Zé Nando relatou a O JOGO como trabalha no emblema gaiense, a viver uma excelente fase na Liga BPI
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O JOGO esteve à conversa com Zé Nando, treinador do Valadares e uma das figuras centrais de um projeto que tem revitalizado a equipa gaiense. Com um início de temporada bastante positivo, o Valadares soma quatro vitórias, um empate e apenas uma derrota em seis jogos. O experiente treinador português, apaixonado pela bola, partilha connosco os segredos do sucesso da equipa, desde a preparação antecipada até à importância da gestão do grupo e da evolução das jogadoras.
O Valadares atravessa um momento positivo, com quatro vitórias, um empate e apenas uma derrota em seis jogos. Quais considera serem os principais fatores que contribuem para este desempenho?
-Fizemos uma preparação muito antecipada. Já na época passada começámos a preparar a esta nova temporada, do mercado à equipa técnica, ao planeamento. Tudo foi pensado ao pormenor. Outro fator importante foi a mudança para o Estádio da Lavandeira, um campo que nos oferece melhores condições de trabalho, apesar de ser sintético e jogarmos em relvado. Sabíamos que esta época ia ser complicada, até porque descem três equipas e ainda há uma que vai ao play-off, pelo que a preparação para esta edição da Liga BPI foi muito intensa, o que se reflete agora.
O Valadares é a única equipa da Liga BPI que não treina em relvado natural. Considera que isso representa um obstáculo?
-É verdade, os nossos jogos em casa são praticamente em campo neutro, mas adaptamo-nos sempre. Temos uma grande capacidade de superação e isso reflete-se no nosso desempenho. Além disso, contamos com um grupo de trabalho muito forte. Quando assim é, tudo se torna mais fácil.
Como tem o grupo lidado emocionalmente com a responsabilidade de estar no topo da tabela e com as expectativas que surgem após um início de época tão promissor?
-Essa é, sem dúvida, a parte mais difícil, e é um processo demorado. As jogadoras não estão habituadas a competir ao mais alto nível todos os domingos. Temos consciência de que a responsabilidade aumentou, mas, ao mesmo tempo, o respeito das outras equipas por nós também cresceu, algo que foi conquistado com muito esforço. Somos mais exigentes, sem permitir relaxamentos. A componente mental é realmente a mais complicada e a que leva mais tempo a trabalhar.
Os objetivos do Valadares mantêm-se inalterados ou, face aos bons resultados, foram revistos?
-Neste momento, o nosso foco é acumular pontos para garantirmos a permanência na Liga BPI. Queremos que as jogadoras evoluam e joguem com confiança. Isso não invalida que, depois, possamos rever os nossos objetivos, como já aconteceu no ano passado. No entanto, o mais importante agora é ganhar pontos e assegurar a permanência.
O Valadares apresenta a melhor defesa da Liga BPI, com apenas dois golos sofridos. Quais são as principais chaves para esta solidez defensiva?
-Eu gosto de ter equipas que dominam todos os momentos do jogo, ou até cinco, como diz o Jorge Jesus. Sou apaixonado pelo jogo. Treinamos cada um desses momentos, mas com um foco especial na defesa. Explicando melhor: a nossa linha defensiva é nova, exceto a Louisa, e tudo começa pelos alicerces, como numa casa. Como ficámos desfalcados, decidimos dar mais ênfase a esse processo. No entanto, também não descuidamos os outros aspetos, pois temos marcado muitos golos. A nossa equipa é proativa, defendemos alto e pressionamos muito, o que resulta em poucas oportunidades para os adversários.
Qual é a característica mais importante, a que considera fundamental para conquistar o balneário e criar um ambiente de trabalho saudável?
-A gestão de grupo e a gestão de pessoas são fundamentais. É importante reconhecer que o futebol praticado por mulheres é diferente do futebol masculino. Os homens têm uma formação mais sólida, começam desde os quatro ou cinco anos, enquanto as mulheres muitas vezes não têm esse mesmo percurso. As jogadoras querem evitar falhas, têm muitas dúvidas e absorvem muita informação; estão sedentas de conhecimento. Por isso, a gestão de pessoas e a empatia são cruciais para criar um bom ambiente de trabalho, até porque, como já disse, as mulheres são diferentes dos homens.
“O clube tem feito grandes esforços para se profissionalizar”
Após duas temporadas à frente do Valadares e a trabalhar no futebol feminino, Zé Nando reflete sobre a evolução do clube e destaca as mudanças que implementou desde a sua chegada ao Valadares.
“A abordagem ao jogo e ao treino, aliada a um ambiente profissional, foi o que me atraiu para cá. O clube tem feito grandes esforços para se profissionalizar. Temos melhores condições, mais recursos e, acima de tudo, um ambiente que permite às jogadoras concentrarem-se apenas na prática do seu futebol”, explica o treinador, abordando o seu percurso pessoal no clube gaiense. “Quando cheguei, virei uma página. No início, fazia muitas comparações entre o futebol masculino e o feminino, o que se revelou complicado. No entanto, agora vejo o jogo de uma forma diferente e compreendo melhor o panorama do futebol feminino através das minhas jogadoras”.