Miguel Ribeiro e a falta de solução para o estádio: "Atormenta-me até a alma..."
Declarações de Miguel Ribeiro, presidente da SAD do Famalicão, à margem da apresentação do plantel aos adeptos
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No ano passado apontou à Europa. Este ano, esse objetivo e esse desejo mantém-se? “Não. O nosso objetivo é muito claro. É o próximo jogo. E ao contrário de outros anos, as fasquias no Famalicão não vão existir. Não vão existir comigo, não vão existir com os treinadores, não vão existir com os jogadores, não vão existir com ninguém. O foco vai ser muito claro, porque isto já é duro. Ter objetivos a longo prazo, porque um ano é longo prazo. Por isso, o nosso foco vai ser muito claro e a mensagem será muito clara. É jogo a jogo. O nosso foco é o primeiro jogo, naturalmente. É o jogo com o Benfica. Depois será o segundo jogo. Depois estará o terceiro jogo. Porque, mais do que a mensagem que nós passamos para fora e as expectativas que às vezes criamos das pessoas, entendemos que é algo que hoje não nos beneficia. E o Famalicão, dentro do que fazemos no Famalicão, é sempre para o que entendemos ser o melhor para o nosso clube, o melhor para as nossas pessoas. E entendemos claramente que uma mensagem tão arrojada no tempo, tão longa, para quem compete todas as semanas, para quem treina todos os dias, é um target que parece um bocadinho longe para nos motivar. Então, é muito claro. Vamos olhar sempre jogo a jogo. O próximo jogo é com o Benfica em casa. Vamos ter casa cheia. Uma mini-casa. A nossa mini-casa estará cheia. Isso sim é um tema que me preocupa muito."
Qual a novidade desta mini-casa? “Nenhuma. Não tenho nenhuma novidade. É algo que, confesso, me atormenta até a alma, porque não consigo entender. Não consigo entender como é que o Famalicão, estando na rota que está, tendo o... Vimos hoje aqui, tendo uma população, uns adeptos, mas também um clube que está a viver a maior pujança de sempre. Porque em tempo algum, em 90 anos, em tempo algum, o Famalicão viveu o que vive hoje. Vai para a sexta época na I Liga. É a primeira vez. As pessoas são cada vez mais ligadas ao Famalicão. O Famalicão está cada vez mais estável, está cada vez mais consolidado como um clube de topo em Portugal. O que sempre nos comprometemos... Aliás, quando eu entrei há seis anos, estava focado em fazer do Famalicão um clube de topo. E, se repararem, na média destes cinco anos de I Liga, o Famalicão está no top-6. É o único que está sempre nos oito primeiros com muita estabilidade. E, de facto, isso não se reflete na casa que temos. A casa que temos é uma casa que não é nossa, por isso, também não quero ser ingrato a ponto de reclamar de uma casa que não é nossa. É uma casa que pertence só ao município de Famalicão. É uma casa que nos embaraça. Neste primeiro jogo que eu me fico, embaraçará seguramente olhar para a bancada, mas principalmente olhar para a rua e perceber que há 4, 5, 6 mil pessoas que estão de fora. E mais do que isso, as 4 ou 5 mil pessoas que estão lá dentro não estão em condições adequadas para ver um jogo de futebol na I Liga. Apresentámos soluções, tentámos ter solução, frequentemente tentámos solução. Passámos uma mensagem já muito clara de que queremos ser solução. Agora, parece que não podemos ter solução do que não tem solução, ou de que solução não existe. E quase me atrevo a dizer que estou conformado com a nossa realidade. Até ao dia que a SAD do Famalicão entender que se calhar Famalicão ou alguém de Famalicão, o município de Famalicão, não faz tudo para Famalicão jogar em Famalicão.
O prazo limite para encontrar essa solução? "Já passou. O prazo limite já passou. Neste momento, nós temos que arranjar uma solução para o estádio, se não for ali, noutro sítio qualquer. E essa solução, quando digo em outro sítio qualquer, é mesmo em outro sítio qualquer. Não precisa de ser em Famalicão. Agora, o que me faz uma espécie tremenda, é que há claramente uma violação de um compromisso. Porque quando esta SAD entrou comprometendo-se a fazer do Famalicão um clube de topo, está à vista. Em troca, o município comprometeu-se a fazer do Estádio Municipal um estádio, no mínimo, eficaz. E as pessoas comprometeram-se a apoiar-nos. As pessoas apoiaram-nos sempre. Nós fizemos do Famalicão um clube de topo no futebol português e o Estádio Municipal continua a ser, até para vocês, jornalistas, um tormento fazer lá jogos. Ainda agora vamos ter um primeiro jogo e, dentro das requisições de imprensa que temos, seguramente metade fica de fora. Porque não temos onde vos pôr. E isto é claramente absurdo, considerando o que o Famalicão faz, considerando o que a SAD do Famalicão se disponibiliza a fazer. Perante isto a única coisa que posso dizer é que há falta de vontade, ou há falta de competência, ou há falta de, no mínimo, arrojo. Ou então, olha, há falta disto tudo. E a verdade é que nós vamos fazer mais uma época no Estádio Municipal, mais uma época sem condições, sem condições com sol, sem condições com chuva, sem condições para os profissionais que lá trabalham, sem condições para nós que lá jogamos, para quem nos visita. E a imagem do Famalicão não acredito que seja este estádio. E acho que esta imagem do estádio que o Famalicão apresenta deve envergonhar-nos a nós, como famalicenses, porque nós não somos aquilo. Da nossa parte, apresentamos soluções. Da nossa parte, podemos construir um estádio. E, até agora, nada. E o meu lamento é que a cidade não está a acompanhar Famalicão. Não é o Famalicão, não está a acompanhar Famalicão. Não está a acompanhar os famalicenses, não está a acompanhar até a força comercial, industrial, empresarial que o Famalicão tem. E a imagem que nós passamos para todo o mundo de Famalicão é o Estádio Municipal. Porque a verdade é que em cada 100 imagens de Famalicão, 98 é do seu clube. Depois tem 2 por cento de imagens que serão de umas empresas, outra coisa qualquer. Mas em 100, 98 é do Famalicão. E destas 98, 60 é o Estádio Municipal. Por isso, acredito que o Estádio Municipal seja um embaraço não só para mim, mas para todos os famalicenses que percebem que toda a gente vê o que é o Famalicão. E aquilo não é o Famalicão.”