A história escondida da festa da subida: do técnico irritado aos extintores partidos
Ter jogado de manhã e subido à tarde, no sofá, foi incomum, mas as paredes do estádio escondiam um plantel que já estava à espera de poder festejar. Tudo o que estava bom, ficou "em mau estado"...
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O Famalicão é de primeira há precisamente um ano. Foi a 28 de abril de 2019 que o "Fama", que tinha vencido o V. Guimarães B (4-1) pela manhã, subiu à tarde, no sofá, depois de o Penafiel bater o Estoril (4-2), a três jornadas do fim da II Liga, confirmando o regresso ao convívio com os grandes, 25 anos depois da última presença.
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Nesse dia, o plantel, então orientado por Carlos Pinto, começou a preparar a festa durante a tarde, assistiu no estádio ao encontro dos estorilistas e as paredes do Municipal de Famalicão acabaram por esconder histórias de um grupo eufórico, que um ano depois contou algumas delas.
A ida ao supermercado para comprar bebidas
O dia do regresso do "Vila Nova" começou pelas 8h00 e prolongou-se até altas horas da madrugada. "Quando ganhámos ao Vitória percebemos que ia haver festa", recorda o lateral-esquerdo Jorge Miguel. "Quase toda a equipa foi almoçar e depois comprámos umas bebidas e fomos para o estádio ver o jogo do Penafiel. Ao intervalo, já estávamos meio alterados", acrescenta o central Ângelo Meneses. "Quando o jogo acabou já havia champanhe e tudo e mais alguma coisa", lembra Jorge Miguel.
Os extintores e o golo que irritou Carlos Pinto
Ninguém se segurava ao ver o encontro de Penafiel. Reformulando: quase ninguém, pois Carlos Pinto estava irritado com o golo que o Famalicão tinha sofrido de manhã, marcado por... Tapsoba. "O Carlos estava no gabinete dele e desligou o telefone para não saber do resultado. Fomos avisá-lo que o Penafiel tinha feito o 3-1, mas ele estava desesperado com o golo que tínhamos sofrido de manhã. Todos estávamos focados no Penafiel, menos ele, que tirava os minutos dos lances em que tínhamos estado menos bem. "Olha para isto", dizia-me ele", revela o adjunto Pedro Machado. "Pouco depois chamei-o e os jogadores foram para cima dele com farinha e cerveja. Depois do 3-1 já ninguém viu mais nada", refere.
O grosso da equipa reuniu-se para almoçar depois de vencer o V. Guimarães B. Os jogadores compraram bebidas para assistirem ao Penafiel-Estoril e ao intervalo já estavam "bem animados"
Pelos corredores do estádio já andavam carrinhos de compras cheios de bebidas e Luís Rocha deu numa de bombeiro com um extintor na mão. "Fomos à rouparia vestir as nossas camisolas e mandámos tudo pelo ar. Dissemos ao roupeiro que já não mandava nada, porque já tínhamos subido. Entretanto, alguém pegou na mangueira e andava a molhar-me. Eu respondi de extintor", confidencia o central. "O maluco do Rocha lembrou-se que tinha que rebentar com o extintor. Andámos todos a fugir. Pusemo-nos a correr pelo campo com as bandeiras da claque, que também se estragaram, e o carrinho que tinha as cervejas caiu. Tudo o que estava bom ficou em mau estado", ri Ângelo Meneses.
A loucura na multidão
O resto da festa fez-se com milhares de pessoas. "O Anderson também pegou num extintor na Câmara Municipal e mandou o fumo para a zona dos adeptos", narra Luís Rocha. "Ver aquela enchente foi o melhor momento da noite", comenta Ângelo Meneses. "Ainda fomos jantar. Nessa noite até mal dormi", revive Jorge Miguel. Foi o pontapé de saída neste clube com fama de sensação da Liga.
Pinturas no estágio dão goleada
Uma semana depois da subida seguiu-se uma deslocação à Póvoa de Varzim e a animação alastrou-se ao estágio. "Alguns jogadores levaram tinta e a nossa concentração foi andar a pintar a barba e o cabelo de amarelo, ao ponto de o Pedro Machado dizer para termos cuidado", relata Luís Rocha. "Fui aos quartos e já havia uns dez jogadores de cabelo pintado. Eu e os capitães tentámos pôr um travão, mas já não controlávamos nada", explana Pedro Machado. Nada que tenha causado mossa, pois o Famalicão ganhou 4-1. "Estávamos num bom ambiente, dava para tudo", relembra Luís Rocha.