"Com ele foi contra tudo e contra todos e guardo a saudação que me fazia sempre que tocava 'Pinto da Costa olé olá''
António Lourenço, o famoso trompetista da Antas, Dragão de Ouro em 2024, percorre as imagens mais memoráveis do contacto com a personalidade e o legado do homem que comando o FC Porto durante 42 anos
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Dragão de Ouro em 2024, António Lourenço, acarinhado por todos como o 'senhor Lourenço' é parte integrante do património do FC Porto como adepto dos sete costados, dedicado sem igual, agarrado a um trompete a dar música nas Antas e Dragão e pelos pavilhões que foram acolhendo equipas das modalidades do FC Porto. Com 81 anos e vários baús de vivências dentro da capital paixão da sua vida, António Lourenço também reagiu consternado ao falecimento de Pinto da Costa, ele que acompanhou de perto, em estreita cumplicidade, toda a trajetória do líder portista. Nos elogios abarca diferentes componentes. "Foi de uma dedicação extrema aos valores do FC Porto, do Porto e do Norte. Um sentido de humor acima da média, cultura geral elevada, contador de histórias e senhor de ironias desconcertantes. Sempre amigo do seu amigo, empenhado em causas sociais e de uma simplicidade extrema! Além de um declamador exímio", tributa.
António Lourenço foi sublime e exímio a dar música, escrevendo bandas sonoras de muitas vitórias, imortalizou o seu trompete no futebol português e, tantas vezes, associou as suas composições a conquistas vibrantes do FC Porto, que captaram atenção mundial.
"Guardo a saudação que me fazia de agrado quando tocava a música do 'Pinto da Costa olé, Pinto da Costa olá! Pinto da Costa olé, Pinto da Costa olé olá' Em quarenta anos há muito mais. Foram anos vividos intensamente, na luta desportiva e com outras situações complicadas passadas pelo clube. Foi contra tudo e contra todos, contra o centralismo. Havia tema para um livro de muitas páginas. Também vejo, agora, a hipocrisia de alguns que tanto o denegriram. Pinto da Costa foi único, marcou a história do futebol mundial", destaca o sublime portista, amado por nunca se esquecer de animar as equipas portistas em qualquer tipo de contexto.
O respeito por Pinto da Costa é uma certeza que percorre o tempo, atravessa décadas e vicissitudes.
"Foi um gigante que transformou um clube desportivo de uma cidade de 275 mil habitantes, num dos dez clubes mais titulados do mundo. Quando entrei, como atleta de natação, com catorze anos, no Rio Douro, o clube não tinha piscina, passei pela Constituição e pelo ginásio da Rua Alexandre Herculano, de instalações precárias para a alta competição. Hoje, o clube tem excelentes recintos desportivos e um museu, que recebeu, o ano passado, a visita de mais de 175 mil pessoas, sessenta por cento estrangeiras", desfia a história e ataca a obra. "No plano desportivo, foram milhares de vitórias e títulos, nacionais e internacionais, em todas as modalidades. Pinto da Costa entrou para presidente, em 1982 e eu comecei a acompanhar as modalidades, com a claque dos Dragões Azuis, em 1983. Vivi estes gloriosos quarenta anos, debaixo da presidência deste homem, que colocou em cima da mesa o problema da regionalização. Combateu o centralismo, destruiu o poder desportivo do sistema do 24 de Abril, estabelecido em Lisboa", lembra António Lourenço.