ENTREVISTA, PARTE I >> O líder da Lista B teve dúvidas quanto à recandidatura, mas acredita que, mesmo perante as saídas do plantel em janeiro, a equipa está mais forte. Críticas de Luís Cirilo não preocupam.
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Após um mandato desafiante, António Miguel Cardoso decidiu recandidatar-se por entender que ainda há muito por fazer. O balanço do primeiro mandato é positivo, apesar das muitas armadilhas. Externas e... internas.
"Criámos um problema no Vitória, que tem que ver com as expectativas"
Passaram-se três anos desde que assumiu a presidência. Foram três anos que pareceram dez?
-[Pausa] Acho que pareceram três anos. Há duas perspetivas. Por um lado, parece que tudo é muito rápido, porque foram três anos em que as coisas aconteceram a uma grande velocidade. Por outro, a perspetiva de saber aquilo que passámos nestes três anos, os desafios que tivemos dentro de Vitória, tudo o que fomos conseguindo ultrapassar, aí sim, provavelmente pareceu mais do que uma década. Na minha vida sempre fui habituado a ter objetivos, a ter desafios; portanto, este é mais um, pesado, difícil, mas muito desafiante. Acho que, de alguma forma, estes três anos foram bem intensos, mas foram só três anos.
"Tomei decisões difíceis e não me arrependo, porque tomei-as de consciência livre"
Quando assumiu a presidência, tinha ideia de que o Vitória estava com tantos problemas?
-Tinha a ideia de que estávamos mal. Quando entrei, sem ter dinheiro na conta, com o passivo e tantas dívidas que tínhamos, com um orçamento tão grande e sem receitas, porque a maior parte das receitas tinham sido adiantadas, admito que vivemos aqui momentos difíceis, dramáticos. Passados três anos, conseguimos sobreviver, passar esta travessia sem receitas e começar a inverter o caminho, porque as coisas não se invertem de um dia para o outro. Tivemos muitos momentos desafiantes. Mesmo na própria estrutura, e no seu dia a dia, tomando sempre decisões que são difíceis... Houve uma instabilidade interna que também é importante e faz parte dos desafios na gestão de um clube como o Vitória. Por isso, sim, houve momentos difíceis, mas conseguimos dar a volta.
"Acho que existiram expectativas e idealizações, criadas por determinadas pessoas, que fizeram com que o início tivesse sido muito difícil"
Olhando para trás, o que teria feito de diferente?
-Muito sinceramente, não sou pessoa de egos, com a mania de que tenho razão. Sou uma pessoa de convicções e de estar bem com a minha consciência. O que sempre disse foi que vim trabalhar para o Vitória para fazer bem ao clube, em prol do seu crescimento. Tomei decisões difíceis e não me arrependo, porque tomei-as de consciência livre. Sempre dissemos que vínhamos para começar a reestruturar o clube a nível financeiro, e isso foi feito. A nível desportivo, existiam muitas dúvidas em relação a conseguirmos ter sucesso ao mesmo tempo que a reestruturação era feita, e acho que estes três anos provaram que era possível. Criámos um problema no Vitória, que tem que ver com as expectativas, porque, realmente, as pessoas não estavam à espera e criaram expectativas de que já estávamos um ou outro degrau acima do que estamos atualmente. E, portanto, essas expectativas acabam também por se virar contra nós. Obviamente que há uma ou outra situação em que poderei estar arrependido, mas, no geral, estou satisfeito com o trabalho que fizemos.
"Houve muita gente que pôs em causa a minha forma de liderar, porque tinha outras expectativas. Primeiros meses foram difíceis"
Qual foi o momento que mais o marcou neste mandato?
-[Pausa] Os primeiros meses, porque entrei num clube em que muitas das pessoas que vieram comigo tinham idealizações e expectativas sobre o que fariam aqui dentro, e que eu poderia servir como porta-voz dessas mesmas expectativas. Mas, quem me conhece sabe que sou uma pessoa de convicções fortes, sou líder e não tenho dúvidas disso. Acho que existiram expectativas e idealizações, criadas por determinadas pessoas, que fizeram com que o início tivesse sido muito difícil. Houve muita gente que pôs em causa a minha forma de liderar, porque tinha outras expectativas, fazendo com que os primeiros meses do mandato tivessem sido difíceis.