"Deixar o Sporting foi uma decisão difícil, estava confortável e tudo me corria bem"
Amunike, agora com 53 anos, recordou em conversa com O JOGO passagem pelo leões entre 1994 e 1996, agradecido a Sousa Cintra e Carlos Queiroz
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Aos 53 anos, badalado para assumir o leme da Nigéria, Amunike não esquece o Sporting, o clube que lhe abriu as portas da Europa e onde brilhou excecionalmente, ao ponto de ter atraído o interesse do Barcelona. Rumou a uma grande equipa dos culés, ao fim de duas épocas e meia em Portugal, quando chegou campeão africano pela Nigéria e figura da seleção no Mundial de 1994, pois marcara à Bulgária e à Itália, então no jogo da eliminação das Super Águias, já nos oitavos.
"Foi um grande momento e cheguei com muita ambição a Portugal. Tinha feito um grande Mundial, estava em grande plano no Egito, no Zamalek. E era hora de dar esse passo na carreira, chegar à Europa, procurar vingar e atingir grandes troféus. Já tinha ganho tudo pelo Zamalek. O Sporting veio ter comigo, tratou das coisas com a minha família", recorda o craque nigeriano, que também fez parte da excelsa campanha do ouro olímpico em Atlanta'1996.
Amunike começa a jogar pelos leões em outubro de 1994, já que a operação esbarrou em problemas burocráticos. "Agradeço muito ao clube, ao Sousa Cintra e ao Carlos Queiroz que era o treinador e foi ele que recomendou a minha contratação. Esperei alguns meses para jogar, devido a um diferendo entre os clubes", lembra o nigeriano.
"Eu sempre acreditei em mim, percebia que podia competir a outros níveis, desde que saudável e sem lesões. No Sporting, mal pude jogar, a oportunidade surgiu, o treinador confiou, os companheiros também. Passei um grande tempo com eles todos, senti-me confortável na equipa, adaptei-me e tudo fiz por corresponder", atesta o antigo craque, que assinaria 21 golos em 70 jogos pelo conjunto de Alvalade.
"Era um Sporting fantástico, excelentes jogadores como Oceano, Balakov e Figo. Foi uma experiência importantíssima para mim. Conheci Queiroz e uma base de jovens jogadores que tinham ganho muita coisa com ele por Portugal. Havia uma ideia de bom futebol e mostrávamos isso. Jogávamos bem, éramos responsáveis com bola e sem bola. Era um treinador que te guiava e aconselhava, tive essa sorte e pude melhorar o meu jogo. Qualquer jogador deve ser reconhecido a quem o ajuda a superar as suas capacidades", evidencia Amunike, que vence Taça e Supertaça em Portugal e ruma ao Barcelona de Robson, de Baía, Figo e Fernando Couto, também de Ronaldo Fenómeno.
"Deixar o Sporting foi uma decisão difícil, pois estava confortável e tudo me corria bem. Surge o convite a meio da época e, de repente, fui embora. Foi bom para o meu processo de desenvolvimento e rendi muito dinheiro ao Sporting. Joguei num dos melhores clubes do mundo", admite o antigo craque nigeriano, fazendo saldo da sua passagem por cá.
"Apanhei um campeonato muito competitivo, onde o FC Porto dominava, tinha grande equipa e grandes jogadores. Mas o Sporting e o Benfica eram muito fortes também, todos queriam ganhar a Liga. Ficamos em segundo mas sentíamos que podíamos vencer. Tivemos de nos contentar com a Taça de Portugal", rebobina Amunike, que não esquece ainda hoje o carisma singular de Sousa Cintra.
"Ele amava o clube e estava pronto a fazer tudo pelo sucesso do Sporting. Teve um papel muito importante para que eu viesse para Portugal, esteve comigo em Cairo, discutiu o contrato comigo e disse-me que o Sporting me queria na sua família. Mostrou-me o quanto me desejavam, respeitei-o muito, mesmo apesar dos problemas iniciais que atrasaram a minha chegada. Sempre se preocupou como eu estava", recorda Amunike.
"Que voltem a ser campeões"
Orgulhoso do momento leonino, mesmo que pouco documentado pela longa distância que o separa de Portugal, Amunike não esconde um grande desejo. "Passei por Alvalade em 2014, conheci novas instalações e foi um privilégio. Mas não tenho muitas ligações hoje, sei que mudaram muitas coisas. O que não mudou é que o Sporting está no meu coração, sei que contam com uma equipa forte, lideram o campeonato e espero que sejam campeões. Espero voltar para ver algum jogo", disse.
"Que a nova geração traga alegrias, que siga essa comunhão forte com os adeptos. Acredito num futuro brilhante do clube e dos seus atletas", resume.