ENTREVISTA (Parte 3) - José Fernando Rio vê uma confusão total entre clube e SAD e propõe um novo modelo. Defende que têm de ser contratados profissionais que estejam comprometidos com a sociedade.
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Rio pretende transformar o FC Porto numa SAD atraente para os investidores.
A entrada de um novo investidor está nos planos?
-Não. Comigo, o FC Porto jamais perderá o controlo da SAD. Neste momento, o FC Porto tem 77 % do capital da SAD e pode vender uma parte desse capital, porque poderá ter 70, 60, 55... Agora, não pode perder o controlo da SAD. Isso seria uma coisa imperdoável para os sócios.
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E alguém estará disponível para investir sem ter a maioria da SAD?
-Não acredito que existam muitos que queiram aplicar o seu dinheiro e não queiram mandar. Mas as ações do FC Porto são transacionadas na bolsa e, quem quiser investir, pode. Se conseguirmos tornar o FC Porto num investimento atraente, em que as ações possam ser valorizadas ano após ano, em que haja uma gestão rigorosa, transparente, profissional, com contas positivas, acredito que, nessa altura, se possa atrair mais capital para a SAD. Mas sem nunca perder o controlo da SAD.
Defende um mínimo de elementos comuns entre a Direção do clube e SAD. Isso significa também um presidente diferente?
-Significa que não pode haver uma confusão total entre o clube e a SAD. E neste momento isso existe. Apenas um dos elementos executivos da SAD não faz parte da Direção e julgo que isso não é saudável. Tem de haver uma distinção. Mas o que me preocupa mais é a transparência, o rigor e o profissionalismo com que a SAD tem de ser administrada. A SAD do FC Porto tem de ter ao seu serviço os melhores profissionais que possa contratar. Proponho uma redução dos salários da administração, mas mesmo assim é possível contratar gente capaz, profissional, comprometida.
"Não pode haver uma confusão total entre o clube e a SAD. E neste momento isso existe"
Quem faria a ponte?
-O presidente tem de ser o alto representante dos interesses do clube na SAD. Depois poderá haver um ou dois elementos comuns.
Apesar de existir esse elo de ligação, dois poderes diferentes não poderiam levar a divisões internas?
-Não. Sendo o clube o dono da SAD, é ele que define o destino e as políticas da SAD. A defesa dos interesses do FC Porto faz-se com o presidente à frente da SAD. Será ele o garante da defesa dos interesses dos adeptos e sócios. Muitas vezes diz-se que eles não têm nada que ver com a SAD, só os acionistas, mas não é verdade. O maior acionista da SAD é o clube e o clube é dos sócios.
"NAMING PODE DAR CINCO/SEIS MILHÕES DE EUROS"
Que tipo de receitas espera conseguir?
-Há aspetos que não estão suficientemente trabalhados e valorizados que poderiam gerar muito mais receitas. Estou a falar, por exemplo, da bilheteira. O FC Porto tem de aumentar a média de assistência do Dragão. Isso faz-se com uma equipa de futebol mais competitiva, mas também com uma experiência que tem de ser proporcionada aos sócios que possa gerar receitas. O FC Porto tem o "naming" do estádio para negociar, de preferência com uma empresa internacional de prestígio, porque participa regularmente na Liga dos Campeões...
Quanto poderia render o "naming" do estádio?
-Uma verba a rondar os cinco/seis milhões por ano, que pode ser muito importante para as finanças do clube e que até poderá permitir investir no plantel. Além disso, há os direitos televisivos, que estão negociados por alguns anos, mas que podem ser revalorizados. Sou a favor da centralização dos direitos, porque o aumento da competitividade vai traduzir-se em benefícios financeiros para todos. Numa primeira fase os grandes poderão perder um bocadinho, mas depois acabarão por ter benefícios, por força da maior visibilidade da liga portuguesa.
"O CORTE NO VENCIMENTO NÃO É CEGO"
Como será feito o corte no vencimento dos administradores da SAD?
-A fixa reduzirá para metade. Isto não é um corte cego. Surge depois de analisar o mercado e pode permitir poupar cerca de 800 mil euros por ano. Implementaremos uma remuneração variável, que neste momento não existe. O que existe é um sistema em que a Comissão de Vencimentos atribui uma gratificação se acontecerem determinadas coisas que nem estão estipuladas, nem são claras ou transparentes. Ela terá duas vertentes: a desportiva e a financeira. Ou seja, terão de existir um conjunto de fatores que serão estabelecidos no começo de cada mandato. Depois, podemos cortar na rubrica de fornecimento de serviços externos, porque muitos podem ser feitos dentro de casa. E há a reestruturação da dívida, tentando alargar os prazos e pagar menos juros.
"Neste momento é difícil as pessoas darem a cara. Há um respeito e um medo por Pinto da Costa"
"PESSOA EXPERIENTE NO FUTEBOL"
Quem vai liderar a a gestão do futebol?
-Tem de ser uma pessoa com experiência, que tenha sido jogador, treinador, uma referência do FC Porto, com capacidade de liderança e de gestão. Já conversámos com alguns, mas neste momento é difícil as pessoas darem a cara. Há um respeito e um medo pela referência Pinto da Costa e, portanto, mesmo os que já não concordam com o que se passa e que percebem que, se calhar, o ciclo já terminou, não querem dar a cara. Mas acredito que, no dia em que ganhar, poucas horas depois estarão ao meu lado.
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