ENTREVISTA, PARTE II >> Candidato da Lista A não acredita que a temporada dos conquistadores acabe com um final feliz, face às saídas no plantel, principalmente no último mercado de inverno, que apelidou de “debandada”.
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O que tem achado desta época desportiva do Vitória?
-A época começou muito bem e vai acabar muito mal, infelizmente. E é um retrato da presidência de António Miguel Cardoso. É um Vitória que vive de aparências. Parece que está tudo muito bem, mas, na realidade, não está tudo muito bem. Começámos muito bem a Liga Conferência, fizemos um percurso até agora imaculado. Mérito a quem o fez. No campeonato, começámos bem, até um certo ponto e depois começámos a cair e receio, espero que não, mas receio que esta queda seja difícil de travar, porque há uma degradação clara da valia qualitativa da equipa, já que muitos titulares foram transferidos. Começámos a época com o Jota Silva e com o Ricardo Mangas, que são dois jogadores que muito jeito davam a esta equipa. O Jota Silva ainda fez um jogo na Liga Conferência e marcou um golo. Foi vendido. O Ricardo Mangas foi vendido logo a seguir e, agora em janeiro, foi uma debandada.
“A SAD do Vitória, há três anos, tinha um passivo de 46 milhões de euros. Hoje são 67 milhões e o passivo consolidado são 72 milhões”
Os problemas económicos não são motivo suficiente para essas vendas?
-A questão dos problemas económicos é outra aparência que anda por aí. De facto, o Vitória tem problemas económicos. E tem problemas económicos tão graves que esta Direção ainda os agravou. Os números não mentem. A SAD do Vitória, há três anos, tinha um passivo de 46 milhões de euros. Hoje são 67 milhões e o passivo consolidado são 72 milhões de euros. Se me dizem que é uma gestão de sucesso aumentar o passivo em 26 milhões de euros em três anos, eu não vejo onde é que está o sucesso disso. Os problemas económicos que existem, eu percebo, porque também já estive na Direção do Vitória anos que chegassem, tanto no tempo bom, que era o de António Pimenta Machado, como no mau, com o engenheiro Júlio Mendes. Mas, agora, já não seria suposto existirem problemas com esta dimensão, porque, de facto, o Vitória tem feito algumas vendas de jogadores nestes três anos. Há qualquer coisa que está mal explicada. Então entrou tanto dinheiro, fizeram-se tantas vendas e o passivo não reflete isso?
“Enervo-me mais a ver na televisão”
Como é que explica todo este amor pelo Vitória?
-Este amor é de família, somos já cinco gerações de associados do Vitória. O meu avô, quando faleceu, era o sócio número 20. O meu pai, eu, os meus filhos e o meu neto somos todos sócios. É um amor que vem do hábito, das conversas em casa. Morei na Alameda Alfredo Pimenta, no tempo em que o Vitória jogava na Amorosa e eu, miúdo, amuava quando não me levavam ao futebol. Comecei no Vitória. Sou sócio há 52 anos, mas ligado ao Vitória há 40. Comecei no Jornal do Vitória, que saía mensalmente. Escrevi crónicas de jogos e fiz entrevistas a jogadores. Depois, no início dos anos 90, fui para os órgãos sociais pela primeira vez, para a mesa da Assembleia Geral, depois estive em três Direções com o António Pimenta Machado. Fui presidente da comissão que comemorou os 75 anos do Vitória, em 1997. Estive na primeira Direção do Júlio Mendes e na coordenação do Centenário do Vitória. São 40 anos.
E a ver jogos, sofre muito?
-Sofro mais a ver o Vitória a jogar na televisão do que no estádio. Em casa, os jogos que vejo do Vitória são os que decorrem longe de Guimarães, tirando um ou outro. Sofro mais na televisão, porque não temos a proporção do estádio. Só vemos o lance, o plano é mais ou menos aberto. E no estádio, não. Das bancadas temos a visão toda. Gosto muito de observar os detalhes, os pormenores, gosto muito de ver como é que os treinadores agem no banco. Gosto muito de treinadores comedidos, não gosto muito de treinadores mais espalhafatosos. No estádio, de facto, às vezes enervo-me mais, claro que sim. A minha mulher costuma dizer que o único sítio onde me vê enervado é a ver o Vitória de Guimarães, já que normalmente sou uma pessoa calma. Mas em casa protesto mais.