Faz-se um carnaval fora da época, tributa-se o imaginário da Premier League dos noventas e honra-se a melhor imitação. Mas também há um troféu cheio de grandeza para o vencedor
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Deliraste com a Premier League dos noventas, a primeira era da competição assim chamada, do domínio avassalador do United de Ferguson, à pressão constante Arsenal, os primeiros milhões do Chelsea, o grande Newcastle de Keegan ou ainda a boa onda dos hammers, tinha o West Ham, Paulo Futre? Se te curvas a esta excelência de equipas, e às últimas grandes estrelas que mais dispensavam manias ou alarido de revistas, tens direito a uma incomensurável fartura de amores antigos, heróis cantados, cromos perdidos. É uma azáfama garantida, atrações estonteantes, uma completa perdição visual, o flagrante desnorte de uma cara igual a Gascoigne, sem a fatura dos abusos, difíceis de transpor fidedignamente, ou uma imensidão de sósias, de Cantona, Ginola, Vialli ou Bergkamp. Ou de Radebe e Yeboah, do Leeds, Rush e Barnes, do Liverpool. Bem, no geral, é mesmo uma carnaval, fora da época, sem precisar da sua proclamação de fevereiro, generoso para a recriação de icónicas figuras, acendendo o rastilho da fantasia em Sintra, no campo de futebol MTBA, na freguesia de São João das Lampas. Já com algumas realizações desde 2022, sem periodicidade rígida, o Carnabal reaparece na agenda dos seus fãs este dia 28, espalhando alegria pelo futebol e devoção pelos noventas. Faz-se um pouco de história com a mente criadora: Lourenço Ferreira.
"Foi uma ideia minha, pouco tempo antes da pandemia. Ficou a marinar um par de anos até conseguir reunir os meus amigos neste evento. A motivação é essencialmente essa: uma reunião de amigos, que, entretanto, trouxeram amigos e o evento foi crescendo até à sua dimensão atual", descreve, pregando o quadro com uma moldura cristalina da evolução deste torneio que convoca desbunda e boa-disposição.
"A primeira edição foi marcante como culminar de uma ideia, de isolamentos e afins. O segundo ano, igualmente, porque ajustámos de um jogo de futebol de 11 para o formato atual de torneio de futebol de 8 - o que tornou tudo mais competitivo e divertido. Finalmente, a edição passada, focada no Euro 2004), já que a minha equipa conseguiu levantar o troféu - éramos Portugal. Fomos a coxear até à final onde derrotámos os favoritos, a República Checa. Foi um momento marcante, não para mim, pois enquanto organizador nem faço questão de ganhar para ser bom anfitrião, mas, essencialmente, para os nossos filhos, que ano após ano nos apoiam desde as bancadas", atira, recortando pedaços de uma obra engrandecida pela amizade e pela comunhão de um futebol lendário. O Carnabol ganhou temáticas mas arrancou livre. "Na primeira edição cada um trouxe uma camisola vintage e jogámos claros contra escuros. A partir do momento em que passámos para um torneio de futebol de 8, passámos a fazer com temática e equipas. Já tivemos os “grandes de portugal”, o 'USA 94', a “Taça dos Campeões Europeus” e, em outubro passado, celebrámos os 20 anos do 'Euro 2004", rebobina Lourenço Ferreira, agradado com o circuito da informação sobre o evento e os entusiastas que se têm fidelizado em diferentes partes.
"Temos emigrantes, que fazem questão de marcar férias para a altura do torneio. E nas inscrições, temos sempre uma ou duas equipas que viajam do norte para participar e, por vezes, até levam a Taça para cima", atesta. O santo patrono desta festa, desvenda a competição de dia 28 de Junho. "Será dedicada à Premier League dos noventas com Manchester United, Liverpool, Arsenal, Leeds, Tottenham, Newcastle, Chelsea e West Ham", enuncia, desautorizando uma provocação sobre a ausência do Wimbledon do Crazy Gang. "A primeira coisa que “aviso” cada novo jogador é sobre o facto de isto ser um jogo amigável, de veteranos, em que ninguém se quer chatear, muito menos magoar. Claro que há competitividade, mas ações menos elegantes são estritamente proibidas. Até porque temos dezenas de crianças a assistir ao evento", contextualiza, banindo um aspirante a Vinnie Jones da fita do Carnabol. "Como tal, um Crazy Gang do Wimbledon, que era temido pelas piores razões, não se coaduna com os nossos valores! Mas temos equipas fortíssimas a praticar futebol positivo. Os grandes favoritos este ano a vencer o troféu são o Manchester United e o Chelsea. O favorito a ganhar na pândega (que é o mais importante) é o West Ham", graceja Lourenço Ferreira, garantindo que o evento até chegou a impressionar uma lenda pelo fenómeno das redes sociais. "Nunca decidimos contactar antigos jogadores mas há alguns que fazem o simpático 'like' nas redes sociais. Foi o caso do falecido Andreas Brehme, campeão do mundo em 1990."
Por fim, num exercício à originalidade e criatividade nas imitações futebolísticas, Lourenço Ferreira também vibra com imagens que ficam perpetuadas para a história. "Ano após ano aparecem imitações extraordinárias. Pela semelhança visual e também gestual. É também para isso que cá estamos, para homenagear quem nos deu inúmeros momentos inesquecíveis. E, é por isso, que a cada edição presenteamos a melhor imitação. Assim de memória, já tivemos um fantástico Roberto Baggio, Chalana, Carlos Valderrama, Jurgen Klopp, Ruud Gullit, Artur Jorge ou Paulinho Cascavel…", conclui Lourenço Ferreira, estimando disputa acesa pela conquista da nova edição, não faltam pergaminhos nos participantes, ambições ao rubro, até porque há um troféu, uma réplica da que enobrece o Mundial, acrescentada, neste contexto, do desenho de dois lavagantes, em analogia a um apelido do organizador. Os jogos acontecem na manhã de sábado, dia 28, e prolongam-se até ao início da tarde.