Pacheco nasceu em Portimão e fez carreira de águia ao peito, mas está à espera da festa encarnada num jogo "para ganhar" e porque, avisa, "nunca se deve deixar a decisão de um campeonato para um dérbi". Antigo extremo realça a importância de Roger Schmidt numa caminhada que vê no trilho do título nacional, sobretudo depois do Benfica ter recuperado do "problema emocional" chamado FC Porto.
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Trocou o Portimonense pelo Benfica em 1987, viveu seis épocas na Luz antes de rumar ao Sporting. Pacheco, de 56 anos, assume-se benfiquista, amigo de Rui Costa, e acredita na conquista do título. Em Portimão, as águias têm "a obrigação de ganhar", assim como na derradeira jornada, na Luz, o Santa Clara, para não dependerem do embate imprevisível com o Sporting.
Como é que um natural de Portimão, que fez carreira no Benfica, antevê o jogo de amanhã?
-Quero sempre que as duas ganhem, mas não será essa a minha expectativa desta vez. O Portimonense já tem o seu objetivo cumprido e o mesmo não acontece com o Benfica. Esperar que o Benfica ganhe o jogo e o jogar bem já será relativo. Já não é época para isso, só para ganhar.
O que tem o Benfica de fazer para evitar uma surpresa?
-É daqueles jogos em que o momento irá definir a estratégia. E esta só pode ser uma, independentemente do adversário, do local e das circunstâncias, o Benfica tem dois jogos em três para ser campeão, que tem de ganhar. E isto não será novidade nenhuma até porque os jogadores estão habituados a este tipo de situações e atendendo à diferença de qualidade das duas equipas, é uma obrigação o Benfica ganhar o jogo.
O Benfica entrou mais pressionante no último jogo com o Braga. Faltou essa atitude em alguns momentos?
-O Benfica tem um problema emocional a jogar com o FC Porto e deixou mossa aquela derrota e a forma como aconteceu. Teve repercussões nos jogos com o Inter, algumas com o Chaves, apesar da atitude já ter sido diferente, mas havia ainda alguma falta de clarividência. A atitude, o resultado e a confiança que conseguiu angariar neste jogo com o Braga trouxeram de volta aquilo que será necessário para o Benfica ser campeão. Este jogo com o Braga permitiu a reposição dos níveis emocionais, apesar do Braga ter sido uma completa deceção na forma como abordou o jogo. Acabou por ter sorte, mas merecia ser fortemente castigado pela sua atitude em campo, contrária ao que o seu treinador disse. Quem quer ser grande, não entra com aquela postura, de não querer assumir o jogo. Foi o que o Benfica não fez com o FC Porto, não assumiu o jogo e quando quis recuperar já foi tarde.
Seguindo-se um dérbi, que Pacheco viveu por dentro, isso criará maior ansiedade na equipa por sentir ainda mais a necessidade de ganhar ao Portimonense?
-Este é o jogo mais importante. O Benfica, se ganhar, e partindo do princípio que o FC Porto também vencerá em casa, irá manter a vantagem de quatro pontos e conseguirá depois fazer a gestão nos dois jogos finais. Mesmo com algum percalço, continua a ter possibilidade de ser campeão. Os jogadores estão avisados e já têm experiência para lidar com a ansiedade. Podem ainda dar uma borla, digamos assim, porque têm o Portimonense e o Santa Clara para finalizar a tarefa.
Ganhar ao Portimonense na véspera de jogar em Alvalade afigura-se como decisivo?
-Nunca se deve deixar essa decisão para um dérbi, mas se tiver de ser assim terão de se preparar da melhor maneira para encarar o desafio. Será sempre um embate mais difícil com o Sporting do que com o Portimonense, portanto não convém perder esta oportunidade. O Benfica até tem tido mais facilidade em Alvalade do que no Dragão, mas isto é futebol e tudo pode acontecer.
Que momentos principais escolhe na época do Benfica até agora?
-Negativo escolho o jogo com o FC Porto, em que este mereceu vencer, em todos os aspetos. Nos positivos aponto a regularidade exibicional do Benfica ao longo de várias séries de jogos e para atribuir mérito a alguém terá de ser ao treinador porque a mudança foi tão clara e evidente, comparativamente à época anterior, que temos de dar mérito a Roger Schmidt. Quanto a jogadores, nenhum se destacou muito acima de outros, mas a escolher alguém seria o António Silva, porque é um miúdo que fez 30 jogos seguidos com um nível exibicional extraordinário, ele que quase não jogou na equipa B.
Fala de Roger Schmidt, um treinador que chegou a ser criticado porque demorava a mexer na equipa e agora já o tem feito mais cedo...
-Não acho que tenha mudado e não merece ser criticado. Chegou aqui e meter a equipa a jogar e a ganhar, é primeiro classificado desde a primeira jornada, vamos falar de quê? Se serviu desde o início não vamos arranjar-lhe agora problemas. É deixá-lo sossegado.
No ataque do Benfica está Gonçalo Ramos, que parou a sua contabilidade de golos há oito jogos, frente ao Rio Ave. Como se explica este jejum do goleador da equipa?
-O Gonçalo não é um virtuoso, é um finalizador, um batalhador, um jogador que depende muito daquilo que os colegas produzem. Os jogos que esteve sem marcar coincidiram com aqueles em que o Benfica apresentou menor produção ofensiva. Contra o Braga já teve duas oportunidades, mas perdeu alguma confiança. É daquele tipo de jogadores que regressa de um momento para o outro.
O ambiente e a ligação ao FC Porto
Para Pacheco, o ambiente que se vive em Portimão nas horas que antecedem o jogo com o Benfica é "normal", com o antigo jogador a destacar "algum distanciamento entre as pessoas da cidade e a SAD". A explicação, que aponta como um erro, tem a ver com o "notório relacionamento muito próximo entre o Portimonense e o FC Porto numa cidade de benfiquistas, que justifica um certo desfasamento entre a população e o Portimonense". "A euforia é muito mais vivida pelas pessoas que chegam de fora. Além disso, as pessoas de Portimão praticamente não tiveram possibilidade de se chegar à bilheteira e comprar bilhete. Já estava tudo vendido, nós os portugueses "destinamos" tudo", criticou ainda.