ENTREVISTA - Leonel Pontes percorre com orgulho o nome de muitos que lhe passaram pelas mãos, desfia os grandes tesouros encarados no Sporting e até a hierarquia do impacto que foi causado de tenra idade
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Um retrato sobre um contributo de notáveis carreiras a partir do trabalho em Alcochete.
Invade-lhe a nostalgia ao olhar para os diamantes que potenciou?
-Há uma geração de jogadores que já terminou a carreira e que tive o privilégio de crescer com eles, não só no percurso da formação como no futebol profissional. Refiro-me a Beto, Carriço, Yannick Djaló, Hugo Viana, Miguel Garcia, Paulo Sérgio, Emídio Rafael, Pereirinha, Alemão, Carlos Saleiro, André Marques, Mário Tomás, Semedo, Fernando Ferreira, Carlos Martins, Silvestre Varela, Custódio e muitos outros, que acabaram por não ter carreira a alto nível, mas mantiveram-se ligados ao futebol. Conservo uma relação de amizade e respeito com todos e, sempre que estamos juntos, é recordar velhos tempos, peripécias vividas, dificuldades e alegrias. Existem uns trintões que ainda estão no ativo, vou acompanhando mais de perto. Voltei a vê-los na Seleção, como Miguel Veloso, Fonte, Rui Patrício, Moutinho, Nani, Quaresma e Cristiano Ronaldo.
E aquele impacto por ver uma autêntica maravilha quando surgiu?
-Fizeram-me crescer e perceber, realmente, o que é que uma criança tem que pode indicar se será um jogador de alto nível. O primeiro grande talento que conheci foi o Ricardo Quaresma. Era incrível o que fazia dentro do campo com 12 anos. Depois, o Fábio Paim, que não conseguiu dar continuidade ao que a natureza lhe proporcionou. E, de seguida, o Cristiano, o maior e o melhor de todos os tempos, que ficará para a eternidade. Realmente, sinto-me um privilegiado e orgulhoso pelo contributo que consegui dar ao longo do seu crescimento.
Marca outra geração no Sporting, já em 2019/20...
-É surpreendente o salto qualitativo da geração de 2019/20, era indicada como mais fraca do que a da temporada anterior. Hoje, 95 por cento desse grupo compete na I e II Ligas. Tanto os que jogavam normalmente como os que jogavam menos. Na época de 2020/2021, quando o Sporting foi campeão, subiram no início de época oito jogadores dos Sub-23. Vejo com orgulho o Matheus Nunes no City, Nuno Mendes no PSG, Tiago Tomás no Wolfsburgo, Gonçalo Inácio e Eduardo Quaresma no Sporting, também o Geny, Nuno Moreira no Casa Pia, o Tomás Silva no Vizela, o Benny no Chaves, o Rodrigo Fernandes no FC Porto B, o Loide Augusto, o Joelson e o Bruno Paz na Turquia, o Bruno Tavares no Chipre, ou o Pedro Mendes no Ascoli, de Itália. A maior parte destes jogadores revelaram-se boas apostas feitas pelo recrutamento do Sporting em anos anteriores.
A obra financeira também envaidece?
-É difícil contabilizar o retorno financeiro. Mas digamos que foram milhões para o Sporting e para os bolsos de muita gente. Do ponto de vista pessoal, foi uma grande experiência e lição de vida esta época de 2019/20. Sinto que a valorização profissional dada pelo meio futebolístico português foi muito reduzida. Olha-se para este trabalho, que esta equipa técnica conseguiu, como se fosse uma tarefa banal que qualquer profissional teria capacidade de fazer. Como se todos tivessem a capacidade de potenciar e ajudar estes jovens a crescer como nós fizemos. Agradeço à restante equipa técnica. Sem o seu compromisso e colaboração não seria possível este sucesso em tão pouco tempo.
Quais os casos que mais se desviaram da rota idealizada?
-Foram vários sobre os quais se criaram expectativas, pela qualidade que iam evidenciando, mas por vários motivos não chegaram a ter a oportunidade ou não se conseguiram impor. Fizeram alguns anos de carreira, mas esperava-se outro nível de evolução e rendimento. O caso mais gritante foi o Fábio Paim, que após a lesão no joelho e não ter tido a oportunidade na equipa principal caiu num abismo de vários problemas extra-futebol, acabando por deixar cedo a carreira. Existem outros que deram indicadores de que podiam fazer carreira a alto nível: Carlos Saleiro como ponta-de-lança, André Marques como lateral esquerdo, Bruno Filipe como ala, o Zezinando a médio defensivo. Ou Edgar Marcelino, Hugo Pina, Valdir, Hugo Machado e muito outros que estiveram perto do alto nível e faltou aquele momento para os projetar mais acima.