Miguel Barbosa, de 21 anos, perdeu uma perna num acidente em fevereiro e já lidera esforços para Portugal ter prova de amputados. Foi campeão júnior no clube minhoto. Dia marcante para o antigo defesa-direito, que reencontrou Gustavo Sá e Rodrigo Ribeiro, depois de meses a superar um drama físico e a revolucionar a mente com uma coragem impressionante
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Complicado de acreditar e difícil de aceitar. A vida de Miguel Barbosa, campeão de juniores pelo Famalicão em 2022/23, que sofreu amputação da perna esquerda em fevereiro, ao ser abalroado por um comboio enquanto corria, transfigurou-se e meses bastaram para a coragem ditar leis, a superação emergir a cada dia. Hoje, é o próprio que o admite, até mudou para melhor. Impressionante o relato que fica de uma visita feita ao plantel do Famalicão. O antigo lateral, de apenas 21 anos, reencontrou Gustavo Sá e Rodrigo Ribeiro, seus colegas na formação, mas abriu o livro sobre a retumbante resposta dada a um infortúnio terrível que podia colar a palavra desgraça ao sucedido. Miguel rejeitou essa dimensão e esse derrotismo. Geriu as emoções, sem duvidar de que teria de corresponder ao alento de quem tinha por perto.
"Tive de deixar de jogar por conta de uma lesão que me provocava muitas dores. Passei a correr algumas vezes. E, foi assim, que levei esse carimbo! As pessoas sabiam do meu cuidado e não tenho explicação para o que ocorreu. Não me lembro de nada, mas serve de alerta. Não corram com "phones", também estava com capuz, o que pode ter prejudicado a visão. Foram fatores que contribuíram, mas não posso carregar remorsos", confessa Miguel, mascarando os transtornos, espicaçado a vencer na vida, seja de que forma for, sem rogar piedade.
"Há acidentes que acontecem, a forma como reagimos é que nos torna únicos. Psicologicamente só vejo coisas que me beneficiaram. Os médicos souberam fazer-me aceitar, mesmo faltando alguma coisa. Agora é mais fácil interagir, há um assunto que quebra o gelo, antes era muito tímido. E, em termos de motivação, descobri um propósito de vida", afirma, desbravando o sonho que nasceu por cada jornada de esforço numa longa recuperação, sentindo-se perfeitamente apto e funcional com a prótese que substituiu a sua perna esquerda. "Não sinto que tenha ficado para trás. Há algo importante, não sou só eu! Tenho de olhar a todas as pessoas que estiveram à minha volta, nem tudo mudou para o mal. A capacidade mental foi dessas pessoas, essa foi a força que fez a diferença nesta velocidade de superação", credita Miguel Barbosa, já apontando um caminho, a ferver por diligências próximas.
"Trazer o futebol de amputados para Portugal não é um sonho, é uma missão! É algo que ajuda a incluir e o desporto é a ferramenta de inclusão mais poderosa. Se influenciar uma pessoa que seja a enfrentar a vida de outra forma, já valeu a pena", expressa, alertando para sensibilidades. "Tenho a prótese há dois meses e já treinei esta modalidade. Estou a receber informações, a contactar federações, e tenho prevista uma viagem ao Japão. E vou ver a Liga das Nações de amputados. Temos de perceber o que falta em Portugal para a Federação aceitar a modalidade. Vamos ter sucesso e ajudar muita gente", justifica Miguel Barbosa, animado com a sua nova experiência motora, goleando as fragilidades. "Estou a aperfeiçoar como se usa muletas para correr, para fazer deslocamentos laterais, passes longos, porque é preciso usar muito a muleta da perna que falta. Mas voltar a fazer remates, penáltis, fintas, não dá para explicar!", atira, entusiasmado.