Fogo danifica relvado estreado dias antes: "Não sei como será agora, vai ser muito difícil"
Fogo que deflagrou em Arouca no início da semana danificou parte do sintético que era o orgulho do Vila Viçosa, um emblema que disputa a II distrital da AF Aveiro
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Os incêndios que deflagraram em Portugal continental nos últimos dias destruíram casas, infraestruturas, campos agrícolas e deixaram a pequena aldeia de Vila Viçosa, perto dos Passadiços do Paiva, em Arouca, uma das regiões mais afetadas, praticamente reduzida a cinzas, num prejuízo também com reflexos no futebol.
Obras obrigaram os jogadores a disputar a temporada passada no complexo do Alvarenga, a 15 quilómetros de casa, com a promessa de que o sintético estaria concluído para esta pré-época
O campo sintético do Centro Cultural e Recreativo de Vila Viçosa, espaço que tinha sido inaugurado no passado sábado, dia 26 de julho, ardeu na terça-feira, dia 29, depois de o fogo ter descido a encosta às primeiras horas da manhã, apesar dos esforços para se evitar o pior. “Foi uma obra que começou em setembro do ano passado e acabou no último mês, mas já andávamos a tentar ter um relvado sintético há quatro anos. Na terça-feira, ligou-me um amigo, por volta das 6h30, a dizer que o fogo já estava em Espiunca e a aproximar-se do campo. Ainda conseguiu ligar o sistema de rega, mas a luz falhou 15 minutos depois”, recordou Hugo Amaral, o presidente do clube, a O JOGO, revelando que a obra custou perto de 300 mil euros à Junta de freguesia, proprietária do terreno, e autarquia de Arouca, que também arcou com parte dos custos.
O sintético, explicou, fica situado na extremidade da aldeia e, apesar de não estar numa zona de muito mato, as árvores que rodeavam uma das laterais arrastaram as chamas até ao campo, junto a uma das balizas, que ficou sem redes. “Queimou uns 15 metros do campo, da linha final até à lateral. E ainda a extensão total dos 70 metros da lateral”, detalhou, ainda incrédulo com o desfecho do único espaço de treinos do clube que milita na II distrital da AF Aveiro.
Durante a tarde festiva de sábado, dia 26, atletas, ex-jogadores e crianças da união de freguesias de Canelas e Espiunca estrearam o relvado, sendo que, para o próximo dia 20, estava previsto que a equipa sénior iniciasse aos trabalhos de pré-época. “Não sei como será agora, mas vai ser muito difícil. Mesmo que a câmara assuma o prejuízo, estamos a pouco mais de 15 dias de começar a treinar. Temos 24 jogadores, mas nenhum profissional. Uns trabalham em fábricas e madeiras, outros são barbeiros e carteiros. Só pagamos as despesas da gasolina para se deslocarem aos treinos e jogos”, explica.
Na temporada passada, tendo em conta as obras, o plantel fazia diariamente 15 quilómetros para treinar no relvado do Alvarenga, outro clube de Arouca, que também fora afetado pelos incêndios de setembro de 2024.
Onda de solidariedade
O Vila Viçosa foi o único clube afetado nas infraestruturas pelos incêndios em Arouca, contratempo que rapidamente desencadeou uma onda de solidariedade por parte de emblemas de outras zonas localidades de Portugal, como o Cesarense, de Oliveira de Azeméis, que, em comunicado, se mostrou disponível para ajudar “no que for necessário” ou o União da Mata, de Santa Maria de Lamas, que se ofereceu para agendar um jogo entre as equipas e entregar a totalidade das receitas ao adversário.
“Vou reunir domingo com os diretores do clube para ver o que podemos fazer e se dá para os jogadores utilizarem o relvado nestas condições. Entretanto, queria ver se conseguia comunicar com a junta e câmara”, reforçou. Na aldeia, que, salienta, tem menos de 100 habitantes, pelo menos uma idosa ficou desalojada e outros habitantes viram anexos, pavilhões e até animais serem consumidos pelas chamas, num cenário dramático. “Agora está tudo calmo, até porque ardeu quase tudo”, concluiu.