Vitinha saiu por cima há uma semana, mas João Mário vai querer dar o troco. Os dois médios revelam acerto no passe superior a 90% e pouco abaixo disso nas solicitações para os colegas no último terço. Evidência clara da visão de jogo e influência na construção ofensiva
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Vitinha e João Mário reforçaram esta época os plantéis de FC Porto e Benfica - o primeiro regressando de um empréstimo ao Wolverhampton, o segundo contratado após desvincular-se do Inter -e tornaram-se fundamentais no meio-campo das duas equipas que se reencontram no relvado do Dragão, uma semana depois do 3-0 que pôs os portistas nos quartos de final da Taça.
Esta noite, o cenário é substancialmente diferente, nomeadamente pelas ausências de ambos os lados e interrogações que levantam. Nos azuis e brancos, a maior delas é a forma de substituir Luis Díaz, principal desequilibrador da equipa, a par da ausência de Evanilson, castigado. Adivinha-se uma adaptação do habitual desenho tático e novos intérpretes, o mesmo devendo suceder nas águias, com Nélson Veríssimo no banco e um provável regresso a uma linha de quatro defesas, entre outras alterações forçadas - Otamendi, Grimaldo e Darwin também não estarão, o que reforça ainda mais a importância do critério conferido ao jogo da respetiva equipa por Vitinha e João Mário. Ambos se destacam pelas capacidades técnicas, inteligência e passe. Não por acaso, apresentam uma percentagem de acerto acima dos 90 por cento e até nos passes para o último terço estão bem acima dos 80 por cento, em ambos os casos com ligeira vantagem do portista.
No caso do jogador das águias, a sua influência notou-se desde o início da época, enquanto o futebolista dos dragões foi conquistando o seu espaço até se impor no onze. Razão pela qual João Mário soma mais sete jogos do que Vitinha esta época e mais 847 minutos de utilização.
Apesar dos esquemas táticos diferentes em que têm vindo a atuar, ambos jogam habitualmente como segundos médios - Vitinha com Uribe e João Mário com Weigl, na maioria das vezes - e assumem-se como cérebros da organização ofensiva.
No clássico de hoje, a chave do sucesso pode também estar no duelo destes jogadores, uma semana depois de Vitinha ter saído claramente por cima em relação a João Mário. Não só pelo que jogou e fez jogar, mas também pelo golo que valeu o 2-0 e foi o segundo da conta pessoal na época - tantos quantos os que leva João Mário, que ganha ao portista em termos de passes para golo: 5-1.
Gil Nunes, comentador desportivo, analisa as características de ambos e considera que Vitinha é "excecional na receção de bola e pressão", depois de aprimorar as suas capacidades. "Melhorou muito na reação à perda de bola e intensidade", contou, recordando: "Na semana passada foi decisivo não apenas pelo golo, mas também pela forma como condicionou os adversários. Jogando com Uribe, que faz muito do trabalho "sujo", ganha liberdade para brilhar no ataque, com chegada à área, passes decisivos e remate."
O colunista de O JOGO considera que, em comparação, "a dupla Uribe/Vitinha fica a ganhar à formada por Weigl e João Mário" porque, diz, "os dois jogadores do Benfica são mais parecidos e sentem maiores dificuldades na recuperação defensiva".
Contudo, Gil Nunes confessa apreciar muito as qualidades de João Mário. "É um jogador com uma inteligência acima da média, não apenas na forma de jogar mas também da leitura que faz dos colegas. É decisivo a ganhar espaços, muitas vezes com passes simples a dois metros", avalia, apontando-lhe uma menor capacidade de remate que Vitinha - como o demonstram as estatísticas da época. De qualquer forma, lembra que o internacional português do Benfica tem "a capacidade de desequilibrar pela capacidade de dar critério ao jogo da equipa", admitindo que Nélson Veríssimo possa no jogo desta noite reforçar a linha do meio-campo para "libertar o talento de João Mário no ataque".
Dragão mais forte defensivamente
Gil Nunes, na sua análise para o O JOGO, realça a "maior capacidade física" de Vitinha em relação a João Mário e que isso permite ter-lhe "ser mais forte na pressão ofensiva e na recuperação defensiva". As estatísticas recolhidas confirmam essa ideia. O jogador do FC Porto soma mais recuperações de bola (7,9 em média contra 6,4) e interceções (4,3 para 2,2) do que o do Benfica. Vitinha vence 54,8% dos duelos disputados, enquanto João Mário só sai por cima em 18,6%. Ainda assim, o médio das águias melhora o seu registo nos duelos ofensivos: 48,2% ganhos. O portista ganha-lhe, ainda assim: 55%.