UM LIVRO POR DIA - "It's not about the bike", de Lance Armstrong e Sally Jenkins
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Os grandes livros, quando não são fiéis à verdade, devem ser encarados como obras de ficção. Será essa, atualmente, a melhor forma de ler "It"s Not About the Bike", o quarto dos nove livros de Sally Jenkins, reputada jornalista do "The Washington Post" que já foi quatro vezes eleita colunista do ano pela AP e no ano passado esteve nomeada para o Pulitzer.
Embora o relato dos primeiros anos da carreira de Lance Armstrong esteja escrito na primeira pessoa, as palavras, pela beleza e simplicidade das descrições, são indiscutivelmente de Sally Jenkins. Lançado em 2000, depois da conquista da primeira das sete Voltas a França retiradas a Armstrong, o livro tem alguns dos melhores relatos de ciclismo alguma vez escritos, mas faz jus ao seu título: vai além da bicicleta. Ele é sobretudo um relato da luta contra o cancro, um apelo à luta pela vida quando este tipo de obras ainda não estava na moda. Mas é também, 20 anos depois, uma forma curiosa de descobrir as motivações de Armstrong, uma personalidade de excessos e vontade férrea, mesmo quando relata as suas fraquezas no período de recuperação.
Esse Armstrong, que na altura negava o doping com veemência - "os testes antidopagem tornaram-se nos meus maiores amigos, porque provavam que estava limpo" -, é o mesmo que agora acusa, a si e a todos; aquele que no novo documentário da ESPN dá a entender ser um produto da rigidez familiar é o que em 2000 elogiava a mãe por o ter educado assim; e até o seu casamento com Kristin Richard, que lhe deu três filhos mas só durou cinco anos é, no livro, um amor para a vida. Também se provou ser ficção.