Francisco J. Marques: "Os Panama Papers e a Wikileaks também se baseiam em informação privada"
Diretor de comunicação do FC Porto defende-se com outros casos de divulgação de informação sensível
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Francisco J. Marques disse esta quarta-feira no Juízo Central Criminal, em Lisboa, que não se arrepende de ter divulgado, de forma geral, a informação relativa ao universo benfiquista que constava num conjunto de e-mails retirados do sistema informático das águias.
O diretor de comunicação do FC Porto comparou mesmo este caso com "os Panama Papers ou com os Wikileaks", que também se "baseiam em informação privada". "Tem que se medir entre o bem da privacidade e o bem da sociedade em ter acesso à informação e foi isso que nós fizemos. Não vejo que tenhamos decidido mal", acrescentou.
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J. Marques explicou também que não decidiu entregar logo a informação (cerca de 20 gigas em correio eletrónico) à PJ. "Tinha a noção de que ao Benfica nada acontece", afirmou, como uma das justificações para essa decisão inicial.
"Ponderei e decidi não entregar às autoridades, porque se entregasse 'per si', não ia acontecer absolutamente nada", prosseguiu, lembrando depois que tinha em sua posse material "especialmente grave, de um ponto de vista ético muito reprovável".
Disse depois, porém, que "sempre" esteve "disponível para entregar toda a informação" apesar de não pretender ser ele a dar o primeiro passo.
"Tive sempre disponibilidade para entregar, mas o passo nunca seria meu, porque eu achava que não me iria acontecer nada", declarou, justificando esta afirmação da seguinte forma: "Nunca me passou pela cabeça porque tinha visto o Pedro Guerra fazer a mesma coisa na BTV, no Apito Dourado. E o Paulo Gonçalves também fez divulgações do género, com relatórios de árbitros."
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Este caso da divulgação dos e-mails remonta a 2017 e 2018, na sequência da divulgação no Porto Canal de correio eletrónico que terá sido retirado do sistema informático do Benfica.
O julgamento tem como arguidos o jornalista e ex-diretor do Porto Canal Júlio Magalhães, o diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, e Diogo Faria, diretor de conteúdos do canal dos dragões.
Francisco J. Marques é acusado de três crimes de violação de correspondência ou de telecomunicações, três crimes de violação de correspondência ou de telecomunicações agravados, em concurso aparente com três crimes de devassa da vida privada, e um crime de acesso indevido. O diretor de comunicação do FC Porto responde ainda por cinco crimes de ofensa a pessoa coletiva agravados e um crime de ofensa à pessoa coletiva agravado na sequência de uma acusação particular.
O diretor de conteúdos Diogo Faria responde por um crime de violação de correspondência ou de telecomunicações e um crime de acesso indevido, além de um crime de ofensa à pessoa coletiva agravado em acusação particular.
Por último, Júlio Magalhães está acusado pelo Ministério Público de três crimes de violação de correspondência ou de telecomunicações agravados, em concurso aparente com três crimes de devassa da vida privada, bem como cinco crimes de ofensa a pessoa coletiva agravados.