Declarações de João Gião, treinador da equipa B do Sporting, ao Canal 11
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A subida à II Liga após sete anos: "Chegar à II Liga é um patamar competitivo completamente diferente. Vai exigir de nós outro tipo de competências, vai expor os jogadores do ponto de vista mediático, todo o tipo de contexto que faz com que o processo seja acelerado. Em termos coletivos, é a maior conquista, permitir aos jogadores que tenham um estímulo mais elevado para que possamos acelerar o processo e aproximar ao patamar da equipa A, estão muito mais preparados os jogadores que façam o mesmo número de jogos na segunda liga do que na Liga 3."
A comunicação entre equipas técnicas: "Tive a sorte de entrar numa estrutura que, apesar das mudanças ao longo da época, acabou por estar bem oleada. O processo é muito simples, toda a gente está envolvida, nomeadamente Rui Borges. As decisões têm de ser sempre tomadas pela estrutura, e não por um só treinador. Sendo eu um treinador de uma equipa de formação, não pode estar completamente a meu cargo toda e qualquer escolha relativamente a determinado jogador."
A proximidade com Rui Borges: "Não me lembro de uma semana em que Rui Borges não tenha visto, pelo menos, 10 ou 15 minutos de um treino nosso por semana. As decisões são partilhadas pela estrutura, pelos treinadores e pelas chefias da academia. Esta academia é particular, o facto de ser relativamente pequena torna o ambiente mais acolhedor. Falamos informalmente mais vezes, ajuda a facilitar o processo. Rui Borges é sempre posto ao corrente do dia a dia da equipa B, da forma como treinam, em que momento está, acaba por ser uma informação diária."
A evolução e salto dos jogadores: "A estrutura desenvolve o trabalho e tem uma palavra a dizer para formar um grupo de elite. Em última análise, Rui Borges, em função das necessidades da equipa A, das suas conceções para a equipa, vai fazendo as suas escolhas, em última análise, a escolha é dele, mas tem os inputs da parte da estrutura."
Dos jogadores que teve a oportunidade de treinar quais o impressionaram mais? "Tantos, sobretudo, quando era adjunto tive a oportunidade de treinar até internacionais portugueses como o Zé Castro e o Hugo Almeida. Outro jogador que me impressionou, até pelo percurso que fez, não o caminho mais normal, foi o Amdouni [avançado que representou o Benfica], que orientei no Lausanne [em 2021/22]. Também o Toti Gomes, que chegou ao Grasshopper com um jogo no Estoril, e está agora no Wolverhampton, é internacional português."
Jogadores dos bês que podem chegar à I liga e ao plantel principal? "Não vou fazer futurologia. Dou grande importância à mentalidade, acredito que muitos jogadores podem chegar à I Liga, porque estes jogadores demonstraram grande mentalidade, o que nos ajudou a atingir os nossos objetivos."
A gestão de expetativas dos bês e equipas na II Liga interessadas: "É normal que jogadores em equipas B, que não têm projeção na equipa A, comecem a ser abordados por outros clubes e que queiram dar um passo na carreira noutro contexto. É preciso explicar motivos de estarem naquele patamar."
Como surgiu o convite do Sporting? "Surpreendeu-me. Nunca estabeleci metas, queria atingir isto, ser treinador principal, mas sem pensar a idade em que chegaria lá. Estava feliz como adjunto. Saímos do Moreirense, dá-se a saída do João Pereira para a Turquia e endereçaram-me um convite, já tinha tido uma ou outra abordagem que não sentia ser o contexto certo. Esta sim, Bernardo Palmeiro e Flávio Costa, que já me conhecia e tem feito um percurso incrível no scouting, falaram comigo. Pareceu-me uma estrutura muito fiável, o contexto da equipa B pareceu-me o ideal. Não hesitei, o que mais me agrada é ter podido corresponder à estrutura e ao presidente que me convidaram. Fizeram uma aposta com algum risco, nunca tinha sido treinador principal. À partida não volto atrás, gostei. Gosto de liderar equipas técnicas. Sentir que estou a ajudar pessoas a atingir outros patamares também."
Quando chegou, falou-se do sistema de jogo, repercussões na equipa B? "Não me foi exigido que jogasse no mesmo sistema da equipa A, acabámos por fazê-lo por uma questão de dinâmicas e sabendo que podia ajudar os jogadores se fossem chamados à equipa A. Achámos que poderia ser importante. "
Se Rui Borges mudar para um sistema diferente, a equipa tentará adaptar-se? "Sim, os jogadores têm de procurar adaptar-se a diferentes sistemas. Já quase todas as equipas atacam de uma forma e defendem de outra, os sistemas são muito híbridos. O Rui Borges foi mudando ao longo da época também. O que é importante, enquanto formador, é que os jogadores percebam as ligações com os colegas em cada momento. Os comportamentos não são assim tão díspares de uma linha de quatro para cinco. Na preparação da próxima época vou conversar com Rui Borges, com a estrutura, a equipa B está ao serviço da equipa A."