Luís César recorda vitória: "É quando aparece o presidente Pinto da Costa ajoelhado. Foi histórica"
O JOGO inicia uma série de quatro entrevistas - uma por cada década de liderança de Pinto da Costa no FC Porto - com personalidades ligadas ao clube. Luís César, ex-secretário técnico, é o primeiro. A viagem prossegue amanhã, com o "Capitão" João Pinto.
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Conversas de Pinto da Costa antes das finais, segundo Luís César, eram sempre motivacionais. Entre 1982 e 1992 disputou quatro internacionais e venceu três, em que os dragões enfrentaram adversários difíceis no relvado... e não só.
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Pinto da Costa prometeu levar o clube a uma final europeia e conseguiu-o logo em 1984. Que conversas tinha o presidente com as pessoas do clube?
-Eram sempre motivacionais. Sempre disse que as finais não eram para se jogar, mas para se ganhar. "Temos de sair de lá com a certeza de que jogámos para vencer". Agora, há fatores que nós não controlámos. É impossível.
Depois da final de Basileia, chegou a de Viena. Descreva-nos como é que Pinto da Costa abordou essa caminhada?
-Foi jogo a jogo. Depois, quando chegámos à parte final, era o jogo de uma vida. Foi uma alegria imensa, por uma vitória que era impensável. Ainda por cima, nas meias-finais jogámos com o Dínamo de Kiev, que tinha quase a seleção da URSS na altura, e toda a gente fez o funeral ao FC Porto. Mas aconteceu o que aconteceu [vitória por 2-1].
Pinto da Costa dizia que "as finais eram para ganhar" e, após o polémico desaire na da Taça das Taças (1984), atingiu a glória na Taça dos Campeões (1987). Uma conquista "impensável" para muitos na altura.
Partilha da ideia que foi a grande conquista da década e um ponto de viragem?
-Não poderia dizer isso, porque a Intercontinental, em Tóquio, também foi uma grande conquista sob a égide do presidente Pinto da Costa. Agora, foi a maior, porque tínhamos perdido uma final da Taça das Taças da maneira que se lembra. Foi a maior, porque, na altura, era impensável ao FC Porto ganhar ao Bayern Munique.
Por falar em Tóquio. O jogo esteve para não se realizar...
-Sim, é verdade. E aí o presidente teve uma ação decisiva e persuasiva com o árbitro, para que ele fizesse o jogo. Aí, era uma questão enorme de fé que o presidente tinha em como aquele título poderia ser histórico, como veio a ser para o FC Porto. De facto, a um dia de sol sucedeu um dia de neve...
"O Dínamo de Kiev tinha quase a seleção da URSS na altura e fizeram o funeral ao FC Porto"
Até ao início da década de 1990 o FC Porto alternou a vitória no campeonato com o Benfica. Nessa fase, que momento não esquece?
-Existiram algumas alegrias que me levaram a dizer "como é que é possível?". A Supertaça que ganhámos ao Benfica, em Coimbra, em que eles apenas tinham de marcar um penálti para ganhar o troféu e não o conseguiram, enquanto nós marcámos todos. É quando aparece o presidente ajoelhado. Foi histórica.
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"Futre? Também se tentou o Litos"
Luís César teve de "puxar pelo software" para recordar a contratação de Futre ao Sporting. As razões, afiança, são "segredo de estado". Contudo, lembra-se de ter sido chamado "às 2 horas da manhã pelo presidente" para selar a transferência. O extremo era, na altura, um dos jovens mais talentosos dos leões, mas não foi o único que os azuis e brancos tentaram amarrar. "Também se fez uma abordagem pelo Litos, ainda nós estagiávamos no Hotel da Batalha, que não se concretizou", diz o ex-dirigente.
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Proximidade às modalidades existiu desde a primeira hora
Chegado ao FC Porto em 1978 para ser o técnico que mais anos esteve à frente do basquetebol (17 anos), Jorge Araújo não só testemunhou o início da era Pinto da Costa, como lhe deu o primeiro título nacional, em 1983, que recorda através de O JOGO. "A fase final foi no Pavilhão Américo Sá. Na preparação e no decurso dessa fase final, eu senti verdadeiramente a importância de ter um presidente que apoia um treinador e que consegue disponibilizar todos os meios necessários para ser campeão. O presidente Jorge Nuno consegue a inovação de estar muito ligado a todas as modalidades, o que ao longo dos 40 anos de exercício tem mantido. Naquele ano concreto, foi muito evidente o apoio que o departamento de futebol deu ao basquetebol para que aquele título fosse possível", recorda o antigo treinador, reforçando que "ele tem conseguido quase sempre dar esta demonstração de não estar circunscrito ao futebol". Tendo "uma relação circunstancial", o momento marcou ambos. "Já o ouvi dizer que aquele título teve um significado para ele. Pessoalmente, cada vez que me encontra, faz sempre questão de dizer: "Aí está o treinador do meu primeiro título!"", lembra.