Agora no papel de dirigente, quer fazer do clube do Vale do Sousa um exemplo de crescimento sustentado. Aposta em valências internas
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Há um Paredes em reconstrução, do banho de loja ao imaginário de topo, objetivos de ponta. Com pés na terra... sem onda fantasiosa. E com sangue local. O presidente Pedro Silva convenceu Caetano, antigo jogador do FC Porto e Paços de Ferreira, a voltar ao futebol, após o deixar já embrulhado em negócios de família, herdando responsabilidades no império Manuel Caetano, outro grande jogador do futebol português nos anos 80 e 90. O clube do Vale do Sousa já sorri para a modernidade em poucos meses, fruto de um investimento imediato e uma ampla requalificação estrutural. No comando da equipa está Tarantini, nome forte de ex-jogador que sempre pensou o futuro dos jogadores, cabendo-lhe agora colocar todas as peças em sintonia, engrenagem afinada numa estrada que pretende abrir atalho para futuro próspero e convívios de outros pergaminhos. O bólide paredense arrancou a época de prego a fundo com 6-1 ao Dumiense.
“Este projeto passa por trazer as pessoas ao clube, envolver a cidade. É para irmos longe, mas não rápido. Temos um único objetivo nesta primeira época, estruturar e profissionalizar o clube”, assegura Rui Caetano, 33 anos. “Sabemos que é a parte mais difícil, retendo coisas boas do passado. Em pouco tempo estamos a transformar o departamento de performance, médico, os gabinetes técnicos, a área de merchandising e comunicação. Já temos balneários novos, ginásio, zonas administrativas de raiz. Foi uma revolução pela base para tornar o clube sustentável. Se chegarmos onde queremos sem condições, não adianta”, admite Caetano, com força nas decisões numa “simbiose perfeita” com o presidente.
Encontro de vontades, muito ditado pelo sabor da terra e pelas memórias de meninice. “Não contava com este regresso ao futebol, após três anos e meio desde que deixei de jogar. Tinha empresas que estavam a crescer muito, não estava a ser profissional, achei que era o momento de abandonar, pois não descansava o suficiente e também não via a carreira numa fase positiva”, lembra, agarrando as motivações atuais. “Nunca pensei que algo pudesse acontecer assim, mas tudo surgiu muito rápido. E aqui estou eu no clube que me viu nascer, o clube do coração. Foi algo inesperado, mas estou aqui para ajudar o Paredes a elevar-se a outro patamar”, sustenta Caetano, já vislumbrando um papel aglutinador e construtivo. “Espero conseguir aquilo que consegui como jogador. No dirigismo é mais difícil, mas sempre fui pessoa querida, apreciado pelos adeptos, batalhei por um futebol positivo. Estou aqui para tentar fazer algo realmente diferente”, anuncia o antigo atacante.
Caetano abraçou o Paredes “quando algo estava a desenhar-se para chegar a outro clube como investidor”. “Num almoço com o presidente, que me convidou, aceitei de imediato, pois outras coisas falaram mais alto, a paixão pelo clube e cidade, a vontade de fazer algo grande aqui, somar a minha experiência no mundo do futebol, fazer algum investimento. Não vai ser rápido, mas vamos ser bem-sucedidos”, define, perentório que só tem um caminho na mente, injetando outro pulsar num clube que nunca esteve na elite nacional e joga o Campeonato de Portugal. “O sonho comanda a vida, quero ver o Paredes atingir o lugar onde nunca chegou. Acreditamos que é possível, queremos ir longe e levar connosco as pessoas”, afiança, ouvindo as bancadas e escutando os apelos mais emotivos. “Falar do Paredes é falar da infância, onde vivi até aos 32 anos, só agora fui viver para o Porto. É o clube do coração, o meu pai foi presidente, eu joguei de pequeno, iniciei-me. Fazer algo agora pelo Paredes é muito gratificante, é algo sem palavras. FC Porto e Paços dizem-me muito, mas aqui é diferente, é onde tudo começou, onde a minha infância aconteceu”.
Tarantini à medida
Após ter sido adjunto no Famalicão, Tarantini viu chegar de Paredes o grande desafio para traçar o seu rumo nos bancos. Caetano não podia ser mais transparente sobre as razões da escolha do antigo médio do Rio Ave. “A escolha é a amostra perfeita do que queremos neste projeto, ser exemplo dentro e fora do relvado, ter futebol positivo e de ataque. Que as pessoas gostem de ver! E com fair-play. O ‘Tara’ tem isso tudo, um exemplo no campo, um exemplo pelo seu doutoramento enquanto jogava, o que era como capitão. Mesmo que seja a primeira aventura, a experiência é muita, de muitos e bons técnicos, de ter o nível 4. Preparou-se e formou-se com estágios com Luís Castro e Nuno Espírito Santo. Foi adjunto do Famalicão”, relata, encadeando um histórico considerável de credenciais. “É metódico e conhece bem o cheiro do balneário. Pela ideia de jogo, assenta que nem uma luva e é um treinador de projeto, por isso assinou por dois anos. Tem sido a aposta certa, pois também é alguém que nos vai ajudar muito a profissionalizar o clube. Não tenho dúvidas que vai ser um dos melhores técnicos portugueses, vai estar no topo. É um estudioso nato”, atesta.
Confiante que o treinador “vai ajudar a praticar um futebol bonito”, Caetano destaca que “as pessoas foram satisfeitas para casa ao primeiro jogo”. “É uma equipa de qualidade mas o campeonato é muito difícil, pelos campos, pelos sintéticos. Vai ser preciso também agressividade, espírito de sacrifício. Não queremos pensar na subida, só pensaremos nisso se mais à frente estivermos em posição de lutar por ela”, alerta. O dirigente elogia ainda as apostas em Poulson e Vasco Rocha. “São referências do clube, adoram o Paredes, foi importante recuperá-los pela experiência de outros patamares. Vieram por tudo o que nos podem dar, dentro e fora do campo, passam a mística e vão ajudar a formar um grande balneário”, reconhece, não escondendo também a importância das movimentações fáceis no meio. “Estando dentro temos mais conhecimentos. Mas também acontece com o Rui Pedro, que foi contratado para diretor desportivo. Jogou em imensos clubes, vive o futebol dia e noite, conhece muita gente. Também há o senhor Teixeira como team manager. Há aqui um planeamento conjunto com o presidente. E, depois, foi tudo em sintonia com o Tarantini, que teve liberdade total para escolher o grupo. Também dei um toque pessoal num pormenor ou outro. Houve uma preocupação com a parte humana, porque a qualidade já era conhecida”.
Pai, que já foi presidente, torceu o nariz
Caetano garante que o pai ficou em choque quando soube que iria reentrar no futebol com funções diretivas. “Não queria nada, foi completamente contra. Agora nada há a fazer, mas já tenho total apoio dele”, contextualiza, rindo-se com a convergência do destino de ambos. “Tem sido giro, estou a repetir o trajeto do meu pai. Ele saiu do futebol com 29 anos, após ter feito um golo na última jornada. Eu da mesma maneira. Ele tornou-se presidente do Paredes com 33 anos, eu entrei no clube com a mesma idade. O arranque como empresários dá-se cedo, ele jogava e já estava na área, eu também. O meu pai é um exemplo de homem e de empresário. Aprendo com ele todos os dias, tem muito sucesso, identifico-me e sigo as suas pisadas”, expressa Caetano.
“O presidente foi talvez a melhor pessoa que encontrei no futebol, a nossa complementaridade é fantástica. Este é o início, trabalha-se muito, mais do que estava à espera. Estamos a profissionalizar tudo para que, depois, o barco fique em andamento. É uma experiência espetacular, com muita gente a contribuir, porque foi montada uma grande estrutura com muitas contratações”, evidencia, olhando ao seu sucesso empresarial, que não belisca o novo foco. “Claro que o nosso grupo M. Caetano continua a crescer muito a partir da construção, com muito volume de negócios no Porto, Matosinhos e Gaia. Estamos numa fase boa também na área dos hotéis, dos ginásios e dos campos de padel, além de clínicas de medicina estética. É um grupo vasto mas temos muita gente connosco e sobra tempo para outras coisas e para pensar no Paredes”, garante.