ENTREVISTA - Fábio Silva diz que não teve tempo para deixar uma marca, mas orgulha-se do que a sua venda significou para o clube do coração.
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O corte do cordão umbilical ao FC Porto não acabou com a ligação afetiva de Fábio Silva ao clube que diz ter no coração e, em entrevista a O JOGO, o avançado de 19 anos aborda a saída do Dragão, o momento atual da ex-equipa e nomeia o jogador que mais prazer lhe dá ver jogar. Os primeiros tempos no Wolverhampton, o sonho de ser um dos maiores do Mundo e o desejo de um dia falar com o ídolo (Cristiano Ronaldo) são outras confissões do jovem prodígio nesta conversa exclusiva.
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Como tem sido a adaptação ao futebol inglês?
-Tem corrido bem. Acho que até tem superado as minhas expectativas. Não é que elas fossem baixas, mas é normal para um jogador, quando vai para o exterior, precisar de algum tempo de adaptação ao clube, aos colegas, ao clima... a vários aspetos. Mas, no caso do Wolverhampton, é um clube muito fácil para nos adaptarmos e a cada dia que passa sinto-me cada vez mais integrado. É um dos clubes em que podes saltar essa parte.
Ser apresentado como o rapaz maravilha do futebol mundial aumenta-lhe a responsabilidade?
-É normal que isso surja na Imprensa, tal como a questão dos 40 milhões de euros que custei. Mas isso não deve ser motivo de preocupação, porque ao longo de uma carreira ouvem-se muitas coisas. Se quando falam coisas boas é necessário estar com os pés bem assentes no chão, quando falam mal não deves desconfiar de ti, porque sabes o que és, o trabalho que fazes e essa imagem que criaram à minha volta não me faz ficar em bicos de pés ou sentir-me pressionado. Quando vou para o campo nem sequer me lembro disso.
Como surgiu a hipótese de ir para o Wolverhampton?
-Acho que o Wolverhampton não foi dos primeiros clubes que entraram em contacto com o meu empresário. Mas sou muito sincero - e quem me conhece sabe que é verdade -, só me preocupo em jogar. Nem gosto muito de saber essas coisas, porque pode retirar o foco do que é mais importante. Foi uma decisão conjunta, mas não sou de andar a perguntar.
Wolves não foram os mais rápidos a mostrar vontade em contratá-lo, mas o ex-portista sentiu-se atraído pelo projeto. O custo de 40 milhões de euros e o rótulo de rapaz maravilha, garante, não o incomodam
Mas só teve conhecimento do interesse quando saiu?
-Já tinha ouvido falar umas semanas antes. Não sabia que seria uma certeza, porque também estava a analisar outras coisas, mas sabia era uma hipótese. De qualquer forma, o Wolverhampton foi o projeto que mais me marcou.
Tinha uma cláusula de 125 milhões de euros no FC Porto, mas saiu por 40. Quando sair dos Wolves será pelos 125?
-[risos] Não sei. Para um miúdo com 17 anos, ter uma cláusula de 125 milhões de euros e depois sair por menos obrigou-me a uma adaptação. O mais importante foi ter pessoas à volta, como a minha família ou o meu empresário, que me ajudaram a entender as coisas, porque não é fácil criarem uma realidade à tua volta e depois ela não acontecer. Como toda a gente sabe, tinha a possibilidade de optar por projetos de clubes que, para outras pessoas, poderiam ter mais nome, mas o Wolverhampton é um clube enorme e tocou-me muito pela confiança que demonstrou desde a primeira hora. Sinto a cada dia que passa que tomei a decisão certa.
Estava nos planos deixar o FC Porto com 19 anos?
-Saio orgulhoso por aquilo que fiz, até porque toda a gente sabe e não é segredo para ninguém, que ajudei o clube num momento difícil. Mas saí com um sabor amargo, porque gostava de ter feito nos seniores o que fiz na formação. Saio com a confiança e a certeza de que ajudei o meu clube, não só nesse aspeto [financeiro], mas também com o meu futebol, tanto na formação, como no pouco tempo em que estive nos seniores. Para o tempo de jogo que tive, acho que consegui dar o meu contributo.
"Queria ter deixado a minha marca a nível de jogos e, sendo avançado, de ter feito mais golos"
Fala em termos de estatuto, certo? Porque venceu a dobradinha...
-Sim. Queria ter deixado a minha marca a nível de jogos e, sendo avançado, de ter feito mais golos. A nível de títulos, tanto na formação como nos seniores foi sempre a somar.
Ou seja, pode concluir-se que saiu demasiado cedo?
-Foi a altura que proporcionou. Não estou a dizer que vir para o Wolverhampton foi mau. Mas, se a possibilidade tivesse existido, gostava de ter feito o que fiz na formação. Seja como for, estou muito feliz aqui.