Diretor-geral do Lourosa, Nuno Correia, saboreia a subida agora acrescentada de título da Liga 3. Antecipa projeto forte da equipa para a sua estreia nas lides profissionais, até porque há uma devoção dos adeptos moralizante e pouco comum
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Nuno Correia, 40 anos, viu coroada a sua decisão de trocar o agenciamento por um cargo mais alimentado pelas emoções do jogo, aceitando o desafio do Lourosa no Campeonato de Portugal há três anos. O diretor-geral do clube orgulha-se do caminho encentado, do destino materializado, marcado por duas subidas, título da Liga 3 agora selado, e uma deceção gigante pelo meio, que acentuou a força e obstinou o sonho. Pela primeira vez em 101 anos de história, o emblema de Santa Maria da Feira, rival de décadas do Feirense, atingiu as lides profissionais, num plano arquitetado pelo presidente Hugo Mendes, a partir da Distrital.
O matosinhense Nuno Correia, que já tinha sido diretor-geral no Infesta, abalando depois para o agenciamento de atletas, veio dar ajuda neste empoderamento do Lourosa no mapa nacional, no planeamento e nas decisões adjacentes ao comando técnico e plantel. Subiu-se, morreu-se na praia, mas a paixão imperou sempre, com exército fanático de adeptos por detrás. Por onde passava, a armada lusitanista arrastava multidões, conseguindo médios de assistência em algumas jornadas compatíveis com o top 10 a nível nacional, jogando na Liga 3.
A chamada ao banco de Pedro Miguel, repleto de épocas na Oliveirense, foi a mão decisiva que ajudou a pintar o sucesso. O triunfo sobre o 1º Dezembro libertou uma febre aprisionada, saindo à rua uma satisfação esmagadora, até pelo sofrimento de um play-off de acesso à Liga 2 perdido na época passada para o rival Feirense.
"Foi um prazer enorme, um sentimento único. Foi difícil cair em mim por este feito histórico, não temos ainda verdadeira consciência. E somar o título foi épico. Acho que aquilo que se passou na temporada passada serviu de aprendizagem e foi algo fulcral para o que aconteceu este ano", desabafa Nuno Correia, complementado a ideia de que um fracasso alimentou tamanha graça.
"A subida começou com a não subida da última época. Este projeto tem-me há três mas já é levado pelo presidente há oito. Tivemos que lidar com algumas nuances, porque inicialmente a aposta foi no técnico Renato Coimbra e os jogadores contratados foram para jogar numa tática específica. Tivemos de fazer ajustes com entradas e saídas mas o segredo do grupo foi o caráter de grandes homens. Depois uma equipa técnica muito experiente. O Pedro Miguel, que estava um pouco afastado, acreditou no nosso projeto e rapidamente vimos nele um brilho nos olhos. Uma alegria que não tem preço, juntando tudo isto à ambição do presidente. Sem ele nada seria possível, não ignorando os adeptos e todo o staff", avalia o diretor, descrevendo o espírito do suporte do público que grassa nas bancadas.
"Conseguem ser do melhor e do pior ao mesmo tempo. Mas digo isto com normalidade. São, efetivamente, muito fervorosos, exigem imenso de todos nós e fazem com a equipa esteja sempre no máximo. Isso agrada-me e atrevo-me a dizer que somos o clube que mais adeptos levava fora e aquele que mais usufruía da força dos seus adeptos em casa. Foram o 12.º jogador, empurraram-nos para muitas vitórias. Foram fantástico, esta subida é para eles", defende.
"Foi um passo arriscado, não era um Jorge Mendes"
Já sobre o futuro que se desenha para o Lourosa na Liga 2, se essa participação será alimentada por mais pensamentos audazes do presidente, Nuno Correia resfria expetativas nesta fase.
"É cedo para falar disso, há que desfrutar do momento e de um trabalho duro. A pressão é muita e há um descarregar de energia. Queremos todos que o Lourosa se afirme nas ligas profissionais, de forma sustentada. É o passo a seguir, melhorando os recursos e as infraestruturas. Sabemos que temos um presidente ambicioso, sabemos o que ele quer e os passos que devem ser dados para lá chegar", regista o diretor-geral.
"É a primeira vez que o Lourosa vai disputar uma prova profissional, isso implica a definição de estratégias e isso será sempre de dentro para fora, a partir da cabeça do nosso mentor", afirma Nuno Correia, saboreando o seu momento aos 40 anos.
"O mundo do futebol é complicado, se ganhas és o melhor, se perdes deixas de ter valor. Não gosto de projetar muito, sei das minhas capacidades e competências, sei o homem que sou. O maior objetivo é ter sucesso, não me importam as divisões, sou mais de projetos, ideias e fundamentos. Estarei onde queiram que esteja, desde que sinta condições e me deixem trabalhar. Com o presidente falaremos em breve sobre as arestas que há a limar", afere, completando com a sua troca de papéis, assumida há três épocas.
"Foi um passo arriscado, porque não era qualquer Jorge Mendes. Mas tinha uma vida estabilizada. Foi um risco, chamaram-me maluco ao saberem que vinha para este projeto. Decidi sair da zona de conforto, pelo clube que era, pelo presidente, sendo alguém que sempre estimei. Vi o Lourosa com condições, com uma massa adepta diferenciada e achei que podia deixar a minha marca. Recebi licença para contratar, poder de decisão, liberdade para trabalhar. Isso contribuiu para que aceitasse o clube, estando hoje realizado."