Francisco Costa, adjunto do Fortuna Sittard, aponta as características do experiente avançado que Francesco Farioli pode aproveitar no Dragão
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Luuk de Jong, avançado de 34 anos com quase 700 jogos como profissional e 291 golos marcados. O reforço-surpresa do FC Porto, que há uma semana e meia levou os adeptos portistas a recuarem até aos anos 90, quando era habitual isso acontecer nas festas de apresentação do plantel, tem um currículo que dispensa apresentações. PSV Eindhoven, Barcelona, Sevilha, Newcastle e Borussia M’gladbach são alguns dos clubes que representou antes de assinar por uma época, com outra de opção, pelo FC Porto, de Francesco Farioli. E foi o técnico italiano, que o defrontou na época passada pelo Ajax, que o indicou a Villas-Boas.
Mas, afinal, o que pode este experiente avançado acrescentar aos azuis e brancos? Os sete minutos com o V. Guimarães ainda não deram para grandes conclusões pelo que a pergunta é respondida por Francisco Costa, antigo analista dos dragões, que nas últimas duas épocas foi treinador adjunto do Fortuna Sittard, do principal escalão dos Países Baixos. “É um avançado de área típico, com uma alta estatura, muito forte no jogo aéreo ofensivo e defensivo. Faz muitos golos de cabeça através de situações de cruzamento, onde é muito forte a reagir”, começa por descrever em declarações exclusivas a O JOGO. “É muito intuitivo, mais do que propriamente um avançado com zona específica, tem uma intuição muito forte na área para atacar os cruzamentos. Lembro-me que, por exemplo, na questão da bola parada, nos cantos, ele tinha muita liberdade. Ou seja, definia a zona onde o PSV atacava o canto e aparecia lá. Finaliza muito bem com o pé direito, mas sobretudo a cabeça é a grande força do Luuk de Jong”, aponta.
Mas De Jong é muito mais do que um avançado que se limita a ficar na área à espera de finalizar, garante Francisco Costa. “Tem alguma facilidade em jogar, por exemplo, no apoio frontal, em espaços muito curtos. Faz bons movimentos de apoio nas zonas curtas, sendo muitas vezes a ligação a um terceiro homem”, elogia, antes de lhe apontar um ponto a melhorar. “Não é, por exemplo, um avançado que tem uma grande capacidade de pressão. Sei que Farioli gosta de uma pressão alta, gosta que a equipa pressione, portanto, acredito que o Luuk De Jong será muito para ele aquilo que foi em muitos momentos o Wout Weghorst no Ajax, que é aquele segundo avançado nos jogos mais fechados, em que o FC Porto já sabe que vai ter a maior parte do tempo a bola. Pode utilizá-lo um bocado como uma referência, mesmo para fazer muito jogo exterior, para cruzamentos, sabendo que ter um jogador desses é sempre muito útil”, considera.
Por isso, Francisco Costa não acredita que Francesco Farioli troque Samu por Luuk de Jong no onze. “O Samu em todos os momentos do jogo vai acabar por oferecer mais, tem outros momentos que o Luuk De Jong já não consegue ter de transição, de movimentos na profundidade”, alerta. Nesse sentido, está convencido que o neerlandês será muito útil “para entrar nos jogos em que o FC Porto está com dificuldade em fazer um golo”. Até porque não foi muito comum o técnico italiano jogar com dois avançados em simultâneo. “Normalmente tirava o Brian Brobbey para pôr o Wout Weghorst. Portanto, não acredito muito numa sociedade Samu-Luuk de Jong. Excecionalmente, pode acontecer”, refere.
Menos golos na zona de desconforto
Francisco Costa confia que De Jong pode fazer a diferença no campeonato português e “vai trazer muito golo”, relembrando o percurso recente do novo avançado do FC Porto. “Fez boa parte da carreira nos Países Baixos em duas equipas de topo, o Twente e, sobretudo, o PSV Eindhoven, onde foi campeão nos últimos dois anos. Há duas épocas acabou com o mesmo número de golos do Pavlidis (29)”, atesta, antes de levantar uma dúvida. “Há uma situação que me suscita alguma curiosidade, que é perceber qual é a capacidade que tem de se adaptar a outros campeonatos”. E explica: “Fora, ele jogou em campeonatos competitivos na Alemanha, (Borussia M’gladbach), em Inglaterra (Newcastle) e em Espanha (Sevilha e Barcelona). Em 180 jogos tem 34 golos e umas quantas assistências. Não é muito se compararmos com aquilo que é a eficiência dele nos jogos neste campeonato, que é um campeonato onde as equipas, por tradição, defendem mal ou têm poucas preocupações defensivas”, aponta.
A diferença, de facto, é enorme. De um golo a quase cada 20 jogos fora do seu país (média de 0,18), Luuk de Jong consegue marcar bem mais nos Países Baixos, onde apresenta uma relação de 0,52 golos por partida. “Tenho algumas dúvidas em relação à capacidade que tem para se adaptar a um campeonato diferente, a um país diferente, ou uma zona de desconforto para ele”, justifica. Além disso, estranhou que o negócio tenha sido feito a custo zero, o que aconteceu porque Luuk De Jong terminou contrato e não renovou, conforme o próprio explicou em entrevista na semana passada.
Liderança e bagagem
Francisco Costa está convencido de que Luuk de Jong poderá acrescentar ao FC Porto muito mais do que os golos que apresenta no cartão de visita, nomeadamente, “a experiência que falta num plantel que é muito jovem”. “Ele tem capacidade de liderança porque, obviamente, era um dos líderes do PSV Eindhoven. Acho que isso também pode ser muito importante, alguma experiência, alguma bagagem até de grandes campeonatos, de grandes clubes, de grandes equipas, que o FC Porto tem em falta e, se calhar, poderá ser mais usado nessa perspetiva”, refere. Ou seja, vê um avançado que vai muito para lá do que pode oferecer nas quatro linhas. “Ajudar a formar um comportamento, ajudar a formar determinados jogadores, ajudar a elevar o patamar porque, apesar de tudo, o FC Porto não pode ter só 11 jogadores. Tem que ter um plantel muito competitivo e eu acredito que ele vai ser competitivo também para o Samu e que vai acrescentar em relação àquilo que o FC Porto tem neste momento com o Deniz Gul e o Dani Namaso. Portanto, acho que isso é favorável para o FC Porto”, assume.