A dificuldade era máxima, mas não foi por escassez de produção que os dragões só fizeram quatro golos. Nas provas internas, o acerto é o mais alto da era Conceição, mas está abaixo da exigência deste
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Nas várias entrevistas de rescaldo ao longo da fase de grupos da Liga dos Campeões, treinador e jogadores do FC Porto lamentaram a falta de eficácia, num filme repetido até a porta dos "oitavos" se fechar em definitivo. De facto, os números são de tal forma esclarecedores que é difícil extrair desta análise uma conclusão mais evidente do que o desperdício.
Quatro golos em seis jogos é um registo apenas batido pelos três da época 1997/98 e fica a milhas do que a equipa atingiu nas outras três participações na Champions com Sérgio Conceição ao comando, quando apontou 10 e 15 golos, conforme mostram as infografias. É claro que não se pode ignorar a exigência dos adversários ditados pelo sorteio - era o grupo da morte e um dos mais complicados de sempre na história do clube -, mas não foi por escassez de produção que os dragões marcaram tão pouco. Os 59 remates colocam o FC Porto mais ou menos a meio deste ranking na liga milionária e estão perfeitamente dentro da média das três temporadas anteriores. Contudo, desta vez, os azuis e brancos precisaram de rematar quase 15 vezes para chegar a um golo, quando antes marcaram a cada quatro ou cinco disparos. Em 2021/22, apenas 30,5% das tentativas saíram na direção na baliza e aqui sim, poucas equipas fizeram pior - entre as que fecharam a fase de grupos na terça-feira, só Shakhtar Donetsk (27,8%) e Besiktas (27,3%) surgem atrás.
Dos 59 remates colecionados pelo FC Porto, apenas 30,5% saíram na direção da baliza. Um aproveitamento entre os mais baixos da Liga dos Campeões
Analisada a quantidade, há outros parâmetros que visam enquadrar a qualidade das oportunidades criadas. Por exemplo, o remate de meia-distância de Fábio Vieira, anteontem, está na lista dos 59 remates, tal como o disparo de Otávio em Anfield, mas a expectativa de cada um terminar em golo era bem diferente. Numa análise subjetiva, é fácil revisitar as seis partidas e encontrar ocasiões privilegiadas de golo desperdiçadas pelos portistas e há alguns algoritmos que as quantificam.
De acordo com o portal especializado "Goal Point", o FC Porto aproveitou apenas duas de nove ocasiões flagrantes - por definição, trata-se de um remate em que o jogador só tem à frente a baliza e o guarda-redes (ou nem este). Já se olharmos para os onze golos sofridos, também não são propriamente elogiosos, mas fortemente inflacionados pelos duelos com o Liverpool, que infligiu sete. Não obstante, ninguém tirou pontos aos reds e, na competição com Milan e Atlético de Madrid, os dragões sofreram um autogolo dos italianos e três dos espanhóis, mas dois deles já na compensação do último jogo, com a equipa em desespero à procura de um empate que lhe teria valido o apuramento.
Por outro lado, nas provas internas, o cenário muda radicalmente. Neste momento, o FC Porto mete a bola no fundo das redes a cada seis remates, num aproveitamento superior ao das épocas anteriores. Contudo, está abaixo da exigência de Conceição. "Para aquilo que produzimos, acho que fazemos ainda poucos golos, apesar de os resultados serem interessantes. Estamos com muita qualidade na primeira e segunda fase, mas na zona de definir e concluir não estamos tão bem", analisou o treinador, após o jogo com o Portimonense. Se na Liga Bwin é suficiente para estar na liderança e ter o segundo melhor ataque (33 golos), a falta de pontaria já custou muito caro na Liga dos Campeões.
A dupla do costume e o intruso
Traçada a análise coletiva, a individual traz-nos dados esperados e outros mais surpreendentes. Taremi, que marcou na receção ao Liverpool, foi o jogador mais rematador do FC Porto, com 15 tentativas, mas só 20% foram à baliza. Já Luis Díaz, autor de dois golos, teve o dobro da pontaria nos dez remates que efetuou. Em terceiro lugar surge Marko Grujic, um elemento de cariz mais defensivo, mas forte no jogo aéreo: atirou por sete vezes e 85% enquadradas. Por fim, Otávio, que em seis remates nunca acertou na baliza.