"A chegada ao Porto foi apoteótica, com as pessoas todas na VCI, no meio da estrada..."
Pedro Mendes, antigo médio do FC Porto, passa em revista as memórias de um dia épico com a conquista da Liga dos Campeões, sem esquecer o clima “apoteótico” no regresso
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A festa portista no relvado da Arena AufSchalke, em Gelsenkirchen, foi apenas o tiro de partida de uma euforia que viajou da Alemanha até à Invicta. Era já de manhã no dia 27 de maio quando a comitiva azul e branca aterrou no Porto, com a “orelhuda” em riste e pronta a mostrar aos milhares de adeptos que, pelas ruas, aguardavam os heróis da Liga dos Campeões. Esses, porém, não tinham real noção daquilo que iam encontrar.
Entre a ansiedade de jogar uma final e o posterior êxtase da vitória, o ex-internacional reconhece alguma dificuldade em lembrar-se de tudo, mas aponta “o terceiro golo” como momento-chave.
“A chegada ao Porto foi apoteótica, com as pessoas todas na VCI, no meio da estrada, a abanarem os carros, e a Alameda do Dragão cheia”, recorda, a O JOGO, Pedro Mendes, que definiu o terceiro golo da final, anotado por Alenichev, como o momento que “fez cair a ficha”. “É aí que caio em mim, é quando realmente me apercebo de que ganhámos. Levantar a taça foi um momento único”, aponta o antigo médio.
“Foi no terceiro golo que caí em mim. É quando realmente me apercebo de que ganhámos. Levantar a taça foi um momento único”
Escalado por José Mourinho como um dos onze titulares, o agora agente de jogadores rapidamente partilhou a novidade com “o pai e a mulher”, mas há pormenores que, entre a ansiedade e a euforia da altura, escaparam com o passar dos anos. “Tive a perceção [de que seria titular] talvez dois ou três dias antes do jogo. Ou então só na véspera”, refere, em tom honesto, reconhecendo que também o discurso pré-jogo do “Special One” é já memória distante.
“Não me lembro bem [do discurso de Mourinho], mas antes de uma final não é preciso falar muito. (...) Como ele dizia, e bem, as finais não são para se jogar, são para ganhar”
“Não me lembro bem, mas antes de uma final não é preciso falar muito. Apelar à responsabilidade do que cada um tem de fazer, concentração máxima e, como ele dizia e bem, as finais não são para se jogar, são para ganhar. Acredito que tenha sido um discurso nessa base, mas certamente muito motivador”, prossegue Pedro Mendes.
“Coincidência ou não, fui para Inglaterra no início da época seguinte. Não sei se iria na mesma se não tivesse vencido [a Champions]”
Ciente de que atingiu o “expoente máximo” da carreira de um futebolista na Europa, o antigo internacional português deixa no ar a questão: a carreira teria seguido o mesmo rumo sem aquele triunfo histórico? “A final da Liga dos Campeões e disputar um Europeu são os expoentes máximos. Não disputei nenhum Europeu, só um Mundial, mas tive a felicidade de jogar a final da Champions e vencê-la. É um orgulho. No trabalho feito, em mim, em todas as pessoas que me acompanharam, todos os companheiros, a equipa e os adeptos. Orgulho no FC Porto. Coincidência ou não, fui para Inglaterra no início da época seguinte. Não sei se iria na mesma se não tivesse vencido, mas catapultou-me para outros voos”, remata Pedro Mendes.
“Depois do United, acreditámos”
Entre a fase de grupos e a final com o Mónaco, o FC Porto deixou pelo caminho Manchester United, Lyon e Deportivo e, em declarações ao nosso jornal, Pedro Mendes explica que foi após a passagem sofrida em Old Trafford, nos oitavos de final, que a chama do sonho ganhou força renovada entre os dragões.
“O Manchester United foi o maior obstáculo. Foi a vitória que nos catapultou para chegarmos à final e vencermos a prova. Depois de vencermos a eliminatória, começámos mesmo a acreditar que seria possível”, afiança.