UM LIVRO POR DIA >> Mas "Os Números do Jogo" acorda-nos sobretudo - aos que andávamos distraídos - para a fatal influência do acaso em tudo o que lá sucede.
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Como convencer um leitor tradicional de jornais desportivos de que um livro sobre estatística de futebol, escrito por dois professores universitários, pode significar três ou quatro tardes bem passadas? Se citar o diretor de operações do Chelsea à altura da publicação (2013) não vou longe: em 12 ou 13 mil jogos, as equipas de observadores dele recolheram 32 milhões de pontos de informação, seja lá o que isso for.
Mas "The Number Game" [Os Números do Jogo] na tradução brasileira é tudo menos uma grande seca. Através das equações matemáticas, referidas o menos possível e sempre em termos acessíveis, Chris Anderson e David Sally vão-nos ensinando coisas fadadas a surpreender-nos, como de resto avisam logo no pós-título do livro: "Por que razão tudo o que sabe sobre futebol está errado." Os jogos de futebol são ganhos em 65% das ocasiões pelas equipas favoritas. Se passarmos ao basquetebol, essa probabilidade aumenta para 80%. Se a folha salarial do seu clube estiver acima da média do campeonato, saiba que só há 7,2% de possibilidades de descer de divisão.
Agora uma fórmula, 58"-73"-79", e uma dica: não são as medidas médias das WAG [Wifes and Girlfriends, Mulhers e Namoradas) da Liga inglesa. Se estiver a perder o jogo, é nesses minutos que deve apostar para fazer as substituições. Andando perto desses timings, conseguirá empatar ou ganhar em 40% das vezes; quanto mais se distanciar, menos possibilidades tem. Dinheiro? O "contabilista", como lhe chamam os autores, é muito mais importante para os resultados do que o treinador. Pelos cálculos deles, os gastos em salários são responsáveis pelas classificações finais das equipas em 81%.
Mas "Os Números do Jogo" acorda-nos sobretudo - aos que andávamos distraídos - para a fatal influência do acaso em tudo o que lá sucede. Conta mais do que a habilidade ou do que a inteligência. Volta Delane Vieira.