Uma promessa do FC Porto para a baliza: "Muitas vezes faz uma finta ao ponta de lança..."
FC Porto fez convite após um torneio na Boavista. O pai do guarda-redes Francisco Meixedo até pensou que era brincadeira.
Corpo do artigo
O FC Porto está a apostar seriamente nos jogadores da formação e Francisco Meixedo é um dos guarda-redes mais promissores do futebol português.
Prova disso é que tem treinado diariamente com Sérgio Conceição e deve subir ao plantel principal a título definitivo na próxima temporada, para reforçar competências e ganhar maturidade.
Com 19 anos, é mais um vencedor da Youth League na rampa portista. O JOGO quis conhecer melhor este jovem e ficou a saber que o destino podia tê-lo levado para o Benfica. Podia até ser ponta de lança, porque demonstrava faro de golo e qualidade de pés. "Muitas vezes faz uma finta ao ponta de lança, é maluco quando tem de ser, mas muito responsável quando a situação assim aconselha", conta Filipe Bastos, defesa-central dos Juniores A do Boavista e um dos melhores amigos do guarda-redes. Nos jogos com a família e na escola era sempre avançado. João Meixedo, o pai, recorda esses primeiros passos. "Quando ia buscá-lo ao infantário, ele nunca queria vir, porque estava a dar chutos à bola. Inscrevi-o na Escola Hernâni Gonçalves com sete anos. Num dos torneios, contra a escolinha do Rui Barros e do Domingos, ganharam 7-0 e o Francisco marcou os sete golos", recorda.
Meixedo passou a jogar com os mais velhos, mas percebeu que era mais fácil somar minutos se fosse para a baliza. "Houve um torneio em Bragança de Futebol de 7, para crianças de 9/10 anos, e não tinham guarda-redes. Falaram ao Francisco e ele queria era passear. Fizeram três jogos e levaram três cabazadas, uma delas contra o Benfica. Ficou 10-0. Ele nunca tinha visto uma baliza tão grande e veio triste. Não queria voltar a ser guarda-redes", conta o pai.
O gosto pelo futebol, porém, não desapareceu. Continuou na baliza e disputou um torneio de futebol de rua, na Rotunda da Boavista. "No final do jogo, veio um senhor do FC Porto ter comigo a dizer que tinha gostado de ver o Francisco. Olhei à volta para ver se estava lá algum meu amigo e se era alguma brincadeira. Era o Rui Gomes, treinador no FC Porto. Pediu o meu contacto, fiquei contente, mas não levei a sério", admite João. Pouco tempo depois, um novo torneio de rua, na Praça D. João I, no centro do Porto. "Jogaram contra o Salgueiros e, no final, os treinadores do Salgueiros e do Leixões contactaram-me. Veio ainda uma pessoa do Benfica falar comigo. Comecei a pensar que aquilo era a sério", reconhece.
O interesse dos encarnados era real. "Ligaram-me e disseram-me para o Francisco ir ao Seixal, porque tinha de ser observado, mas eu perguntei se eles não tinham escolas no norte. Disseram-me que tinham, em Águeda...". Para quem vivia no Porto, era longe. Meixedo acabou por ir treinar ao Salgueiros e ficou, mas um novo contacto do FC Porto levou-o para o Olival. "Num sábado, fez um jogo-treino pelos Sub-9 contra o Leixões, não sofreu nenhum golo e saiu ao intervalo. Ficou e assinou para jogar nos Sub-10", detalhou. Nessa equipa já era companheiro de Fábio Vieira e João Mário, os outros dois jogadores chamados recentemente por Conceição.
Mas nem tudo foi um mar de rosas. "Esteve para ser dispensado no primeiro ano de juvenil. No segundo treino da época, partiu a clavícula e quase não jogou. No segundo ano de juvenil, o treinador de guarda-redes sugeriu que ele passasse para o Padroense. Ainda fez os últimos três jogos", conta João Meixedo. A sorte mudou no final da época. Chamado para um torneio no estrangeiro, alinhou em dois jogos, incluindo a final, e mostrou a sua qualidade até na decisão das grandes penalidades. "Quando regressou, no primeiro ano de júnior A, surpreendentemente foi titular, numa luta com dois colegas mais velhos". Meixedo ganhava o seu espaço e nessa mesma época, em 2018/19, ajudou o FC Porto a vencer o campeonato nacional de Sub-19 e a Youth League.
Afinal não era o Benfica...
Apesar de ser sportinguista, João Meixedo, o pai, gosta de todos os clubes da cidade do Porto. Então, um dia levou o filho ao Estádio do Dragão para ver um FC Porto-Marítimo. Estávamos a 18 de fevereiro de 2006. " O Francisco tinha quatro anos e levei-o a ver o jogo. Como o Marítimo equipava de vermelho e verde, e como sobressaía o vermelho, o Francisco ficou convencido que o FC Porto tinha ganho ao Benfica e ficou contente", lembra João Meixedo, soltando uma gargalhada. Face à alegria do filho por ver o FC Porto ganhar ao suposto Benfica, o pai manteve essa ideia por muitos anos: "Eu nunca desmenti, mas só alguns anos depois é que ele soube que tinha visto um jogo como Marítimo e não com o Benfica".
João recorda-se perfeitamente desse jogo, numa época que acabaria com o FC Porto a festejar o título. "O FC Porto ganhou 1-0 com um golo do meio da rua do Raul Meireles", conta, feliz pela vitória dos dragões, apesar de ser leão. "Sempre gostei muito do FC Porto, do Boavista e do Salgueiros, mas especialmente do FC Porto, até porque estou habituado a chegar ao Natal e começar a torcer pelo FC Porto, porque o Sporting não dá nada", brinca. "Tenho uma costela portista e o facto de o Francisco está a jogar no FC Porto potencia isso", justifica, em jeito de conclusão.
O resgate ao Salgueiros
Antes de assinar pelo FC Porto, Francisco Meixedo teve tudo acertado com o Salgueiros. Nessa altura, jogava na Escola Hernâni Gonçalves e dividia o espaço de treinos, na Rua Damião de Góis, com o clube de Paranhos. O pai, João, recorda o dia em que tudo mudou: "O treinador dos guarda-redes dos juniores e dos seniores do Salgueiros pediu-me para levar o miúdo. Ele tinha oito anos, foi para lá e esteve no Salgueiros um mês e meio ou dois meses". Agradou e assinou pelo Salgueiros, mas pouco tempo depois o pai recebeu uma chamada do Olival. "Ligaram do FC Porto, mas avisei que o Francisco já estava a treinar no Salgueiros e que eles já tinham os meus documentos e os do meu filho". Era, de facto, um problema, mas a hipótese de jogar no clube do coração não estava colocada de lado. "Lá convenceram e o Francisco foi treinar ao Olival. Gostaram, mas garantiram-me que não recrutavam nenhum jogador com menos de três treinos", revelou João Meixedo.
O pai fez ver que não podia deitar tudo a perder, porque o filho podia ficar sem jogar no Salgueiros e no FC Porto. "Houve uma pessoa do FC Porto, lamento não me lembrar o nome, que me disse que tinha a certeza que ele ia ficar, porque nunca tinha visto um miúdo com aquela idade e com aquelas características. Foi tão convincente que acabei por ir ao Salgueiros dizer que ele não ia para lá e pedi os documentos".
Um problema que ficou resolvido quando chegou à sede do Salgueiros. "Não disse que o Francisco ia para o FC Porto, mas chegou um dirigente responsável pelo futebol juvenil, apertou-me a mão, deu-me os parabéns e disse-me: "se fosse o meu filho também ia já direto para o FC Porto". Rasgou o contrato e devolveu os documentos", conta o pai do guardião.