Guarda-redes japonês soube esperar pela sua hora e hoje é o dono da baliza algarvia, garantindo que até aprendeu muito com Samuel Portugal, agora no FC Porto.
Corpo do artigo
Kosuke Nakamura teve de esperar duas épocas para se afirmar no Portimonense. Trocou o Japão pela aventura europeia, rodou nos sub-23, colocando até "de lado" o estatuto de internacional nipónico, depois foi suplente de Samuel Portugal e agora está de pedra e cal na baliza dos algarvios.
Seguro e eficaz entre os postes, o internacional nipónico reconhece que tem feito bons jogos e promete continuar a nível alto no futebol europeu e no clube que elege como sendo, agora, a sua família.
"Continuo a achar que tomei a opção certa. Estou satisfeito, até porque, para mim, a nossa vida tem sempre um lado positivo e outro, se calhar, menos feliz. Nesta altura, sou muito feliz", diz o guarda redes, que, em conversa com O JOGO, fez questão de responder a quase todas as perguntas em português.
O período que passou na sombra de Samuel, garante, "foi o necessário" para adquirir mais rodagem. "O Samuel estava bem e eu também aprendi muito com ele. Se senti desânimo? Queria jogar mais vezes, claro, mas quando estava no banco sabia que estava a ajudar o meu companheiro e o Portimonense", assinala com a tão peculiar filosofia oriental, em que quase tudo tem uma explicação e uma justificação.
No passado mês de setembro, quando o guardião brasileiro foi transferido para o FC Porto, Kosuke assumiu a baliza. "Estava pronto, sim, inclusive porque um atleta tem de trabalhar para poder corresponder às solicitações do treinador e ajudar a equipa. Sentia-me bem, física e psicologicamente, e a prova é que acho que tenho correspondido", prossegue, referindo que, depois de se habituar "a outro país e a outra liga", tudo ficou mais fácil. "Durante estes meses tenho feito alguns bons jogos", reconhece, com a certeza de que a passagem pelos sub-23 "foi importante para ganhar ritmo" e consolidar a experiência que já trazia do seu país.
15551856
Com o regresso do campeonato à porta, o que importa é "somar pontos, cada vez mais", para evitar o relativo susto da última época, quando a segunda volta "não foi tão boa e ficou abaixo das expectativas." Por isso, prossegue o japonês, "temos de alcançar a tranquilidade absoluta o mais cedo possível." Sobre a paragem que teve a liga, é pragmático no comentário: "Quando recomeçarmos a jogar é que podemos ver se estamos melhor ou não. Acredito que sim, que vamos acumular muitos pontos, mas falaremos mais tarde."
Kosuke tem 27 anos "e muitos mais de futebol pela frente, a exemplo do Miura", atira, com um sorriso brincalhão, aludindo ao seu compatriota que, aos 55 anos, ainda joga e chegou a ser apontado à Oliveirense. "Quero continuar a bom nível no futebol europeu e permanecer forte no meu clube. Estou muito feliz", repete o dono da baliza dos algarvios, que tem contrato até 2025, com mais uma época de opção, e está blindado por uma cláusula de 40 milhões de euros. Internacional pelo Japão em seis ocasiões, esteve no Mundial de 2018, embora não tenha atuado, e nos Jogos Olímpicos de 2016, além de ter representado, igualmente, as seleções mais jovens do seu país.
"O Márcio é muito bom na cozinha"
"Vivo sozinho e a minha família é o Portimonense", sublinha Kosuke, que, todavia, convive com compatriotas que também representam o clube, casos de Kawasaki, Assano e Toki, dos sub-23, o massagista Keisei Toda e Márcio Abematsu, o tradutor. "Quando não há treino e podemos, vamos todos almoçar a casa do Márcio. Ele é muito bom na cozinha e acho que vai abrir um restaurante", atira Kosuke, com uma gargalhada, já que esta parte de "abrir um restaurante" é pura brincadeira. Ainda a falar de japoneses, o dono da baliza alvinegra só há pouco tempo conheceu Fujimoto, do Gil Vicente, mas Morita, do Sporting, "é um velho amigo, já estivemos juntos na seleção".
Mundial do Catar: duas grandes vitórias no "orgulho do Japão"
Kosuke podia ter marcado presença no Mundial do Catar, mas, quando começou a ser titular, já era tarde. "Se tivesse sido antes, teria mais hipóteses. Mas os convocados foram bem escolhidos e mereceram", diz, sem azedume. Quanto ao mais, só elogios. "Obtivemos duas grandes vitórias, com Alemanha e Espanha! A seleção foi incrível e tornou-se o orgulho do Japão. O Gonda [ex-guardião do Portimonense] esteve sempre bem e é um verdadeiro líder", assume, vincando que vai voltar a defender a baliza da sua seleção.