Jorge Costa e Hélder Cristóvão em duelo como treinadores: "Choques constantes e a doer"
Jorge Costa e Hélder Cristóvão, antigos centrais de FC Porto e Benfica, defrontam-se pela primeira vez como treinadores no Aves SAD-Penafiel, na segunda-feira.
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De um lado Jorge Costa, 51 anos, 383 jogos pelo FC Porto, do outro Hélder Cristóvão, 52 anos, 230 pelo Benfica. Rivais de imensos clássicos e colegas de Seleção Nacional, quase sempre rivais também por um lugar ao lado de Fernando Couto. As carreiras de técnicos, bem distintas, por sinal, conduzem, agora, ao primeiro confronto de ideias, olhos nos olhos a partir do banco. Aves SAD e Penafiel cruzam-se com dois pesos pesados ao leme e com Jorge Costa na mó de cima, tendo colocado o conjunto sediado na Vila das Aves no primeiro lugar da II Liga. Já o Penafiel chega ao embate com contas mais difíceis e, emocionalmente, marcado por penosa derrota em casa com o Nacional.
Mas é na dimensão dos técnicos que sabe que há sempre traquejo para dar a volta e cimentar novos ciclos. Técnicos vividos, com carreiras de topo enquanto jogadores, mil e uma provações e provas de fogo constantes.
O lastro de Jorge Costa, a partir do banco, pode distanciá-lo de Hélder Cristóvão, já que um conta com 82 jogos na I Liga e outro ainda não entrou nesse universo. Símbolos de uma era ao serviço de FC Porto e Benfica, Jorge Costa e Hélder são aqui escalpelizados por Paulo Alves, o campeão da II Liga na temporada passada, que foi companheiro de ambos na seleção sub-21 e na principal.
"Primeiro é preciso dizer que eram dois grandes profissionais, de compromisso, diferentes nas características. O Jorge, duro na marcação e sempre com sangue na guelra, imbatível nos duelos , e o Hélder mais posicional, forte nas antecipações e com boa saída de bola. Fui adversário de ambos e era garantido uma tarde ou noite difícil, eram tempos de marcações individuais, por isso os choques e duelos eram constantes e a doer. Nem eu fugia deles", recorda Paulo Alves, muitas vezes convocado para disputas com ambos, enquanto avançado do Sporting, do Marítimo e do Gil Vicente. Escapava na Seleção ao melindre de os ter como rivais.
"Amigo, não te quero dar porrada"
Paulo Alves mantém amizade com Jorge Costa e Hélder e vai ao baú das memórias. "Tenho ótima relação com ambos. Mas recordo que com o Hélder não havia muita conversa nos jogos, pois ele era muito compenetrado nas tarefas. Com o Jorge era mais engraçado, ele dizia sempre "amigo, não venhas para a minha beira, não te quero dar porrada". Eu respondia "vais ter de dar amigo, só sei jogar nesta posição". Como eu jogava muitas vezes de costas e como os árbitros ainda deixavam utilizar os cotovelos, dava troco!"
Vantagem de Jorge Costa no investimento
"A convivência na seleção era boa, havia, claro, o Fernando Couto, outro grandíssimo central. Tinham que lutar pela posição, obviamente algo relacionado com a prestação nos clubes e a análise do selecionador. Entre os três, qualquer dupla dava garantias. Sempre foram leais e comprometidos nessa rivalidade sadia", reporta Paulo Alves. Lado a lado, Jorge Costa e Hélder Cristóvão fizeram dez jogos pela equipa das Quinas.
Hoje técnicos, Paulo Alves identifica os traços de ambas as personalidades. "Um treinador expressa a sua personalidade. Vejo o Jorge mais intenso, enérgico, transmitindo sempre a alma e a raça que o caracterizaram como jogador. O Hélder é mais calmo, com um jogo mais articulado, fruto talvez da passagem pela formação do Benfica, que privilegia um jogo curto e apoiado", descreve. "São, no fundo, duas formas distintas de abordar o jogo, no fundo a mesma distinção que tinham como jogadores", resume o antigo ponta-de-lança e treinador do Moreirense na última temporada.
Conhecedor perfeito da realidade da II Liga, bem sucedido com subidas no currículo. "Há diferentes formas de se atingir o sucesso, o segredo está na capacidade de potenciar ao máximo as capacidades dos jogadores que cada um tem nos plantéis. O Jorge tem vantagem, porque parece-me ter maior investimento e uma equipa que na sua maioria transita da época passada e se conhece, o que facilita o trabalho do treinador", sublinha, olhando ao momento da equipa penafidelense, orientada por Hélder. "O Penafiel mudou um pouco a abordagem que teve nas últimas épocas, trocando jogadores experientes e batidos na prova por jogadores mais jovens, tentando a sua valorização. É algo que pede tempo e dificulta a obtenção de resultados imediatos, como se constata no início difícil do Penafiel", argumenta o campeão.