"Conhecíamos algum guarda na fronteira, que nos dizia para passarmos na fila 4"
Antigo extremo Basaúla representou o Vitória em 1986/87 e rumou ao Alentejo na época seguinte. Ainda reside em Portugal e é padrinho de Quenda. Elvas era pacata, mas com espaço para umas aventuras
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Os primeiros tempos em Portugal não foram um mar de rosas, naturalmente, mas Basaúla sempre superou desafios. “Em Guimarães, jogavam dois estrangeiros e um ficava no banco. Eu era, por regra, o sacrificado, porque o N’Kama era avançado e era sempre alternativa para jogos que não estivessem a correr bem”, desfia Basaúla, que antes de regressar a Guimarães ainda brilhou na Reboleira e saboreou o Jamor. “De Elvas, por causa da descida, acabo por seguir para o Estrela da Amadora. Fiz duas grandes épocas e ganhei a Taça de Portugal. Voltei forte ao Vitória, onde me destaquei ao longo de cinco épocas”, recorda, evocando craques de todos os lados: “Congoleses, brasileiros e portugueses e um grande ambiente criado pelo Marinho Peres. Vivíamos como uma família. Paulinho Cascavel era a nossa referência”.
Quando Basaúla deu que falar pelo Elvas, em 1987/88, era um clube simpático da I Liga, um representante abnegado do Alentejo, trajando de azul e amarelo e enchendo o carismático Patalino. A população sorria com visitantes ilustres, a região saboreava esse frenesim futebolístico e até de Espanha se deslocavam muitos encantados pelo fenómeno. “Era uma cidade pequena. De manhã, depois do treino, encontrávamo-nos sempre num café da vila, grande parte da tarde era passada no mesmo sítio. Nas folgas, tentávamos ir a Espanha, mas os estrangeiros só podiam passar com um visto. Como era um meio pequeno já conhecíamos algum guarda na fronteira, que vivia em Elvas, e nos dizia para passarmos na fila 4 a determinada hora. E lá conseguíamos ir passear a Badajoz e fazer compras”, desvenda.
“Será difícil haver surpresa, mas...”
Basaúla acredita que o Vitória não deixará espaço para a surpresa de um moralizado Elvas. Viu Rui Borges partir, que agora treina o afilhado Quenda, mas não duvida dos conquistadores. Ainda imaginou estar na bancada, mas não será possível, ficando a torcer por um grande jogo no Municipal de Elvas, até porque os locais são líderes na Série C do Campeonato de Portugal. “Há uma grande diferença nos orçamentos mas, no futebol, estamos habituados a ver vitórias de orçamentos muito mais baixos. O Vitória é favorito, tem uma das melhores equipas dos últimos anos, está realmente forte. Porém, nestas alturas, os jogadores de equipas mais pequenas motivam-se. Mas penso que o Vitória também está preparado para as dificuldades, sabe que os jogos da Taça se tornam perigosos. Por muito que o Elvas queira, e sei que querem muito, jogam bem e vão ter bom ambiente, será difícil haver uma surpresa”, avisa, tentando distanciar-se emocionalmente. “Espero apenas que ganhe o melhor, é complicado para mim entre duas cidades que me deram tanto!”observa o antigo extremo.
Mesmo com a recente mudança no leme, Basaúla elogia os conquistadores em 2024/25. “O Vitória está a fazer um grande campeonato, a revelar muitos jogadores. As coisas estão a correr muito bem, espero que tudo continue assim. Está no bom caminho e também espero essa continuidade com o novo treinador. Até ver, a equipa mantém um registo forte, vamos ver as próximas semanas se não descamba”, nota Basaúla, que viu Rui Borges partir para o Sporting, onde agora treina o afilhado e prodígio leonino Geovany Quenda: “Fico feliz que ele seja o treinador do Quenda, vai fazer crescer o miúdo. Sabemos que um treinador tem de progredir na carreira, foi isso que aconteceu e deu lucro ao Vitória. Compreendo os adeptos, não querem saber tanto do lucro, querem é que a equipa ganhe. Joguei no Vitória e bem sei como se respira, eles defendem os interesses do clube até ao limite. Foi um bom prémio para o Rui, mas percebo a mágoa”.