João Mário realizou sonho de menino: do choro dos pais à depilação que Pepe exigiu
João Mário esperou onze anos para vestir a camisola da equipa principal. Na mesma noite ainda festejou o título nacional e os pais, em casa, não aguentaram a emoção.
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João Mário entrou nas escolas do FC Porto em 2009 e onze anos depois cumpriu dois sonhos, ambos no mesmo dia: estreou-se pela equipa principal e foi campeão nacional.
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Os pais, Mário Jorge e Susana Neto, sempre acompanharam o filho para todo o lado, mas tiveram de ver em casa - culpa da pandemia - o momento mais especial de todos estes anos, quando o extremo pisou pela primeira vez o relvado do Dragão. O pai, que trabalha por turnos, deveria ter entrado às 22h15, mas até pediu para chegar duas horas mais tarde, porque achava mesmo que o filho ia ser lançado no clássico com o Sporting. "Abraçámo-nos quando ele entrou. Eu chorei durante os minutos todos em que o João esteve em campo. Chorámos os dois", conta a mãe, Susana.
Os pais do internacional pelas seleções jovens já tinham contado a O JOGO, a 18 de maio, que a mãe ferve bastante nos encontros do filho. Frente aos leões não foi diferente, mas depois a emoção sobrepôs-se às palavras. "No início não me calava e o Mário dizia que ia ver o jogo para outra televisão. Mas depois controlei-me. Quando ele entrou, perdi o pio e só chorei. Quando ele levou amarelo, disse para comigo própria como era possível o meu menino, que não faz mal a uma mosca, ver logo um amarelo", relata-nos. Depois, aos 90", João Mário quase marcou...
"Fiz uma videochamada com ele no balneário, mas só vi o teto"
"Ele ligou a mota e pensei que o meu menino ia marcar ao Sporting, ia dar o golo que confirmava o título... ele faz sempre algo especial com os grandes", assegura. "Se o João estivesse mais confiante, se calhar dominava e passava ou fazia golo", atesta Mário Jorge que partilha com o filho o sentimento de gratidão eterna para com Sérgio Conceição. "O João farta-se de dizer que está muito agradecido ao Sérgio Conceição pela oportunidade", atira.
As cuecas, a depilação e a falta de sono
O relógio batia as duas da manhã quando João Mário chegou a casa, "Agarrei-me a ele a chorar de alegria. O João mostrou-me a camisola de jogo, que tresandava a cerveja da festa, o cachecol e a t-shirt alusiva ao título. Coloquei o cachecol na varanda e ali vai ficar uns dias. Estive com ele no quarto a ver algumas fotos, depois deixei-o viver o momento e notei que ele demorou a adormecer. No dia seguinte até acordou cedo", narra Susana. O pai chegou às 6h00 do trabalho e só pela hora de almoço é que pediu ao filho detalhes da festa. "Ele ainda está tão extasiado que nem consegue contar grande coisa. Disse que o Sérgio Conceição lhe pediu para dar tudo e para acrescentar velocidade, antes de entrar. O Luís Gonçalves também falou com ele e contou que o treinador de guarda-redes estava sempre a fazer palhaçadas no balneário", afirma Mário. "Fiz uma videochamada com ele no balneário, mas só vi o teto porque o João estava radiante", acrescenta Susana.
Mário Jorge deveria ter ido trabalhar às 22h15 na noite do clássico, mas pediu para chegar mais tarde. No balneário, Alex Telles brinca com as cuecas do ala e Pepe manda os mais jovens... depilarem-se
Próximos de Mbemba, João Mário e os restantes jogadores mais novos do FC Porto têm de aguentar com as brincadeiras de Pepe e Alex Telles. O central exigiu que os miúdos se depilassem da cabeça aos pés quando passaram a treinar com a equipa principal e o lateral-esquerdo diz que o extremo não tem grande gosto para escolher cuecas.
Onze anos depois, Mário Jorge não esquece que o filho não pôde ser "uma criança normal". "O João recebia brinquedos de toda a gente e alguns estão novos, pois ele não teve tempo para brincar por causa dos jogos, treinos, das idas às seleções, dos torneios, da escola... É preciso muito espírito de sacrifício para chegar aqui. Se calhar, outros ficaram pelo caminho e tinham tanta ou mais qualidade, mas a conjuntura do futebol atual deu esta oportunidade ao João", termina.