Média de golos sofridos é a mais alta da era Conceição. Ataque produz mais que o Benfica, mas a ineficácia segue sem cura
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O rendimento do FC Porto na primeira volta da Liga foi prejudicado por algumas feridas, mas nenhuma se revelou tão prejudicial como a aberta na defesa. Nunca, na era Sérgio Conceição, a equipa portista sofreu tantos golos como esta temporada no campeonato. A média nas primeiras 17 jornadas fixou-se nos 0,65 golos por jogo, quase o dobro da registada pelo Benfica, que terminou esta primeira metade da competição com a melhor média... da história do clube (0,35). As estatísticas da prova indicam que os dragões até permitem menos remates aos adversários do que os encarnados, mas consentem mais na direção da baliza. Por isso, acabaram por sofrer mais do que as oportunidades criadas pelo opositor faziam prever (11 em vez de 10) enquanto que a equipa de Bruno Lage encaixou menos cinco do que o expectável (11). [ver infografia].
Esta quebra no rendimento defensivo acabou por expor ainda mais o problema ofensivo do FC Porto, que continua sem encontrar uma cura para a falta de eficácia no momento de atirar à baliza. Principalmente em comparação com o grande rival na corrida pelo título. Os portistas até foram os únicos que faturaram em todas rondas disputadas até agora, mas só isso não chegou para mudar o rumo dos acontecimentos em alguns jogos, como aconteceu na sexta-feira, na derrota com o Braga. Os azuis e brancos marcaram mais três golos do que o esperado (32), mas a verdade é que o Benfica acabou por faturar mais 13 do que era expectável (29) tendo em conta a qualidade das ocasiões de que dispôs.
Encarnados consentiram mais remates que os azuis e brancos, mas concluíram a primeira volta do campeonato com a melhor média de golos sofridos da história... do clube (0,35). E essa é a principal diferença
No raio-x tirado por O JOGO à produção do FC Porto na primeira parte do campeonato, com recurso aos dados estatísticos fornecidos pelo portal "Wyscout", é possível verificar outras diferenças que ajudam a explicar a atual separação para o Benfica. O aproveitamento que a equipa de Sérgio Conceição faz dos contra-ataques, percetível pelo número de vezes que os concluiu com um remate (à baliza ou não), é inferior à de Bruno Lage, que também experimenta muito mais esta arma para ferir os adversários. Já os dragões dão preferência à posse, cuja percentagem é a mais alta desde a entrada de Conceição, e procuram muito mais o passe longo, que na maioria das ocasiões implica um risco maior. Assim se explica que o número de perdas de bola seja superior e que isso obrigue os jogadores a um esforço suplementar, embora a equipa surja no topo da prova na reação à perda, mesmo que tenha de travar o adversário em falta. Mas nem isso tapa a ferida defensiva.
Profundidade é um mito, porque o Benfica é melhor a explorar as costas da defesa. E cria mais ocasiões com recurso ao passe
A forma de construir não é assim tão diferente entre FC Porto e Benfica. E muito menos o tempo que dura cada posse de bola das duas equipas, pelo menos ao nível dos passes trocados entre os jogadores. Mas a análise dessa dinâmica permite perceber uma diferença substancial e um ou outro pormenor que contrariam alguns mitos que se instalaram. Vamos por partes. Primeiro os passes decisivos, aqueles que, em jogada de bola corrida, deixam os atacantes na cara do golo. A esse nível, o Benfica marca a diferença, com cinco por jogo, contra apenas 3,4 do FC Porto. Alguns valeram golos reais. É relevante. Depois as ideias que se podem contrariar com a análise numérica: é verdade que o FC Porto utiliza mais o passe longo, mas não é real a obsessão pela profundidade, comparada com o rival, que até procura mais essas situações, especialmente por Rafa.
Portistas cruzam melhor
Um bom exemplo de que quantidade não significa qualidade verifica-se no capítulo dos cruzamentos. O Benfica (22,2) tenta-os com maior frequência que o FC Porto (16,5), mas apresenta uma taxa de sucesso inferior (30 contra 34 por cento). O mais recente golo dos dragões, por exemplo, surgiu num centro de Marega para Soares.
Golos: 35
A eficácia tem sido um problema para o FC Porto, que marcou 35 golos, contra 42 do Benfica em menos ocasiões claras
Posse: 61%
A equipa portista tem, em média, 61% de posse de bola, contra 55,5% do líder da I Liga
Sofridos: 11
O FC Porto sofreu 11 golos, mais cinco do que o Benfica. Melhor média de sempre do rival, pior de Conceição
Pontos: 41
Com 41 pontos, o FC Porto soma menos dois do que na época passada e menos quatro do que no ano do título