ENTREVISTA, PARTE VI - Sendo estruturante para o futebol português, Salvador quer centralização de direitos a avançar rapidamente.
Corpo do artigo
Qual a posição do Braga em relação à centralização dos direitos televisivos, sendo que os clubes grandes não aceitam receber menos e o Braga quererá receber mais?
-Acho que é legítimo. Mas deixe-me dizer que vejo este tema com algum desencanto, porque não consigo perceber como é que andamos há quase quatro ou cinco anos a debater a centralização com avanços tão tímidos. Não consigo perceber como é que ao fim destes anos todos, e vejo sempre o presidente da Liga [Pedro Proença] a falar na centralização, e acho que estamos a perder uma oportunidade, pois até 2028 a centralização tem de ser um dado adquirido e até final da época 2025/26 tem de haver uma chave de distribuição para apresentar ao Governo, sob pena de ser o próprio Governo a decidir. Há clubes que terminam contrato antes de 2028. Um dos grandes em Portugal termina contrato em 2026 e vai renovar o contrato em alta até 2028. Isso vai dificultar a centralização. O maior erro da gestão do Pedro Proença, que considero um excelente presidente da Liga, será deixar que haja contratos renovados sem que a centralização seja uma realidade. E a este respeito deixe-me vincar um alerta: espero que a ninguém ocorra a tentação de influenciar o poder político a recuar face ao decreto que obriga à centralização. Estarei vigilante e serei interventivo se perceber que há essa tentação.
Diria que a centralização devia entrar em vigor em 2026?
-Tem de entrar em vigor o mais rapidamente possível. É importantíssimo para a competitividade do campeonato. Ouvi Pedro Proença dizer que a centralização é para investir nas infraestruturas. E é, mas também para investir na competitividade. É para investir nas infraestruturas dos que não têm condições para competir ao mais alto nível. O Braga tem feito o seu caminho nas infraestruturas e é o clube que assume os investimentos, não é a centralização, não é a Liga, não é a FPF, nem é o Município, nem o Estado. Os critérios na Liga têm de ser mais apertados, não concebo que a meio do campeonato haja clubes que já mudaram três vezes de estádio, que numa Liga no sexto lugar no ranking e já esteve no quinto, haja clubes sem condições. Um clube que se classificou para as competições profissionais mas não tem condições, não pode subir.
"Tem de haver abertura a investimentos"
Mudanças por que o futebol tem passado nas últimas décadas obrigam à aceitação de investidores, pese embora más experiências que foram vividas em Portugal, como refere o presidente do Braga.
Entende a preocupação dos sócios quererem manter o controlo da SAD, quando nos grandes campeonatos da Europa, os clubes são detidos por investidores?
-Percebo mas o futebol de hoje não é o de há 20 anos ou 25 anos, quando foram constituídas as SAD em Portugal. E ou se adaptam à realidade, à evolução do futebol europeu e mundial, ou esses clubes vão ficar para trás. Tem de haver abertura a esses investimentos e deixar de estar agarrados à maioria. Percebo que os portugueses estejam frustrados com acionistas que entraram nos clubes, de escalões inferiores e até da I Liga. O que se passou foi uma vergonha mas é um problema de regulamentação.
Devia haver uma comissão que fiscalize a idoneidade dos investidores?
-Claro! Esse é um caminho que está a ser feito porque há uma nova legislação, implementada pelo Governo cessante e pelo secretário de Estado [do Desporto].
Vê o Braga num grupo como o do Manchester City mas com a QSI?
-As regras da UEFA são claras, quem tiver a maioria num clube não pode ter noutro. O máximo que a QSI pode ter é um terço do capital social do Braga. Não tenho dúvidas que a QSI como parceiro do Braga, mesmo minoritário, traz muita mais força.
Nessa parceria, o Braga pode beneficiar de jogadores?
-Sim, mas o nosso foco está na valorização internacional da marca, nas áreas digital, comunicação e comercial, e nos seus ativos. Isso dos jogadores pode acontecer, mas temos um modelo próprio, centrado na nossa academia. Temos que nos focar em exportar mais do que importar.