Ex-presidente do Vitória assume, nesta entrevista a O JOGO, que vai entrar na corrida à sucessão de Pedro Proença na liderança da Liga Portugal
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Quase seis anos depois de ter deixado a liderança do Vitória, Júlio Mendes entende que tem condições para ser o 11.º presidente da Liga Portugal. Promete construir a Liga “mais eficiente de sempre” e propõe medidas inéditas na arbitragem.
Confirma que é candidato?
-Sim. Já falei com praticamente todos os clubes e tenho tido um “feedback” muito positivo. A maior parte incentiva-me e adere às nossas ideias e ao nosso projeto para o futuro da Liga, que encerrará um ciclo para começar um novo, que tem como charneira a centralização dos direitos televisivos.
Quais são os principais motivos que o levam a candidatar-se?
-Acho que poderei ser bastante útil nesta fase crucial para o futuro do futebol português. Pela experiência que tenho na vida pública, pelos conhecimentos que adquiri na política - fui vereador na Câmara de Guimarães, e não só - e também pela experiência no futebol. Fui presidente sete anos de um clube profissional bastante exigente, que me garante a experiência para perceber quais são as dificuldades com que se debatem os clubes das ligas profissionais.
Como surgiu a ideia de candidatar-se?
-Tive vontade no passado. Existia um grupo, o G-20, em que se cogitou a hipótese de eu ser candidato, na altura em que estava o Mário Figueiredo. Tive uma oposição muito forte por parte do Benfica, o Luís Filipe Vieira achava que a solução não seria eu, e não avancei. E, mais do que a oposição do Benfica, porque achava que tínhamos de ter um projeto que garantisse estabilidade, tinha um compromisso com o Vitória. Hoje não tenho, estou livre, tenho disponibilidade, motivação e o importante incentivo por parte dos clubes. Se não o sentisse, continuaria no meu espaço de conforto.
Como está a sua base de apoio?
-Não tenho estado a pedir apoio a nenhum clube, julgo que não o devo fazer nesta fase. O que pretendo é conversar com eles, ouvi-los, dizer-lhes o que penso e, sobretudo, perceber se no dia da eleição poderei contar com o seu voto. O mote da minha candidatura é “a Liga é dos clubes”. Não acredito em homens providenciais. O presidente da Liga tem de ser um agregador, que faça pontes, ter um papel político e fazer-se rodear de equipas competentes nas várias áreas. É importante perceber se há uma sintonia entre esta minha forma de ver a liderança da Liga e os clubes.
Sente que está preparado para ser presidente da Liga?
-Obviamente. Fiz parte da primeira Direção da Liga, quando Pedro Proença foi eleito presidente, participei de forma ativa na elaboração dos novos estatutos. Conheço a Liga por dentro e o futebol na sua essência. Julgo que reúno as condições necessárias para poder interpretar o que é essencial para os clubes, para a sua gestão do dia-a-dia, e para iniciarmos um novo ciclo que vai centrar-se à volta de uma obrigação legal, que é a centralização dos direitos televisivos. Não é um processo fácil, mas vai necessitar de assentar a nossa ação em palavras fortes como rigor, transparência, justiça e equidade, valores em que acredito e que são absolutamente fundamentais para o futuro da Liga.
O que trará de novo à organização do futebol português?
-Rigor, credibilidade, transparência, equidade, justiça e uma vontade muito grande de construir a Liga mais eficiente de sempre, num novo paradigma muito exigente, de credibilizar o futebol. Quando falo em credibilizar o futebol, estou a falar em vários patamares, inclusive ao nível da arbitragem; e melhorar as receitas dos clubes, para que a sua competitividade também aumente. Temos algumas desvantagens competitivas quando nos comparamos com os clubes das competições europeias, por exemplo, na medida em que temos carga fiscal mais alta, o que nos obriga a perder talento mais cedo. Temos a questão do IVA, que também deve ser resolvida e que tem um impacto grande nas contas dos clubes. Temos um problema que carece de resolução urgente: a carga que têm os prémios de seguros. Tirando os grandes, que têm outros argumentos, os clubes têm, em média, um peso de 12% da massa salarial em prémios de seguros.
O que quer dizer com credibilizar a arbitragem?
-A arbitragem tem de deixar de estar fechada sobre si mesma. É necessário um VAR no Porto, para que cada clube aí coloque um seu delegado de arbitragem durante o jogo; os do norte, no Porto, e os do sul, em Lisboa. Uma entidade empresarial detida pela Liga e FPF tem de ser uma realidade e tem de obedecer a um caderno de encargos definido pelas sociedades desportivas. O seu governo deve reger-se por critérios de escrutínio semanal baseado em critérios objetivos e científicos com a colaboração de entidades autónomas e isentas, como é o caso das universidades. Isto é absolutamente fundamental para a credibilização da arbitragem e dos seus agentes e para a valorização da indústria do futebol. Não haverá internacionalização que resista à falta de competitividade e verdade desportiva.
Como avalia o legado de Pedro Proença?
-Neste momento isso não importa. Nas instituições, o princípio fundamental é o da melhoria contínua. Não importa o que se fez antes, mas o que se vai fazer a seguir. E o que se vai fazer a seguir tem de ser melhor, e eu vou para fazer melhor. Para fazer igual já alguém fez, e o que eu me proponho é fazer melhor do que o que se fez.