"Um dia apareceram lá uns senhores do FC Porto, queriam falar comigo e com o meu pai"
<strong>O JOGO - 35 ANOS || 1996 || A VÉNIA DE FERNANDA RIBEIRO - </strong>Depois da vitória nos Mundiais de Gotemburgo, o ouro olímpico nos 10 mil metros em Atlanta. Hoje recorda o Kolossal
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Começou a correr no Valongo, estreou-se numa prova aos nove anos de idade, em Lousada, com um segundo lugar, deixando para trás adversárias mais velhas. Mas foi com a camisola da Associação Desportiva Kolossal - clube que tomava o nome de uma fábrica de equipamentos desportivos, em Penafiel - que a colossal Fernanda Ribeiro começou a competir a nível oficial.
Foi convidada para integrar um grupo só com rapazes por Luís Miguel, o dono do clube e, ao mesmo tempo, treinador de atletismo e da equipa principal do FC Penafiel. "Devia ter uns onze anos. Era um clube muito familiar, que já me dava algumas garantias, oferecia-me os equipamentos...", recorda a campeã olímpica, que há quase 50 anos nasceu na freguesia penafidelense de Novelas.
Não havia pista de tartã, os treinos tinham lugar "no campo da feira, perto do quartel", mas também chegaram a acontecer no relvado do Estádio 25 de Abril. "Lembro-me perfeitamente de o Luís Miguel, como bom atleta, fazer questão de correr também e estar sempre na frente do pelotão. Lembro-me que os jogadores de futebol, no início da época, corriam muito no que nós chamávamos carreira de tiro e eu de vez em quando ia para lá também treinar com eles."
É com a Kolossal que se torna federada, que começa a competir a nível oficial e a ver o atletismo com olhos de futuro. Disputa as corridas da associação do Porto, começa a aparecer nos corta-matos e na pista, a somar as primeiras vitórias.
E para a história fica aquela participação na meia maratona da Nazaré, em que deu "três minutos de avanço" a Aurora Cunha, mas perdeu para Rosa Mota em cima da meta. Ao serviço do clube de Penafiel, que viria a desaparecer anos depois de Fernanda o abandonar, bateu o recorde nacional dos 1000 metros infantis e o de iniciados dos 1500 metros.
"Um dia apareceram lá uns senhores do FC Porto, queriam falar comigo e com o meu pai. Conversámos com o Luís Miguel, mas ele não queria nada que eu fosse embora. Dizia que eu era muito magrinha e que as riscas não me ficavam bem. O FC Porto, entretanto, convida-me ainda como atleta da Kolossal, para ir a uma corrida a Vigo, que eu só ia ver. Fui com eles e convidaram-me para vir ao Porto, num sábado, treinar, e eu lá fui." O resto da história já todos o conhecem, com muitos recordes, vitórias e medalhas, um percurso pleno de glória.