Confrontado com um e-mail de outubro de 2015 em que Aníbal Pinto refere que poderia estar em causa um crime de extorsão, Rui Pinto admitiu que "nalgum período poderá ter sido utilizada essa expressão, ou chantagem"
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Rui Pinto admitiu esta segunda-feira em tribunal que pode ter cometido o crime de tentativa de extorsão em relação à Doyen no processo Football Leaks, ao reiterar a falta de consciência e "infantilidade" da sua conduta.
"Não tinha a devida consciência, nunca tive ideia de que aquilo poderia constituir uma tentativa de extorsão. Hoje em dia, reconheço que o comportamento que tive pode ser enquadrado num crime de extorsão na forma tentada. Mas, naquela altura, agi com a maior naturalidade", afirmou o criador da plataforma eletrónica na sessão do julgamento em curso no Juízo Central Criminal de Lisboa.
Confrontado com um e-mail de outubro de 2015 em que Aníbal Pinto refere que poderia estar em causa um crime de extorsão, Rui Pinto admitiu que "nalgum período poderá ter sido utilizada essa expressão, ou chantagem".
"Eu não estava consciencializado do significado da palavra 'extorsão'", afirmou, causando surpresa nos juízes. "Eu tenho o 12.º ano", justificou, antes de reconhecer que só lhe faltam três cadeiras para acabar a licenciatura.
"Olhando para o que está escrito [no e-mail]: 'parece configurar'... De parece até ser vai uma distância muito grande. Fazia todo o sentido discutirem presencialmente", disse.
O e-mail foi remetido a Rui Pinto no mesmo dia em que Aníbal Pinto se encontrou com Nélio Lucas e o advogado deste, Pedro Henriques, na estação de serviço de Oeiras, na A5.
O mentor do Football Leaks admitiu que foi Aníbal Pinto quem lhe pediu para desistir por escrito da alegada tentativa de extorsão a Nélio Lucas, então diretor-geral da Doyen Sports.
"O Dr. Pedro Henriques [advogado de Nélio Lucas], revoltado com a reviravolta, começou a ameaçar o Dr. Aníbal Pinto. O Dr. Aníbal Pinto ligou-me e pediu que, já que ele punha as coisas nesses termos de extorsão, tinha de haver uma desistência", contou.
"A minha desistência clara ocorreu no dia 4 de novembro [de 2015]. Só que achei que não tinha de fazer por escrito"; acrescentou.
Rui Pinto, de 33 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto de 2020, "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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