Moshood assinou um “hat-trick” no triunfo (4-0) sobre o líder Lourosa, mas há apenas quatro anos jogava na baliza. O nigeriano de 21 anos está emprestado pelo Leixões e tem sido uma arma dos poveiros, com 12 golos marcados em 24 jogos. É o melhor marcador da fase de campeão da Liga 3, com sete tiros certeiros.
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De guarda-redes a goleador foi um passo e aconteceu ainda na Nigéria devido a uma lesão numa mão. Agora, a missão de Moshood é meter a bola na baliza. Está feliz no Varzim e quer subir de divisão.
Quais são as suas raízes?
— Nasci e cresci na região de Ogun State, na Nigéria, perto da capital Lagos, e sou o mais novo de cinco irmãos. A minha infância foi muito difícil, o meu pai era pintor, a minha mãe fazia comida para vender nas ruas e muitas vezes eu também ia com ela, mas nunca deixei de ir à escola. Foi nessa altura que comecei a jogar futebol na rua e depois, com 10 ou 11 anos, fui convidado para jogar numa equipa porque todos diziam que tinha muito jeito. Mais tarde, tive a oportunidade de me mudar para uma academia muito boa e aprendi muito, mas sempre como guarda-redes.
Como é que mudou de guarda-redes para avançado?
— Fui guarda-redes toda a vida até há quatro anos, quando comecei a jogar como avançado. Quando fui para a academia era bom guarda-redes, mas tive uma fratura numa mão e fiquei vários meses a recuperar. Não podia ir para a baliza, mas podia jogar na frente. Comecei como lateral-esquerdo e passei por todas as posições. Quando recuperei, muitas pessoas disseram-me para continuar como jogador de campo e para não voltar a ser guarda-redes. Um dia, estava no meu quarto e não conseguia tirar isso da cabeça. Será possível? Irei conseguir? Não conseguia parar de pensar nisso. Falei com o meu treinador e disse-lhe que não consegui dormir a noite toda a pensar nisso, ele deu-me força para jogar como avançado, mas avisou-me que, se o fizesse, já não podia voltar a ser guarda-redes. Acabei por finalmente tomar a decisão e todos me apoiaram.
Nunca mais voltou à baliza?
— Voltei e fiquei novamente indeciso. Já jogava como avançado e houve um jogo em que o nosso guarda-redes se lesionou e tive que ir para a baliza. As coisas correram bem e, no fim do dia, comecei a pensar outra vez nisso. Voltei a ficar confuso e o meu treinador, durante uma semana, todos os dias falou comigo e fez tudo para me convencer.
Se o Varzim precisar que vá à baliza durante um jogo, está preparado?
— Claro que sim, irei com todo o gosto para a baliza, mas depois volto para a frente.
Como surgiu a hipótese de vir para Portugal?
— Vim para jogar no Feirense porque o dono do clube era nigeriano e a ideia era continuar a progredir na Europa, mas não cheguei a jogar porque já era tarde para fazer a inscrição. Cheguei em setembro e treinei com eles durante três meses, ingressando em dezembro no Leixões. Joguei nos sub-19 e na equipa B. Na época passada passei a jogar na equipa principal. Tenho contrato até 2026.
Entretanto, esta época foi emprestado ao Varzim. Como tem sido?
— Foi o melhor que me aconteceu. Estava no Leixões e tinha muitas ambições para singrar no clube, mas percebi que seria difícil jogar com regularidade. Queria jogar mais para progredir, pois, com esta idade, jogar pouco não é bom. Quando surgiu o Varzim, o treinador disse-me que precisava de mim e que iria jogar. Tem corrido bem e não me arrependo nada.
Que realidade encontrou no Varzim e como vê a relação com os adeptos?
— Tem sido uma loucura. Os adeptos são impressionantes e estão em todo o lado. É um sentimento diferente que transmitem. Estando a jogar, sinto esse apoio dentro de campo.
Já marcou 12 golos pelo Varzim. Era o que esperava?
— É uma boa marca, mas posso fazer melhor. Estou a jogar num nível mais alto, mas sinto que estou a progredir e que posso fazer melhor.
Marcou três golos ao Lourosa e fez o primeiro “hat-trick”. Foi um jogo marcante?
— Espetacular. Não pensei em nada antes do jogo, porque a única coisa que queríamos era ganhar. Foi um “hat-trick” perfeito, marquei de cabeça, com o pé direito e com o pé esquerdo. Cresci a treinar com os dois pés e o que consigo fazer com o direito também o faço com o esquerdo.
O que pode fazer o Varzim nas últimas cinco jornadas?
—Todos os jogos serão finais sem grandes penalidades. Temos de ganhar, porque são jogos praticamente a eliminar e não podemos jogar para empatar. Queremos dar uma grande alegria aos adeptos.