Manuel Negrete recorda passagem pelo Sporting, após ter sido figura de um dos maiores golos na história dos Mundiais. Abateu de forma acrobática Mihaylov. Época em Alvalade frustrou expetativas apesar dos cinco golos, um deles ao Barcelona
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Manuel Negrete nunca deixará de ser um nome icónico e que aterrou em Portugal depois de ter marcado um dos golos mais bonitos da história dos mundiais, numa proeza com fator casa, assinando momento assombroso com pontapé de tesoura no triunfo frente à Bulgária nos oitavos de final do México 1986, desfeiteando Boris Mihaylov, que também chegaria ao nosso país pouco tempo mais tarde para defender o Belenenses.
O mexicano, hoje com 65 anos, tem o seu momento perpetuado, farol de nostalgia e descoberta de novas gerações. Na época, companheiro de seleção de Hugo Sanchez e Javier Aguirre, Negrete era figura do Pumas quando o Mundial o transportou rapidamente para Portugal. "Lembro-me da transferência para o Sporting, depois de um golo que correu o mundo e fez que toda a gente me conhecesse. Virou história para o México, ganhou reconhecimento mundial e surgiu o convite. Não sabia bem o que ia encontrar, nada podia saber do Sporting porque não havia internet nem comunicações. Mas sabia que era um conjunto com ambições e história", lembra Negrete, embora sentindo que não apanhou os leões em estado de graça, vendo a sua passagem resumida a 21 jogos e cinco golos.
"Não estava num período de grande condição financeira mas era um dos três grandes. Lamentavelmente, foi uma experiência algo curta, foi uma lástima o treinador Manuel José ter apostado pouco em mim. Não teve muita confiança no que podia fazer e não pude mostrar tudo o que mereciam os adeptos do Sporting. Faltou-me mais tempo de jogo, estar mais presente mas da parte dos sportinguistas sempre recebi muito carinho", evidencia Negrete, que marcou ao Barcelona e ficou no banco no famoso 7-1 ao Benfica, onde brilhou Manuel Fernandes. "A mim faltou-me fazer história, fiquei com pena de não ter levantado um troféu que fosse. Fico com a memória dos bons golos que fiz e, especialmente, do golo ao Barcelona, na vitória em Alvalade, estivemos perto de os eliminar, não deu por pouco. Era um grande de Espanha. Foi fantástico conhecer Manuel Fernandes, também senti muito no México a sua perda. Era enorme dentro do balneário", precisa o antigo craque mexicano, lamentando o divórcio do Sporting com os títulos nesse ano.
"As recordações dos companheiros são ótimas, todos se entregaram e fizeram um grande papel. Estiveram outros mais fortes", sustenta, mergulhando no 4º lugar leonino em 86/87, tendo Negrete rumado ao Sporting Gijón já na reta final da temporada. "Adorei Lisboa, lembro-me dos restaurantes mexicanos que me indicavam. Ia comer e socializar. Convidavam-me para ir ao cinema e ao teatro. Foram muitos momentos agradáveis", recua o mexicano, que foi razão de um jogo entre Sporting e seleção azteca em Queretaro. "Jogo pelo Sporting que perde 2-1. A equipa acusou muito cansaço dessa viagem. Mas foi bom, ajudei a que todos conhecessem um pouco do México. Acabei por marcar um golo num estádio muito bonito que havia sido estreado no Mundial", recorda Negrete, que assinara obra de antologia no Estádio Azteca, na Cidade do México.
"A FIFA chegou a abrir um concurso e esse golo foi mesmo eleito o melhor da história em fases finais. Agora serei embaixador do próximo Mundial, que será organizado entre México, Estados Unidos e Canadá", invoca o antigo criativo, que figura numa seleção de gente com vocação para o espetáculo. Hugo Sanchéz era temível nas bicicletas, Campos jogava fora da baliza e Cuauhtemoc Blanco bailava por cima da bola. "Hugo foi uma figura em Espanha e fez-se uma referência na Europa. Fazia suas 'chilenas' e nós treinávamos também muitos movimentos no Pumas. Jorge Campos fazia a diferença porque podia ser avançado e não jogava nada mal. E o Cuauhtemoc era descarado no que fazia e que a maioria não se animava a fazer. O México sempre exportou jogadores de altíssimo nível", desvenda Negrete.