Patrícia Oliveira é uma das atletas mais antigas do Clube Albergaria, equipa da Zona Norte que apostou na renovação das infraestruturas e que está a fazer um arranque de época pautado pelo equilíbrio.
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A realizar a 11.ª época na equipa de Aveiro, a médio de 23 anos contou como tem sido esta viagem pelo mundo em que a bola é a protagonista.
A paixão pelo futebol surgiu em que altura da sua vida?
- Desde muito pequena ia com a minha mãe ver o meu pai jogar futsal com os amigos. E foi assim que começou a nascer o bichinho. Os meus pais começaram a aperceber-se que eu gostava mesmo disto e inscreveram-me numa equipa com rapazes quando tinha 7/8 anos.
Como é que foi a experiência de jogar no meio de rapazes?
- É completamente diferente de jogar com raparigas. Os rapazes dão o salto muito mais cedo do que nós, principalmente em termos de estatura, velocidade, reação e força. Eu era titular na equipa onde jogava e aos 12 anos deixei de ser por causa desse desenvolvimento que não consegui acompanhar. Até essa altura eu gostava de jogar com eles, sentia uma grande proteção. Quando mudei para o meio de mulheres foi diferente, senti que não havia tanta rivalidade.
Sempre esteve no Clube Albergaria, como é que tem sido esta passagem?
-Sim, esta é a 11.ª época. Já conheço todos os cantos à casa. Não cresci só como jogadora, cresci também como pessoa. E a razão de nunca ter mudado de clube deve-se ao facto de me sentir bem, identifico-me muito com os valores existentes.
Em algum momento pensou em deixar de jogar futebol?
-Houve um momento em que isso aconteceu, quando tive uma lesão grave há três anos. Mas quando comecei a recuperar, quando voltei a pôr-me de pé, a tocar na bola, pensei que realmente era isto que eu queria.
O futebol feminino pouco profissionalizado obriga a ter outro trabalho. Como é que faz essa gestão?
-Eu trabalho no departamento de marketing de uma empresa, mas não é fácil, nós deixamos de ter vida.
Passa a ser casa-trabalho-casa-treino. Repetir isto quatro dias por semana é cansativo. Após um dia de trabalho como é que encontra energia para treinar?
-Eu acho que tem tudo a ver com a forma como se encara o futebol. Quando vou para um treino vou fazer o que gosto. Foco-me no treino e tudo o resto desaparece. Também ajuda muito a aliviar o stress do dia a dia.
O quê que é mais difícil de gerir nesta modalidade?
-Eu acho que o que nos custa mais é mesmo essa gestão de esforço, tempo e fadiga. Eu tenho a sorte de ter um trabalho das 8h30 às 18h, mas há pessoas que têm outros horários e que são de longe. Nós acabamos o treino às 22h, e não ficámos assim com tanto para descansar depois de chegar a casa. E acho que isto é um dos pontos que mais influência tem nos jogos.
Como define este arranque de campeonato da equipa?
-Há alguns anos que já não vencíamos o primeiro jogo do campeonato. Este arranque não é mau, mas o empate com o Gil Vicente soube a pouco. E agora o último jogo, com o Valadares, também teve um sabor amargo, sobretudo pelo que nos fizeram, ao não adiarem o jogo, mesmo sabendo que nessa semana não tivemos um único treino.
O quê que se pode esperar da equipa esta temporada?
-Uma equipa competente, ambiciosa e que não vira a cara ao desafio. Tentaremos os melhores resultados, com caráter e atitude.
"Havia comentários maldosos, mas ganhei a minha posição"
Apesar de o futebol feminino estar a caminhar a passos largos para ter cada vez mais reconhecimento, a verdade é que a modalidade continua ainda a ser algo desvalorizada. Uma realidade que Patrícia Oliveira sentiu na pele. "Desde sempre tive muito apoio dos meus pais. Eles andavam comigo para todo o lado. Mas esse apoio não se estendia a toda a gente à minha volta. Havia muitos comentários maldosos. No entanto, com o tempo, dei argumentos para contrariar as críticas e ganhei a minha posição", explicou a atleta de 23 anos, salientando que "é preciso fazer as coisas por nós, para nos sentirmos realizados".