Extremo foi eleito o melhor jogador da II Liga, pelos 18 treinadores da prova, e veio à redação de O JOGO falar sobre a distinção, as dificuldades da carreira e o futuro auspicioso que se lhe perspetiva
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O mês de dezembro foi agitado para Adriano Castanheira. Reforço de inverno do Paços de Ferreira e MVP da II Liga, numa eleição promovida por O JOGO, as coisas nem sempre foram fáceis para o extremo, de 26 anos, que precisou de descer ao Campeonato de Portugal onde durante três anos mostrou o que valia até voltar à Covilhã. Foi um dos obreiros do empate dos serranos com o Benfica, na Taça da Liga, e essa exibição, reconhece o próprio, deu-lhe ainda mais visibilidade.
O Paços de Ferreira é o quarto clube da carreira, enquanto sénior, de Adriano Castanheira, depois de o extremo ter passado por Covilhã, Benfica e Castelo Branco e Leiria.
Foi considerado o melhor jogador da II Liga. Esta é uma distinção natural pela época que está a fazer ou é um prémio que o surpreende?
-Esta primeira metade da época no Covilhã foi muito positiva e sinto-me preparado para jogar na I Liga e para tentar fazer o meu melhor no Paços de Ferreira. É claro que é muito bom receber uma distinção destas. Quero agradecer aos treinadores que votaram em mim não só para melhor jogador, mas também para o melhor onze e sinto-me um privilegiado por me ter sido atribuído este prémio.
Ganhou esta eleição de MVP do campeonato com larga vantagem para a concorrência. Ao olhar para estes números em que pensa?
-É sinal que tenho vindo a trabalhar bem, a ser valorizado e é claro que são números importantes e lisonjeiros.
Entre 2015 e 2018 jogou no Campeonato de Portugal. Agora, é jogador de I Liga. Estes últimos três anos foram alucinantes?
-É verdade que muitas coisas na minha carreira não foram fáceis. Há três épocas, não jogava muito no Covilhã e decidi dar um passo atrás para dar dois à frente. Fui para o Benfica e Castelo Branco, que estava no Campeonato de Portugal, durante duas temporadas e depois estive no Leiria. Esses três anos ajudaram-me a crescer como jogador e como homem e no ano passado acabei por chegar mais maduro ao Covilhã, tendo feito uma época bastante positiva.
Como é que encarou essas épocas no Benfica e Castelo Branco e no Leiria?
-Não foi fácil, mas também sabia que se descesse uma divisão acabaria por me valorizar e consegui que isso acontecesse. Descobri uma realidade diferente no Campeonato de Portugal, mas não senti grande mudança e as coisas correram normalmente.
Ansioso por agora estar prestes a defrontar laterais como o Alex Telles ou o Grimaldo?
-O campeonato é diferente e sei que existem grandes jogadores, sei também que não vai ser fácil e espero que corra bem.
Contra o Benfica correu bem na Taça da Liga...
-Exatamente... enfrentei o Tomás Tavares que tem muito potencial, que apesar de ser jovem é um grande jogador.
Essa exibição perante o Benfica foi como uma demonstração definitiva das suas qualidades, numa montra bem maior?
-Eu tinha feito uma boa época no Covilhã no ano passado e esta meia temporada também está a correr bem. O jogo com o Benfica contribuiu para que o meu nome fosse visto e saísse nos jornais. Foi bom... fiz um bom jogo, talvez o melhor da carreira.
Adriano Castanheira fez 115 jogos na II Liga, nos quais apontou 14 golos e fez dez assistências. No Campeonato de Portugal, participou em 89 encontros entre BC Branco e Leiria e faturou em 20 ocasiões.
"Já podia ter vindo para o Paços de Ferreira no verão"
Adriano Castanheira assinou por dois anos com o Covilhã, quando em 2018 voltou ao clube, mas o empresário queria que só assinasse por uma época, pois achava que o ala ia estar pronto para dar o salto para a I Liga no final dessa temporada. Hoje, diz-se "arrependido" por não ter escutado o agente.
Está preparado para o desafio Paços de Ferreira?
-Estou mais preparado do que nunca. É a altura certa para chegar à I Liga e irei dar tudo pelo clube.
O Covilhã é um clube estabilizado na II Liga, já o Paços de Ferreira está em posição delicada na primeira. É um contexto difícil para poder mostrar o seu valor?
-É um contexto bom, até porque não difere muito do ano passado quando o Covilhã estava mais ou menos na mesma situação e acabámos por fazer uma grande segunda volta e ficámos nos lugares cimeiros. Vamos fazer um bom resto de campeonato.
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É público que José Mendes, presidente do Covilhã, pedia 100 mil euros pelo seu passe. O que é que pensava quando diziam que o Adriano valia 100 mil euros, que era um valor alto para a realidade do Covilhã?
-Acho que era um montante alto e se calhar já podia ter vindo antes para a I Liga e para o Paços de Ferreira.
Compreendeu sempre a posição de José Mendes?
-Falava com o presidente e ele dizia que me ia ajudar e ver o melhor para o clube. Não aconteceu no verão, mas o clube acabou por agora ficar a ganhar com a minha venda.
Quando voltou ao Covilhã assinou por dois anos, mas o seu empresário queria que só assinasse por um. Arrepende-se de não o ter feito?
-Sim, arrependo-me. Se tivesse assinado só por um ano já tinha dado o salto.
Chegou, também, a falar-se no interesse do Boavista...
-Falou-se noutros clubes, houve algumas propostas, mas nada em concreto. Senti que o Paços me queria e isso pesou.
Um sociólogo quase por acaso
Adriano Castanheira nasceu em Neuchatel (Suíça) e foi lá que começou a dar os primeiros pontapés na bola. Os pais, emigrantes, voltaram para Portugal e para a Covilhã, de onde são naturais, quando o extremo tinha 11 anos. No futebol, é pouco comum os jogadores serem licenciados e mais raro é ver um atleta com um canudo em Sociologia.
"Entrei em Sociologia com o intuito de mudar para Desporto no segundo ano. No entanto, acabei por gostar do curso e licenciei-me. Neste momento, estou a tirar o mestrado em Desporto e é a esta área e ao futebol que quero ficar ligado quando me retirar", esclareceu. Porém, o mestrado vai, por agora, ficar parado. "Vou congelar a matrícula para estar 100 por cento focado no Paços de Ferreira", acrescentou.
O reforço dos pacenses dividiu a formação entre o Covilhã, o Nacional e concluiu-a no FC Porto. "Quando tinha 16 anos, podia assinar contrato com o Covilhã e treinar com os seniores, mas o presidente falou-me em ir para o FC Porto e não hesitei. Joguei com o Tozé, Fábio Martins ou o Lupeta", lembrou.