia, no JN ou n"O JOGO, e ele respondeu-me que não. Não recebeu ele, nem ninguém da Liga, nem houve email para a Liga, nada. O que sabia era pelos jornais. Não acha curioso? Mandam uma carta para os jornais, que supostamente enviaram à Liga, mas a carta não chegou lá. É engraçado, não é?
"Acha normal que não tenha sido o presidente da NOS a ligar para a Liga ? E sabe em que data chegou a carta? Ninguém sabe, porque não chegou"
No seu entender, encaixa numa manobra?
-Encaixa, obviamente, numa estratégia. O senhor acha normal que, quando vai recomeçar um campeonato chamado Liga NOS - que a NOS tem todo o interesse que saia prestigiado -, uma administradora, que nem sequer foi o presidente sr. Miguel Almeida, telefone para a Liga com o objetivo de comunicar que daqui a catorze meses não vão renovar o contrato de sponsorização? Acha necessário, com catorze meses de antecedência? Ter de fazer um telefonema, nem sequer poder esperar para enviar a carta, e imediatamente isso sair nos jornais? O senhor não acha que isto se enquadra numa campanha contra o Pedro Proença? Já passaram muitos dias depois disto, sabe em que data chegou a carta? Nem o senhor, nem eu, nem ninguém, porque não chegou carta nenhuma. Engraçado, não é? E agora, o sr. Pedro Proença já foi consultado - fui eu quem recebeu de uma grande empresa multinacional a manifestação de interesse em reunir com ele para marcar posição relativamente à sponsorização da Liga -, mas não pode dar resposta, porque quer ter a carta. Não vai em conversa de telefonemas. Amanhã, se calhar, foi alguém a brincar. Acha normal numa empresa como a NOS, que ainda tem contrato e todo o interesse em prestigiar a competição, mandar uma administradora telefonar, e agora que um grande grupo estrangeiro quer cá vir para negociar, o Pedro Proença não tenha ainda a carta imprescindível, anunciando a tal rescisão, para ter essa conversa.
"Estamos a ser vítimas de uma luta de poderes entre Liga e FPF e do desejo de concentrar tudo na FPF e em Lisboa"
O presidente e o vice-presidente da NOS são portistas, não são?
-São portistas, mas sabe uma coisa? Portugal é um país católico, mas a maior parte das pessoas não vai à missa. Ele deve ser católico e não vai à missa, como deve ser ciclista e não ter bicicleta.
Como interpreta esta contestação, sabendo que há um ano houve eleições na Liga e os clubes tiveram a oportunidade de substituir o presidente?
-Há um ano, o Pedro Proença foi reeleito com 96 por cento dos votos, porque toda a gente reconheceu que ele tirou a Liga de um estado caótico, de insolvência. Dou a minha opinião, não digo como é: estamos a ser vítimas de uma luta de poderes entre a Federação e a Liga e do desejo que sempre houve de concentrar tudo na FPF, em Lisboa. A única maneira de o fazer é desprestigiar o presidente da Liga. Se ele se encher e bater com a porta, ficam à vontade para trazer de volta o Luís Duque ou o Mário Figueiredo, que foi eleito com os votos de quem hoje contesta. O sr. Mário Figueiredo, que obrigou os clubes a reunirem na bomba de gasolina em frente à Liga, porque pôs um cadeado nas instalações, foi reeleito com uma golpada que depois foi anulada e, depois dele reeleito, o sr. presidente do Benfica escreveu aos clubes a dizer "agora que ele está eleito, vamos apoiar o Mário Figueiredo". Compreende? É isso que eles querem, Mário Figueiredo ou Luís Duque. E depois acontece uma coisa interessante: aparece o José Couceiro como possível candidato. Quer dizer, atiram-se à Direção da Liga, pedem a demissão da Direção, até houve um presidente que disse que a ia pôr em tribunal, e quem está na Direção da Liga? Exatamente o José Couceiro, que é vice-presidente. É areia de mais para a minha camioneta. Como o Pedro Proença não precisa da Liga e foi para lá com espírito de missão, espero é que ele não se encha, porque está a fazer um grande trabalho. E mais: tenho a certeza de que, se ele continuar, vai substituir a NOS com um contrato que tomara eu para o FC Porto.
"Aparece o José Couceiro como possível candidato. Atiram-se à Direção da Liga, mas quem está lá? Exatamente José Couceiro, a vice-presidente"
Mas já o convenceu a continuar?
-Não tenho de convencer, nem deixar de convencer. Disse-lhe que não há razão para se demitir e que ele tem de cumprir o mandato. Ele só pode não continuar se os clubes lhe derem um voto de desconfiança que seja aprovado por dois terços, conforme o determinado estatutariamente. Enquanto merecer a confiança dos clubes que o elegeram, tem de continuar a lutar pelo futebol.
Já percebemos a interpretação que faz destas movimentações, mas há o timing. Porquê agora?
-Porque se aproveitaram das subidas e descidas na II Liga para picar alguns clubes e porque outros estão assustados, com medo de descerem, e não queriam que o campeonato recomeçasse. Fizeram tudo para que isso não acontecesse. Outros queriam os alargamentos e como o Pedro Proença não esteve preocupado com este ou aquele, mas sim com o futebol em geral, foi contra isso. Toda a gente diz que 18 clubes são demasiados e fazer um alargamento numa fase destas, sabendo que o próximo campeonato será jogado em menos tempo... O desta época vai acabar quando o seguinte devia estar a começar. Estar a admitir que a solução seria passarmos para vinte clubes? O Pedro Proença fez muito bem em não ceder.