Morreu Mario Vargas Llosa, Nobel da literatura que foi ver Pelé ao Maracanã na lua de mel
Da literatura ao futebol passando pela política, todos juntos no adeus ao "mestre"
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Mario Vargas Llosa, escritor, político e académico, nascido em Arequipa a 28 de março de 1936, morreu na sua casa em Lima, onde residia desde 2022, depois de um longo percurso que o levou a viver na Europa desde os anos 90, informaram os seus filhos nas redes sociais.
Para trás fica uma vida que o levou a tornar-se um dos inovadores do romance realista, com uma biografia política e literária digna de um dos seus melhores romances.
Os familiares do autor de “Conversa n'A Catedral” e “A Festa do Chibo”, entre outros, disseram que nas próximas horas e dias irão proceder “em conformidade com as suas instruções”, que incluem a não realização de “cerimónias públicas”.
Escritores, políticos e instituições internacionais, assim como o mundo do desporto, evocaram o escritor peruano Mario Vargas Llosa, Nobel da Literatura em 2010, que morreu no domingo, aos 89 anos, descrevendo-o como um “génio”, “mestre”, “figura insubstituível” e o “coração” do ‘boom’ da literatura latino-americana.
O futebol peruano também se despediu com tristeza do escritor, “o mais ilustre adepto” do Universitario de Deportes, atual bicampeão nacional, que “lamentou profundamente” a sua morte.
Numa mensagem na rede social X, a equipa encerrou a sua mensagem com a frase “Descansa em paz, Don Mario!”, acompanhada por uma fotografia do escritor a agitar a bandeira da U, numa homenagem que lhe foi prestada no Estádio Monumental, após ganhar o Prémio Nobel da Literatura.
Também o Alianza Lima, rival clássico dos U's e a Federação Peruana de Futebol (FPF) utilizaram as suas redes sociais para se despedir do “ilustre peruano, Prémio Nobel e amante do futebol”.
O escritor peruano, grande adepto de futebol, queria ter sido futebolista, mas teve mais jeito para as artes, nomeadamente a literatura. A sua paixão pelo desporto rei levou-o mesmo a ir ver um jogo de Pelé no Maracanã durante a sua lua de mel no Rio de Janeiro.
O seu colega e compatriota Alfredo Bryce Echenique foi um dos primeiros a dizer que todo o Peru está de luto pela partida de Vargas Llosa, a quem descreveu como “o peruano de todos os tempos”, em declarações à estação de rádio local RPP.
A jornalista e escritora venezuelana Karina Sainz Borgo publicou, na sua página de Instagram, uma foto sua na companhia de Mario Vargas Llosa, escrevendo: “Muito obrigada por tudo. Pela ‘Casa Verde’. Pela imensa catedral de cada um dos teus romances. Por teres gravado na minha cabeça o intelectual dedicado à causa pública. És o último da tribo, mestre”.
Também o escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte se despediu, no Instagram, com uma foto em que está numa mesa acompanhado de Vargas Llosa, Javier Marias (que morreu em 2022) e da diretora editorial da Alfaguara, Pilar Reyes, registo de uma reunião e conversa com os “três autores mais universais” das letras espanholas, que se intitulava “Somos os últimos pistoleiros”.
A acompanhar a foto, Arturo Pérez-Reverte escreveu que “fica sempre um para contar a história, embora, no final, haja sempre outros que acabam por contar a história àquele que a conta”.
Pilar Reyes, por sua vez, expressou a sua gratidão ao escritor, através de uma publicação nas redes sociais, que diz: “Ajudou-nos a ver mais longe” e “a sua obra e o seu pensamento continuarão a iluminar-nos”.
A escritora Carmen Posadas afirmou – nas suas redes sociais – que “Mario Vargas Llosa foi e será sempre uma referência, uma inspiração, um modelo a seguir”, confessando que o que mais admirou da sua “personalidade multifacetada” foi o “seu compromisso com o tempo em que viveu, a sua coragem na defesa das suas ideias e, sobretudo, o seu amor pela liberdade”, acrescentando que, por isso, “não só a sua deslumbrante obra literária, mas também o seu legado” permanecerão.
A Fundação Gabo, criada pelo seu amigo e rival Gabriel García Márquez, lamentou a morte de Vargas Llosa, descrevendo-o como “um mestre da narrativa em espanhol e uma figura-chave da literatura latino-americana”.
A Real Academia Espanhola lamentou o falecimento do seu membro efetivo Mario Vargas Llosa e apresenta as suas condolências à sua família e amigos.
A Academia Sueca, que atribui o Prémio Nobel, recordou Mario Vargas Llosa, que galardoou em 2010, como o “o coração” do ‘boom’ latino-americano", considerando que “a sua obra reflete o seu profundo amor pela narrativa, caracterizada por uma riqueza de linguagem e uma variedade de géneros, desde livros autobiográficos e romances históricos até à ficção erótica e 'thrillers'”.
De acordo com uma publicação na rede social X, a academia reiterou a “importância” da sua figura para a literatura e cultura latino-americanas e destacou a sua “extensa obra”, que inclui mais de 30 romances, bem como peças de teatro, ensaios, crítica literária e jornalismo.
Também a Academia Francesa, da qual Mario Vargas Llosa era, desde 2023, membro e primeiro escritor de língua espanhola a aderir, se despediu com “tristeza”.
A Presidente do Peru, Dina Boluarte, e o governo, em geral, “lamentaram profundamente” a morte de Mario Vargas Llosa, que classificam como um “escritor universal e distinto Prémio Nobel da Literatura”.
O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, lamentou a morte do autor de “Conversa n'A Catedral”, definindo-o como um “mestre universal da palavra” e agradecendo-lhe o seu “imenso trabalho” com “livros fundamentais para a compreensão do nosso tempo”.
Já o Presidente francês, Emmanuel Macron, prestou homenagem a Vargas Llosa, destacando o facto de o Prémio Nobel ser membro da Academia Francesa e o valor da sua obra, com a qual “opôs a liberdade ao fanatismo”.